Cristo, antes de morrer, explica sua concepção democrática popular de poder

Cristo, na “Santa Ceia”, instituiu a Eucaristia, o sacramento da comunhão, de vida, de bens, da destinação universal dos bens. Nesta Ceia, imediatamente antes da Paixão, despediu-se dos Apóstolos, sabendo da possibilidade da prisão, das torturas e da morte na Cruz (a mesma morte de Espártaco e dos presos políticos da época). Cristo ainda tentou demover Judas, o traidor, sempre respeitando a liberdade deste, como Deus Pai respeita a vida e a liberdade do próprio Satanaz.

Na instituição da Eucaristia, pouco antes da tortura e da morte, morte pelo poder constituído pervertido, Cristo explicitou Sua doutrina sobre o poder. Cristo, na véspera da Tortura (bem exposta no filme “A paixão de Cristo”, do católico Mel Gibson), ensinou como deve ser o poder, todo poder, inclusive o poder público.

Jesus Cristo, na Santa Ceia (retratada por Leonardo da Vinci e pelos grandes pintores), ao se referir ao poder público, resumiu, em breves palavras, a essência da concepção cristã sobre o poder.

Vejamos o registro das palavras de Cristo, como constam no Evangelho de São Lucas (22, 25-30):

“os reis das nações [pagãs] dominam como senhores (…) não seja assim convosco; mas o que entre vós é o maior, torne-se como o último; e o que governa seja como aquele que serve” (…). “vós não devereis ser assim: pelo contrário, o mais importante entre vós [com mais poderes] seja como o mais jovem [como as crianças, na simplicidade e bondade], e quem manda seja como quem serve. Quem é maior: aquele que está à mesa ou aquele que serve? Não é o que o que está à mesa? Pois eu estou no meio de vós como quem serve”.

Para ilustrar esta concepção, Cristo lavou, em seguida, os pés dos Apóstolos, mostrando como o próprio poder divino é um poder de serviço. O poder divino é um poder de ajuda, um poder que busca difundir-se pela promoção do bem comum, dos direitos humanos naturais, pela divinização das pessoas, a habitação de Deus no coração de cada pessoa. O poder deve residir no coração, na consciência, no centro, de cada pessoa. O Estado deve ser um serviçal, um ente prestador de serviços e ajuda.

Deus entregou as próprias chaves do Reino dos Céus às pessoas, como fica claro ao dar as chaves a Pedro, como primeiro entre os Apóstolos. Deus nos chama ao co-governo da Igreja, do universo, como filhos na Casa do Pai, que é também nossa Casa, nosso Olimpo. Até o julgamento final, será realizada pelas pessoas, pois Deus ama descentralizar, difundir Seu poder. 

A concepção cristã sobre o poder foi explicitada e explicada nos textos dos Santos Padres e da teologia escolástica: as “autoridades” são, na doutrina da Igreja, “vigários do povo, os que “fazem às vezes” do povo, os que representam o povo. Este ponto ficou claríssimo nos melhores textos de Jacques Maritain, autor de cabeceira de Paulo VI. O termo “vigário” significa “o que faz às vezes”, de vizir, o que representa. As autoridades devem representar o povo, servir ao povo. O Estado deve ser um serviçal. 

Os agentes públicos, para serem legítimos, devem ser meros agentes, representantes, administradores, procuradores, tutores, servidores do povo, especialmente dos que mais sofrem, pois a opção preferencial dos mais pobres está nas entranhas da Bíblia.