Sertillanges – Kant e Rousseau foram filósofos cristãos

Sertillanges, no livro “Le christianisme et les philosophies” (Paris, Ed. Aubier, 12ª. edição, sem data, p. 99), resume bem a relação entre a “autoridade e a lei” no cristianismo, ao ensinar que “a lei é, para a sociedade, o que a razão individual é para a pessoa”, pois “a lei é um ditado da razão, tendo como “finalidade” o “bem comum” (trata-se de razão da sociedade, formada pela união, pelo diálogo, das razões pessoais). Assim, “todo poder vem de Deus”, pois “Deus é o criador das sociedades e dos indivíduos” e “as necessidades” da sociedade são inteligidas pela “razão”. Toda autoridade, para a Igreja, é um “serviço público”, formas de prover o bem comum, de prover e atribuir bens para atender às necessidades humanas, para que todos tenham vida plena.

Na página 100 da obra acima referida, Sertillanges lembra que o cristianismo ensina o “direito de rebelião”, quando a autoridade torna-se prejudicial à sociedade. Sertillanges também destaca bem que “Kant e Rousseau” são “discípulos de Cristo”, pois “apesar de alguns erros, estes pensadores procuram o reino da razão e da boa vontade impessoal, sem egoísmo, o que quer dizer, no fundo, o reino de Deus”. Sertillanges endossa o ensinamento de Jules Lachelier, que ensinava que “a democracia coincide com a teocracia no sentido etimológico do termo”.

Conclusão: o ideal cristão e racional é o ideal do bem comum, da comunhão, da comunidade participativa, unindo, em boa síntese, a pessoa e a sociedade. Como explicou Suarez, no livro “De Legibus” (1612), o poder temporal vem de Deus pela mediação da consciência das pessoas, da consciência do povo, da sociedade organizada, que deve controlar o Estado e a si mesma.