Um “regime justo” (ordem social justa), hoje, adquire os contornos de uma democracia social, popular, econômica e participativa. Teria uma estrutura econômica cooperativa, sendo autogestionária, com base na libertação (proibição da demissão sem justa causa, estabilidade, participação na gestão em todos os níveis e esferas, boas estatais substituindo trustes e cartéis etc). Como destacaram Alceu e Chesterton, seria uma estrutura distributista (para atender à regra princípio – destinação universal dos bens, Deus fez os bens para todos, para que todos controlem os fluxos produtivos e a natureza, o universo, como está no Genesis, nas palavras de Deus, ao criar o primeiro casal), sendo este um dos pontos centrais da doutrina social da Igreja, como pode ser visto no livro de Henri Desroches, “Le Projet Coopératif” (Paris, Les Editions Ouvriéres, 1976).
Desroches menciona precursores e expoentes do cooperativismo cristão e natural: J. Bellers, Fourier, Saint-Simon, Buchez, Owen, Louis Blanc, Ketteler, Lassale, Cabet, Huber, William King, Ludlow, Charles Kingsley (1819-1875), Charles Gide (1847-1932), Alfred Sauvy (“O socialismo e a liberdade”) e Georges Lasserre (“socializar com liberdade”). Lasserre foi professor na Faculdade de Direito de Lyon. Charles Kingsley foi um grande sacerdote anglicano, expoente do socialismo cristão, cooperativista. Outro grande anglicano foi John Frederick Denilson Maurice (1805-1872), que via o movimento socialista como uma forma de realização mais intensa do Reino de Deus na sociedade, no mundo. Os grandes trabalhistas ingleses eram quase todos cristãos, bons cristãos.
Quase todos os autores referidos tinham sentimentos e idéias religiosas, especialmente Fourier (que fundamentava suas idéias no Evangelho), Buchez, Ketteler, Sangnier, Maritain e Mounier. Pio X, Pio XI, Pio XII, especialmente João XXIII e João Paulo II (na “Laborem exercens”, 1981). Estes autores e outros expoentes da Igreja elogiaram o cooperativismo, como a melhor base econômica e política de uma sociedade. O apoio cristão ao cooperativismo é a busca de uma base econômica de uma democracia social, popular, econômica e participativa.
Os autores engajados nesta luta, gente como Charles Gide, elaboraram boas idéias cristãs e racionais sobre as bases de uma “república cooperativa”. Gide escreveu obras como “Princípios de economia política” (1884) e “História das doutrinas econômicas” (1909). Em 1919, o próprio Lênin ressaltou que o cooperativismo “é uma imensa herança cultural que devemos entesourar e utilizar”. Em 1918, escreveu: “a tarefa do poder soviético” resume-se a “estender as organizações cooperativas a toda a sociedade”. Infelizmente, isso não foi feito.