Marilena Chauí – o termo Ekklesia, Igreja, Assembléia mostra que a Igreja adora a democracia popular

Marilena Chaui, no livro “Convite à filosofia” (São Paulo, Ed. Ática, 1995, p. 388), viu corretamente a ligação do nome “Igreja” com os lugares da democracia direta e indireta, na Grécia, entre os judeus e entre os romanos:

A comunidade é a Ekklesia, isto é, a assembléia dos fiéis, a Igreja. E esta é a designada como Reino de Deus. Povo, lei, assembléia e reino: essas palavras indicam, por si mesmas, a vocação política do cristianismo, pois escolhe para referir-se a si mesmo os vocábulos da tradição política judaica e romana”.

O termo “Igreja” significa “assembléia”. Tem várias acepções conexas, com nuanças importantes. Usado num contexto, designa a Igreja gloriosa, composta de “multidões de almas, ignoradas sobre a terra” e cujo “número ultrapassa todos os cálculos humanos” (cf. Pio XII, no “Discurso aos esposos”, em 08.05.1940), sendo que esta “multidão” é composta de “gente de toda tribo, língua, povo e nação” (cf. Ap 5,9). As pessoas foram feitas por Deus para o co-governo do universo, para participarem da gestão do universo, da natureza divina, pois Deus nos criou para a divinização, para reinarmos junto com Deus, ponto bem claro nas cartas de São Pedro, na Bíblia.

Há também a Igreja no purgatório (“guehinom”, em hebraico), a antessala, o átrio do Céu, onde devem existir mais gente ainda (na concepção ortodoxa e de Russell Norman Champlin, quase todos os mortos estão se aperfeiçoando, purificando-se, como um grande purgatório).

Os mortos no Céu e no purgatório, que é a Ante-Sala do Céu, participam mais plenamente do governo do universo, da história, ao modo dos anjos (sereis “como anjos”, diz a Bíblia), como mediadores, como protagonistas co-governantes e co-julgadores do universo. Deus sempre ouve as pessoas, especialmente as que estão unidas a si (cf. “Apocalipse”, n. 4), também sentadas em “tronos”, co-regendo, cultivando o universo, difundindo o bem, a vida. O próprio julgamento final será feito pelas pessoas, pelo povo, ponto que está claro na Bíblia, pois Deus nos criou para participarmos de Sua divindade, como Filhos, como membros de um Corpo, o Corpo de Cristo, o Corpo do próprio Deus. Fomos criados para sermos membros da Comunhão divina, da Trindade, um Deus pessoal e social, participativo.