Toynbee – a democracia existe há milênios, pois é natural

Arnold Toynbee, no livro “Helenismo” (Rio de Janeiro, Ed. Zahar, 1960, pp. 9-10), também explicou corretamente que a democracia não nasceu na Grécia, tendo origem bem mais antiga, já nas primeiras vilas e pequeninas Cidades-estados da Ásia, tal como nas tribos antigas:

“Embora a palavra grega para “Cidade-Estado”, “polis, tenha sido adotada pelos idiomas do mundo ocidental moderno, nas palavras derivadas “política”, “politicagem”, “polícia”, as Cidades-Estados não foram uma invenção helênica. Existiam na Suméria (na bacia inferior dos rios Tigre e Eufrates), no ano de 3.000 a.C., ou seja, cerca de dois mil anos antes do nascimento da civilização helênica. As Cidades-Estados eram também características de uma civilização que existiu na Terra de Canaã contemporânea e irmã da civilização helênica. Exemplos famosos de Cidades-Estados cananeias são as cidades fenícias de Sídon, Tiro e Arado (Arvad), no litoral sírio, e Cádiz, Cartago e outras colônias fenícias no sul da Espanha e noroeste da África. E temos no Antigo Testamento a transformação do cantão de Judá na Cidade-Estado de Jerusalém, pelo rei Josias, no século VII a.C. Houve ainda um renascimento dessa instituição na Cristandade ocidental, uma sociedade afim da helênica, que começou a existir quando esta se dissolvia. Exemplos famosos das Cidades-Estados ocidentais, na Idade Média, são Veneza, Milão, Florença e Siena, ao norte e centro da Itália; Marselha, na Provença; Barcelona, na Catalunha; Bruges e Ypres, em Flandres; as cidades hanseáticas na Alemanha do norte. Na Idade Média, a Cristandade Ocidental quase se tornava uma sociedade de Cidades-Estados, tal como a Hélade. Ainda hoje, quase 500 anos depois que o Estado-nação se tornou um traço marcante no nosso mundo ocidental, o sistema administrativo da abortada Cidade-Estado medieval ainda está representado por remanescentes notáveis, como Hamburgo, Bremen, Basiléia, Genebra, Berna, Zurique e San Marino. Esta última, embora a menor, destaca-se por continuar inteiramente soberana e independente”

Toynbee deveria ter registrado que a estrutura das Cidades-Estados permaneceu, sendo a base dos Estados democráticos modernos, descentralizados, como fica patente no Brasil, onde os Municípios fazem parte do Sistema Federativo cooperativo. Uma boa República Federativa é também regionalista e municipalista, para permitir a máxima participação do povo no poder. A estrutura de Municípios, no Brasil, mostra que existiam elementos democráticos mesmo no período colonial, na estrutura das vilas e cidades brasileiras, tal como nas aldeias indígenas, na República dos Guaranis e nos Quilombos, onde Zumbi dos Palmares brilhou.