Chesterton, no livro “Ortodoxia” (Porto-Portugal, Ed. Tavares Martins, 1944, p. 64), também destacou a relação entre a democracia e a tradição popular, pelo apreço comum à sabedoria do povo, da sociedade:
“Este é o primeiro princípio da democracia: as coisas essenciais nos homens são as coisas que eles possuem em comum e não as coisas que eles possuem separadamente. E o segundo princípio é simplesmente este: o instinto ou desejo político é uma das coisas que eles possuem em comum. Estar apaixonado é mais poético do que viver entregue à poesia. Ora, a democracia sustenta que o governo (ajudando a reger a tribo) é uma coisa como estar apaixonado e não uma coisa como viver entregue à poesia (…) porque estas coisas nós não desejamos que um homem as faça, a não ser que ele as faça bem. O governo é, pelo contrário, qualquer coisa semelhante a uma pessoa escrever as suas próprias cartas de amor ou assoar o próprio nariz, porque estas coisas desejamos nós que um homem as faça para si mesmo, embora as faça mal feito. Não me proponha discutir aqui qualquer destas concepções, pois sei perfeitamente que alguns modernos muito desejavam que as suas esposas fossem escolhidas pelos cientistas, e não faltará muito para que procurem uma aia que lhes assoe o nariz. O meu fim é simplesmente dizer que a humanidade reconhece estas universais funções humanas e a democracia classifica o governo entre elas. Em resumo: a fé democrática pretende que as coisas mais terrivelmente importantes sejam deixadas a cargo do comum dos homens – o cruzamento dos sexos, a procriação, as leis do Estado. Isto é democracia e foi nisto que eu sempre acreditei. (…).
Nunca pude saber onde os homens foram buscar a estranha idéia de que a democracia se opõe, de certo modo, à tradição. É evidente que a tradição não é outra coisa senão a democracia projetada através dos tempos; é acreditar no consenso comum de vozes humanas de preferência a acreditar em qualquer arbitrário ou isolado documento. (…).
E eu não posso, de forma alguma, separar estas duas idéias de democracia e de tradição [Paidéia clássica e hebraica], pois me parece evidente que elas são ambas a mesma idéia”.
As estruturas sociais, econômicas e políticas, tal como todas as instituições, devem ser estruturas participativas, cooperativas e democráticas, tendo como finalidade a proteção e a melhoria da pessoa humana, ou seja, a melhoria da vida do povo.