A democracia sempre existiu entre os povos, pois é a forma de governo mais natural

Enrique Dussel, no livro “Política de la liberación” (Madrid, Ed. Trotta, 2009, vol. II, p. 414), resume a difusão dos governos democráticos, desde o início das primeiras civilizações, nos diversos povos, tanto nas aldeias, vilas, como nas diversas cidades-estados na Mesopotâmia, na Fenícia, no Egito e, depois, na Grécia:

Como temos descrito aqui, o Princípio democrático não é eurocêntrico – vale a pena recordar que a palavra “demos” é egípcia, de língua copta, e, segundo a tradição do Sul, bantu – e permite aplicá-lo de maneira analógica não só a cidadãos singulares, e sim, também a nações (…).

É verdade que o sistema empírico onde cada cidadão… conta como um voto na assembléia ou na votação da comunidade ampliada, nasceu nas primeiras grandes cidades da Mesopotâmia, perto do Oceano Índico e no Mediterrâneo, floresceu no Egito e entre os fenícios, estendeu-se pela Grécia e pela Hélade, no Império Bizantino, em Veneza ou Gênova orientais, para culminar no parlamentarismo inglês ou a Constituição norte-americana, globaliza-se rapidamente desde a metade do século XX. No entanto, esse Princípio não é europeu. O que são europeus ou norte-americanos são os modelos de democracia dominantes, que frequentemente são confundidos com os sistemas empíricos concretos de algumas destas nações. Para nós, então, deve-se distinguir entre a universal normatividade do Princípio democrático e os modelos que foram formulados teoricamente, e os sistemas que foram implementados historicamente. Nem os modelos nem os sistemas são imitáveis tal e qual; é sempre necessária sua transformação para aplicá-los a partir das circunstâncias concretas (históricas, geográficas, culturais), de cada comunidade política”.

Como apontou Dussel, existiam elementos de democracia nas antigas aldeias (comunidades gentílicas, de Marx), nas “grandes cidades da Mesopotâmia”, perto do Oceano Índico, ao longo do Mediterrâneo, nas vilas do Egito, entre os fenícios e daí a democracia passa, por difusão e por causas endógenas, para a Grécia, para Roma, para o Império Bizantino, permanecendo na revolução das comunas, nas cidades Estados da Itália e da Alemanha etc.