Há o direito de livre discussão na Igreja, sendo algo saudável, bom e natural

Sêneca, no livro “Dos benefícios” (XI, XXXIII, 2-3), destacou bem a linha dos estóicos e dos platônicos médios: “a certeza absoluta” é rara, “pois a descoberta da verdade é difícil”, por isso, nas questões práticas, “seguimos o caminho que a verdade provável mostra”, “todas as coisas da vida procedem desta forma”, “seguimos aonde nos leva a razão” (“qua ratio”), o “eulogos”, as idéias práticas razoáveis e adequadas à natureza em geral e a nossa natureza racional especificamente. Para abreviar tudo, seguimos a fórmula do bem comum, que une natureza e razão (logos, a via discursiva, dialógica). Como explicou Pio XII, num bom discurso na Rota Romana, quase todo julgamento humano é baseado apenas na certeza moral, relativa, basicamente em decisões com grande grau de possibilidade, sendo esta a base do bom probabilismo, que é corrente majoritária na ética católica (cf. Bernard Haring). 

Conclusão: a “livre discussão” deve reger os assuntos públicos. Pio XI, em novembro de 1928, explicou bem que “é perfeitamente permitido aos católicos divergir de opinião nas questões controvertidas”, pois a “livre discussão” auxilia no esclarecimento das questões. O diálogo é a via pela qual elaboramos idéias práticas úteis e verdadeiras. Há a mesma doutrina em Leão XIII, na “Sapientiae Christianae”, “no domínio da política” é “legítima” a existência de “lutas de opinião”, para “fazer prevalecer, na prática, idéias que” possam “concorrer melhor que outras para o bem geral”. O próprio método escolástico, bem expresso por São Tomás de Aquino, expõe tudo na forma de questões, colocando os prós e os contras, balanceando, na forma de um DIÁLOGO entre correntes opostas, sendo o Diálogo (a verdadeira Dialética) a base do conhecimento humano, mesmo teológico.