A teologia da libertação foi aceita e promovida pelo Vaticano

A Secretaria de Estado do Vaticano, na 91ª Conferência Internacional do Trabalho, em 16.06.2003, deixou clara a adesão do Vaticano à linha do melhor da teologia da libertação:

… o verbo libertar é uma palavra forte, que significa tornar livre, tornar a pessoa humana livre, neste caso, da pobreza, um fenômeno que se pode comparar à escravidão, porque atinge profundamente o homem, na sua dignidade: o ser humano que fica desprovido do que lhe é necessário para viver é um ser humilhado, ao qual são negados os seus direitos econômicos e sociais e mesmo, nos casos extremos, o seu direito â vida.  Contudo, a pobreza não é mais uma fatalidade! Este é o motivo pelo qual libertar um homem da pobreza constitui um imperativo ético “que se impõe à consciência da humanidade” (João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1993); e a Igreja Católica, cuja missão consiste essencialmente em “servir o homem”, todo homem, ao preocupar-se pelas suas exigências da vida de todos os dias” (cf. Mater et Magistra, 2), deve estar na linha da vanguarda na luta contra a pobreza.  1.2. Além disso, aqui o verbo libertar é utilizado na sua forma pronominal. Isto significa que os pobres constituem a parte diretamente interessada neste processo de libertação, e supõe-se que participem na sua libertação da pobreza”.

O “processo de libertação” é o processo de difusão do bem comum e universal, o Plano de Deus. A libertação do mal é a promoção do bem, pois o mal é apenas a ausência do bem, como explicaram Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Fomos criados para o co-governo do universo, para sermos gestores da continuidade da Criação, sermos protagonistas da continuidade do processo da criação, pastores da criação, guardiões da Criação, do universo, para melhoria (cultivo) do universo.

João Paulo II, na “Solicitudo rei socialis” (n. 44, 30.12.1987), ensinou que é um dever ético e natural do cristão “reformar… estruturas injustas”, “em particular, as próprias estruturas políticas e econômicas, para substituir regimes corruptos, ditatoriais ou autoritários por regimes democráticos, que favoreçam a participação” do povo no poder e nos bens, criados para todos. Para criarmos um sistema econômico não capitalista, de economia mista, com boas estatais, com amplo distributismo, para assegurar e realizar o princípio da destinação universal dos bens, pois Deus criou os bens para todos (ponto chave do Projeto de Deus). 

A razão para isso é simples: todas as pessoas têm, naturalmente, poderes (energias, potencial, liberdade, subjetividade). As pessoas devem expandir seu poder e terem inclusive o poder divino, por participação, por adoção, como filhos de Deus.

O poder público é a síntese do poder de cada pessoa, poderes combinados mediante o diálogo, unificando a sociedade, criando um poder público racional e pautado pelo bem comum (cf. lição de Romano Guardini e seu discípulo, o padre Bernhard Häring). O padre Romano (1885-1968) escreveu boas obras nesta linha democrática e popular cristã. Obras como “Liberdade, graça e destino” (1958), “O mundo e a pessoa” (1963), “O poder” e “O Senhor” (1964).