Deus atua, em regra, com mediações, pela natureza, por dentro

A Bíblia usa expressões para designar Deus, como o “Deus dos exércitos” (“Elohê há-çeba´ôth”), “Javé dos Exércitos” (“Yahwev çeba´ôth”) ou só “Javé” (“IHVH”, o Tetragrama, a palavra Javé aparece mais de sete mil vezes na Bíblia). Na “Septuaginta”, estas expressões foram traduzidas como “Deus onipotente” (cf. “Os 12,6; Am 3,13; 4,13) e “Senhor onipotente” (cf. 2 Sam 5,10; 7,8; 1 Crôn 11,9; 17,7.24) ou “Senhor dos poderes” (2 Sam 6,2.18; 1 Rs 18,15 e dezenas de outros versículos). Em alguns textos, Deus é designado como “Poder” do Céu (Sl 33,6; Dan 8,10; Is 34,4). Em todos estas expressões, fica claro que Deus age pela mediação dos Anjos e da natureza (“astros”). Há outros termos para designar a mesma idéia, como “tronos”, “dominações”, “principados”, “potestades” ou “virtudes” (cf. Rm 8,38; 1 Cor 15,24; Ef 1,21; 1 Pdr 3,22 e 2 Tes 1,7).

O Criador opera, em regra, pela mediação da criação, sendo este o modo natural e geral da ação da Providência, da ação divina no mundo. Este tema foi amplamente discutido nas teorias sobre a graça e sobre a providência.

O tomismo, o molinismo e as teorias mistas e ecléticas coincidem que o ponto central é que há a ação divina e a ação da natureza, que Deus exige a cooperação e participação ativa do ser humano, pois a ação salvífica opera por dentro, elevando e realizando a criação. Da mesma forma ocorre na questão do poder, o poder temporal público é criação humana, do trabalho humano, do povo organizado.

Como explicou Pio XII, num discurso de 15.11.1946, “o verdadeiro conceito católico do trabalho” pressupõe a “união” consensual das pessoas “num serviço comum para as necessidades do povo, “para o aperfeiçoamento” da natureza, “uma cooperação” das pessoas e das “famílias na economia pública”. O “trabalho” (a ação humana pessoal e social, os poderes humanos, inclusive o poder público) deve “prover às necessidades da vida” (cf. Leão XIII, na “Rerum”, 36).

Conclusão: a ação divina opera por mediações, especialmente por mediações humanas, por dentro da natureza. O poder público tem origem imediata na sociedade, no povo, tem como finalidade o bem comum, torna-se bom e justo, na medida em que é participativo e em adequação ao bem comum (as duas pedras de toque de João Paulo II).