A origem da filosofia cristã, segundo Marx, Engels, Bruno Bauer e outros.

Marx e Engels acataram as idéias de Bruno Bauer, sobre “a origem histórica do cristianismo”. Engels, em 11.05.1882, no jornal “Sozialdemokrat” (entre 4 e 11 de maio de 1882), publica um texto elogiando Bruno Bauer. Neste texto, discorre sobre a “investigação” de Bruno Bauer sobre a “origem histórica do cristianismo”.

Sua investigação alcançou seu ponto alto na conclusão que o judeu de Alexandria, Filon, que ainda vivia por volta de 40 D.C., mas já era muito velho, foi o pai verdadeiro do Cristianismo, e que o estóico romano Sêneca era, por assim dizer, seu tio. Os escritos numerosos atribuídos a Filon tem … origem realmente em uma fusão alegórica e racionalisticamente concebida das tradições judaicas com as gregas, particularmente a filosofia estóica. Esta conciliação de perspectivas ocidentais e orientais já encerra todas as idéias essencialmente Cristãs: o pecado inato do homem, o Logos, a Palavra, que está com Deus e é Deus e que se torna o mediador entre Deus e homem: a compensação, não por sacrifícios de animais, mas trazendo-se o próprio coração a Deus, e finalmente a característica essencial que na nova filosofia religiosa, invertendo a ordem mundial anterior, busca seus discípulos entre os pobres, os miseráveis, os escravos, e os rejeitados, e menospreza o rico, o poderoso e o privilegiado, originando o preceito para menosprezar todo prazer mundano e mortificar a carne”.

No texto acima, de verdade, há basicamente o fato do cristianismo ter nascido historicamente, e no plano humano, de uma síntese das “tradições judaicas” (Paidéia hebraica) com as “tradições gregas, particularmente a filosofia estóica”. Esta síntese está presente nos fariseus, que eram o equivalente aos estóicos gregos, como descreveu Flávio Josefo.

O texto de Engels, na seqüência, lembra que a “filosofia grega vulgar”, no sentido de popular, era o estoicismo. E que esta filosofia popular entre os gregos já ensinava pontos como “a doutrina de um Deus único e a imortalidade da alma humana”. Também ensina corretamente que no próprio “judaísmo” da época já havia uma “mistura” decorrente das relações com “estrangeiros e meio-judeus” e uma filosofia popular pautada pelo monoteísmo e a idéia da “imortalidade da alma” (especialmente entre os fariseus).

No início, nos textos dos Padres Apostólicos, tal como em alguns textos de São Paulo, há inclusive um apreço principal pelas idéias do estoicismo eclético (que cultivava também os textos de Platão e de Aristóteles), pois o estoicismo é uma filosofia aberta, ecumênica, de origem semita, que mistura idéias de Heráclito, Xenófanes, Sócrates, de Sófocles, Eurípedes, de Platão e de Aristóteles.

O estoicismo era também uma mistura e uma síntese entre as melhores idéias gregas e boas idéias da “cultura semita”, presente na região de Tarso, da Síria, em Chipre e outras regiões, que foram o berço e a base da difusão do estoicismo e dos grandes estóicos.

Nesta mistura, cozida num bom caldeirão em boa mistura e síntese com as idéias hebraicas, a Igreja elaborou idéias sobre o Estado, o direito, a política, a ciência etc. Estas idéias estão nos textos do Novo Testamento, nos Padres Apostólicos, nos Apologistas, nos Santos Padres e daí passaram para a Escolástica. Depois, reaparecem no Renascimento e formam a matéria principal do neoclassicismo, explicitando-se com a Revolução Francesa e nas idéias atuais. No fundo, é a base intelectual para a elaboração de um bom Estado popular, de uma boa República popular, com economia mista, boas estatais, distributismo, que o bom Alceu e Barbosa Lima Sobrinho descreveram. Idem para Paulo Bonavides, em seus melhores textos. 

Conclusão: há uma linha que perpassa por toda a história da Igreja. Uma linha de amor ao povo, à razão, ao corpo etc. Esta linha é o humanismo realista cristão. Trata-se do cerne da filosofia cristã, como bem apontaram Maritain e Alceu Amoroso Lima. Há, no bojo desta linha, implícito, o ideal de uma democracia popular e social, ideal presente na Bíblia e na Paidéia.