O poder legítimo nasce do diálogo do povo, das ideias do povo

O poder legítimo é o poder que nasce do diálogo, da razão discursiva, da oração, da união consensual e dialógica das consciências. O poder divino atua pelo diálogo, pelo logos, em prol do bem comum. O bom poder humano é o poder à imitação do poder divino.

A Providência opera pelo diálogo interno, pelo poder da oração, das idéias verdadeiras e consensuais. Deus age no mundo principalmente pelo diálogo. As pessoas se santificam e melhoram ao dialogarem (rezarem, meditando) com Deus e com o próximo. O mesmo ocorre com o poder público, torna-se legítimo quando é fundado no diálogo. Durante quase toda a vida, nos movemos em diálogo com Deus e com o próximo e este movimento dialógico é a base da socialização, do aperfeiçoamento pessoal, familiar e social.

Desde o início, dando continuidade às idéias semitas-hebraicas, a Igreja ensinou que o poder deve estar sujeito à lei natural, à ética. Em outras palavras, mais simples, o poder deve ser fundamentado (ter como fundamento) as idéias práticas dialógicas, consensuais, presentes na consciência do povo, intrinsecamente ligadas às necessidades reais do povo, idéias que buscam ampliar o bem geral, o bem comum.

Os cristãos, como os judeus, ao se depararem com várias nações, com os respectivos Estados, obedecem sempre às leis justas, interpretam de forma justa as leis mal feitas e, no limite, desobedecem ou fazem revoluções contra tiranias e leis iníquas. Os cristãos sempre operam para melhorarem o Estado, a sociedade, a natureza e o próprio universo.

A tese do jusnaturalismo democrático, do poder legítimo como fruto do Logos (da “lei”, do “Dharma”, do “Tao”, do Diálogo), estava presente na Tradição hebraica-semita e na Tradição da Paidéia. Por exemplo, o livro “Sêfer ietsirá” (“O livro da criação”, São Paulo, Ed. Sêfer Ltda, 2002), atribuído pelos rabinos a Abraão, ensinava que a criação toda é fruto da Palavra (das 22 letras do alfabeto e mais os dez primeiros números, totalizando 32 Caminhos da Sabedoria).

O poder legítimo nasce da Palavra, como ensinaram Heráclito, Hesíodo, Homero, Protágoras, Ésquilo, Sófocles, Anaxágoras, Péricles, Sócrates, Platão, Aristóteles, os estóicos, Cícero, Sêneca e outros. Esta concepção também está presente nos melhores textos religiosos de Demócrito e de Epicuro, pensadores que não eram ateus, frise-se. No fundo, os melhores gregos adotaram esta concepção democrática por ser racional e possivelmente por influência da Revelação, pela influência semita-hebraica, pela concepção bíblica, que ensina que o poder deve estar submetido à “lei”, às idéias presentes na consciência do povo.

As idéias da consciência do povo formam o caminho do poder, a pauta do poder. O poder legítimo é o poder vinculado à Palavra, á Lei, às idéias do povo.

O poder deve atender e prover às necessidades da sociedade. O poder legítimo é o poder que realiza a lei natural, as idéias da consciência do povo, as idéias do povo. O poder legítimo é o poder que serve ao povo, como bem resumiu Jesus Cristo. O poder, como todo ato humano, deve ser racional (dialógico, movido pela razão discursiva), para a realização das idéias necessárias à realização do bem comum.

A boa sociedade é a sociedade com estrutura cooperativa, dialógica, solidária, participativa, republicana, popular. O Reino de Deus na terra (e no Céu) é uma sociedade cooperativa, dialógica, uma união consensual, uma Comunhão de vida. A sociedade, pelo Plano divino, deve ser uma comunidade, uma Comunhão, uma grande República popular participativa.