O Clero, na Revolução Francesa, em prol da democratização do Estado

Houve várias estrelas de primeira grandeza, do Clero, na Revolução Francesa. Estrelas como o bispo Henri Gregório (1750-1831). Este teve grande participação na reunião das três ordens em 1789. Na Convenção, em 1792, o bispo Gregório foi o primeiro a propor a abolição da monarquia e a criação da república. O bispo Gregório também propôs a abolição da pena de morte. O bispo Gregório toi também o principal responsável pela restituição aos judeus dos direitos civis e pela abolição da escravatura, em 1794.

O bispo Gregório também defendeu a Declaração dos Direitos e a queria mais social, com deveres sociais da sociedade etc. Este bispo lutou pela igualdade civil, a liberdade de cultos e pela tolerância religiosa. Redigiu obras como “Ensaio sobre a regeneração física, moral e política dos judeus” (1789); “Discurso sobre a liberdade dos cultos” (1794); “Ensaio histórico e patriótico sobre as árvores da liberdade” (1794); “Da liberdade de consciência e do culto no Haiti”; “Da Constituição francesa do ano de 1814”; “Apologia de Bartolomeu de las Casas”; “Da literatura dos negros”; “Da influência do cristianismo sobre a condição das mulheres” (1821) e outras. Enfim, uma estrela de primeira classe, de brilho imenso e benéfico. 

O bispo Gregório ocupou cargos na rede pública de educação e criou várias bibliotecas públicas, organizou livros didáticos simples e baratos etc. Hipólito Carnot redigiu sua biografia, com o título “Henri Gregóire, bispo republicano” (Paris, 1882).

Numa atuação próxima, na época, havia o bispo Jean Baptist Gobel (1727-1794), de Paris, que defendeu a teoria da soberania do povo. Gobel disse, em boa voz, que sempre buscara “aumentar” no “povo”, o “amor aos princípios eternos da liberdade, da igualdade e da moral”.

Além do bispo Gregório, de Gobel e de outros, houve vários grandes figuras do clero que brilharam na Revolução. Especialmente o padre Sieyès, o bispo Claude Fauchet, Nicolau de Bonneville (1760-1828, autor de “Do espírito das religiões”), o bispo Antônio Pascoal Jacintho Sermet (1732-1808) e o padre Jacques Roux, o principal líder dos “enraivecidos”.

Fauchet e Bonneville fundaram o “Círculo Social” (que Karl Marx elogiou e considerou como movimento precursor ao seu movimento), inspirado nas idéias de Saint-Martin, que são extremamente religiosas, formando parte do iluminismo cristão e religioso (a maior parte do movimento iluminista era cristão e religioso, frise-se). Por exemplo, os Iluminados de Avinhão tinham como principal líder o beneditino Pernety. Este criou um rito, em 1760, que foi introduzido na Universidade de Montpellier, em 1799, influenciando José Alvares Maciel, que conspirou para a independência do Brasil.

Outro bispo que teve grande parte na Revolução Francesa e em seus desdobramentos foi Talleyrand (1754-1838). Talleyrand era bispo em Autun e tornou-se presidente da Assembléia Nacional, em 1790, tendo sido várias vezes Ministro de Estado, no Estado gestado pela Revolução Francesa. Mesmo Taleyrand teve seus méritos, tal como cometeu vários erros éticos graves. No final, acabou tendo uma boa morte, graças à mediação de Dupanloup, um dos maiores bispos do século XIX. O grande bispo Dupanloup, intérprete principal dos textos de Pio XI, inclusive do “Sylabbus”, mostrando a interpretação democrática dos textos de Pio IX, interpretação que teve a chancela do Papa. Dupanloup reconduziu Talleyrand para a Igreja, a confissão e uma boa morte, com extrema unção. Houve, ainda, milhões de leigos católicos que conciliavam perfeitamente catolicismo com a luta pela democracia. Há vários precursores do Vaticano II, como o padre Anton Gunter (1783-1863), da Congregação dos Redentoristas.

Num parêntese, até mesmo figuras turvas como Metternich e Talleyrand não defenderam a teoria do direito divino dos reis. Talleyrand e Metternich eram partidários de uma teoria consensual (jusnaturalista) de fundo histórico, flexível, parecida com a de Burke, um dos líderes do whig.

Mais tarde, houve homens como o cardeal Hércules Consavi; Sismondi (1773-1842, próximo ao catolicismo); Béranger; Buchez; Lamennais; Villeneuve-Bargemont e vários outros precursores da doutrina social da Igreja (especialmente Buchez, Ozanam e Ketteler).