O que é a filosofia cristã e humana

A filosofia cristã é uma síntese aberta, um ecletismo sadio, mesclando ideias semitas hebraicas com o melhor dos outros povos. A filosofia cristã nasceu da recepção cristã (no fundo, hebraica, pois o cristianismo é o verdadeiro pensamento hebraico) da filosofia da Paidéia. Isso ocorreu pelo acolhimento das idéias verdadeiras, presentes numa mistura de platonismo, estoicismo e aristotelismo, tal como de outras correntes. A Igreja acolheu a parte que era racional e coincidia com a Revelação. Este ponto foi bem explicado por José Ferrater Mora, em seu “Dicionário de filosofia” (São Paulo, Ed. Loyola, 2001, tomo II, p. 914):

Considerado em seu conjunto, o estoicismo aparece, por conseguinte, como algo mais que uma escola e que uma “seita”; ele é, segundo Maria Zambrano, “a recapitulação dos conceitos e idéias fundamentais da filosofia grega”, o “sumo que a filosofia grega solta ao ser espremida quando alguém quer saber a que se apegar” (…); de modo análogo aos neoplatônicos, os estóicos representavam a transposição para o plano filosófico do afã comum de salvação e mesmo a expressão dessa salvação na forma de vida do sábio. (…). Os estóicos desciam ao rumo ao homem comum, de modo que o estoicismo representa um vigoroso esforço de salvação total e não apenas de desdenhoso afastamento do sábio. O aprendizado da atitude diante da morte, o sustentar-se e resistir no mar revolto da existência, podiam ser transmitidos a todos, e, se de fato não ocorreu isso em uma proporção análoga a como ocorreu no cristianismo, tal fato deveu-se a que, apesar de tudo, o estoicismo era uma filosofia popularizada e uma religião filosófica, em vez de ser um pensamento comum a todos e uma religião autêntica. Entretanto, a persistência da atitude estóica no Ocidente assinala que ela talvez seja uma das raízes de sua vida ou, ao menos, uma das atitudes últimas que o homem ocidental adota quando, tendo aparecido a crise, busca um caminho para superá-la, um ideal provisório que tenha, tanto quando possível, a figura de uma postura definitiva”.

A Igreja elaborou a filosofia cristã usando o material do melhor da filosofia da Paidéia, especialmente uma mistura de idéias de Sócrates, Platão, Aristóteles, dos estóicos e de outras fontes com o melhor do pensamento hebraico e semita. Esta mistura e o método correlato que a gerou, o método ecumênico, foi a base filosófica que formou o caldeirão cultural que permeou o nascimento do cristianismo.