Frederico Engels (1820-1895), no ano em que faleceu, quase como um canto de cisne, redigiu um prefácio, datado de 06.03.1895, à edição do livro de Marx, “A guerra civil na França”. Neste prefácio, Engels compara o cristianismo primitivo, movimento precursor, ao florescimento do movimento sociaista:
“Há quase 1600 anos, no Império Romano, atuava também um perigoso partido subversivo. Esse partido minava a religião [os elementos de idolatria] e todos os fundamentos do Estado [os fundamentos maus, escravocratas etc]; negava sem rodeios que a vontade do imperador fosse a lei suprema; era um partido sem pátria, internacional, que se estendia por todo o Império desde a Gália à Ásia e mesmo para lá das fronteiras imperiais. Durante muito tempo atuara às escondidas, sob a terra. Todavia, já há muito tempo que se considerava suficientemente forte para aparecer à luz do dia. Esse partido subversivo, que era conhecido pelo nome de cristãos, tinha também uma forte representação no exército; legiões inteiras eram cristãs. Quando lhes ordenavam que estivessem presentes nos sacrifícios rituais da igreja oficial pagã, para aí prestarem as honras, esses soldados subversivos levavam o seu atrevimento tão longe que, como protesto, punham no capacete uns distintivos especiais: cruzes. Mesmo os vulgares castigos dos quartéis pelos seus superiores não surtiam qualquer efeito. O imperador Diocleciano já não podia assistir tranquilamente ao minar da ordem, da obediência e da disciplina dentro do seu exército. Interveio energicamente porque ainda era tempo para isso. Emitiu uma lei contra os socialistas, digo, uma lei contra os cristãos. Foram proibidas as reuniões de subversivos, os locais de reunião encerrados ou demolidos, os símbolos cristãos, cruzes, etc, proibidos, como na Saxônia os lenços vermelhos. Os cristãos foram declarados incapacitados para ocuparem cargos públicos, e nem sequer podiam ser cabos. Como nessa altura não se dispunha de juizes tão bem amestrados no respeitante à “consideração da pessoa” como o pressupõe o projeto de lei contra a subversão do senhor Herrn von Köller, proibiu-se sem mais rodeios os cristãos de defender os seus direitos perante o tribunal. Mas até esta lei de excepção não teve êxito. Os cristãos arrancaram-na dos muros, escarnecendo dela, e diz-se mesmo que deitaram fogo ao palácio, em Nicomédia, nas barbas do imperador. Este vingou-se com a grande perseguição aos cristãos do ano 303 da nossa era. Foi a última no seu gênero. E foi tão eficaz que dezessete anos mais tarde o exército era composto predominantemente por cristãos e o autocrata de todo o Império Romano que se lhe seguiu, Constantino, chamado pelos padres o Grande, proclamou o cristianismo religião de Estado”.