A boa lição revolucionária de Paulo VI

Paulo VI, em 23.08.1968, lembrou que “as estruturas sociais” devem ser mudadas para haver justiça social (ou seja, para realizar o bem comum, da sociedade, do povo). Disse também que a forma correta para que “as aspirações do povo” (necessidades, planos etc) sejam atendidas é que estas “necessárias transformações venham de dentro para fora”, do povo (de baixo para cima, cf. Carlos Aveline e também Bakunin) para o Estado, através de “uma conveniente conscientização, uma preparação adequada e uma participação efetiva de todos”.

Na “Populorum Progressio” (1967), Paulo VI deixou claro que os povos (e o mesmo vale para as pessoas e as famílias) devem ser, cada vez mais, os “artífices do seu destino”, de forma livre e soberana, dentro do contexto da comunidade mundial, organizada na forma de uma Confederação mundial democrática. O concerto (concórdia) das nações deve gerar um Estado democrático mundial, uma Federação ou Confederação de nações, que una o mundo, banindo as armas e as guerras, organizando a cooperação para o bem comum (cf. o ideal cristão do abade de Saint-Pierre, de H.G. Wells e outros), abolindo a miséria, a devastação ambiental etc.

Paulo VI disse, também, que a ética cristã, baseada na ética natural e racional, nos manda lutar por um mundo sem servidões, sem explorações, onde as pessoas convivam livremente, controlando, em comunhão, a natureza e o processo histórico, abolindo a miséria (ver, no mesmo sentido, o plano Sendic, no Uruguai, de abolição da miséria):

Não se trata apenas de vencer a fome, nem tampouco de afastar a pobreza. O combate contra a miséria, embora urgente e necessário, não é suficiente: trata-se de construir um mundo em que todos os homens, sem exceção de raça, religião ou nacionalidade, possam viver uma vida plenamente humana e livres de servidões que lhes vêm dos homens e de uma natureza mal domada: um mundo em que a liberdade não seja uma palavra vã” (n. 47).