A lição sobre Estado popular, do Papa São João XXIII – Comunhão e participação

São João XXIII lembrou que cada pessoa deve ter sua “efetiva autonomia”, “em sincera harmonia e em benefício do bem comum”. Cada sociedade deve ter a “forma” de “autênticas comunidades”, onde “os seus membros” sejam “tratados sempre como pessoas humanas”, “participantes” dos processos decisórios e dos bens, permitindo às pessoas “cultivarem melhor e aperfeiçoarem os seus dotes naturais”.

A linha de luz e vida de João XXIII é a linha do Cardeal Lercaro (o grande Cardeal vermelho da vermelha Bolonha, na Itália), de Dom Hélder e de outros expoentes da Igreja. Foi também a linha de outro grande expoente da Igreja, Dom Louis Joseph Liénart (1884-1973), Cardeal e bispo de Lille, na França.

O Cardeal e bispo Liénart era chamado de “Cardeal vermelho” (“Cardinal rouge”) ou “Cardeal dos operários” (“Cardinal des ouvriers”). O bom Liénart foi um dos grandes responsáveis pela difusão do modelo francês de Ação Católica, com base em ramos especializados inseridos. Esteve no Brasil em 1955 e influenciou Dom Hélder nos trabalhos deste nas favelas do Rio do Janeiro. O grande Enrique Dussel teceu grande elogio ao Cardeal Liénart, no livro “De Medellin a Puebla” (vol. I, São Paulo, Ed. Loyola, 1981, p. 23). O padre Liénart apoiou o movimento grevista em Lille, em 1929. Isto, gerou um ataque do empresariado da cidade. Em 1930, Pio XI ordenou Liénart como bispo e, em seguida, Cardeal (com apenas 46 anos).

No início do Concílio Vaticano II, o grande Liénart declarou “Hoc schema mihi non placet” (“esta minuta não tem meu placet, meu apoio”) e, com esta frase e bons discursos, tendo o apoio implícito de João XXIII, alterou, virou a mesa, com os demais bispos do pólo da esquerda, a estrutura do Vaticano II.

João XXIII apoiou o pólo de esquerda dos bispos. O apoio do Papa, tal como o apoio de Paulo VI após a morte de João XXIII, foi decisivo para a aprovação dos melhores textos do Vaticano II. Gerou o documento sobre doutrina social da Igreja, “Gaudium et Spes” (“Alegria e esperança”), que chancelou o melhor da doutrina social da Igreja, em prol de uma Democracia Popular, uma República Popular, Participativa, Democrática, com Estado amplo de bem estar social, boas estatais, educação e saúde públicas, ampla previdência, ampla intervenção estatal na economia por regulamentações, planos e estatais, tal como sistema tributário progressivo, anti oligarquia, economia mista, apoio estatal a agricultura e aos camponeses, apoio estatal a moradia popular, renda universal ou imposto de renda negativo (bolsa família) etc.