A democracia, na lição de Bento XVI

Bento XVI, no documento “Europa”, elogiou as decisões consensuais, nascidas do diálogo, o acervo e o poder da sabedoria popular, como a via mais sensata que, em geral, assegura e promove o bem comum:

A decisão da maioria é, provavelmente, em muitos casos, a via mais sensata para chegarmos a soluções comuns. Mas, a maioria não pode ser o princípio final, pois existem valores que nenhuma maioria tem o direito de suprimir. A matança de inocentes não pode jamais se tornar um direito e não pode ser elevada à categoria de direito por nenhum poder. Também aqui, em última instância, se trata da defesa da razão. A razão moral é superior à maioria. Mas como pode ser reconhecidos esses valores, que constituem os fundamentos de cada política razoável, moralmente justa e representam, portanto, uma obrigação para todos, para além de qualquer reviravolta nas maiorias? Quais são esses valores? A doutrina do Estado, seja na antiguidade, na Idade Média ou mesmo nos contrastes da época moderna, apelou ao direito natural, que a recta ratio [“reta razão”, a razão pautada por idéias verdadeiras] podia reconhecer”.

A Igreja, como fica claro nos textos de Leão XIII e da Tradição, defendeu a liberdade política dos católicos e das pessoas. De fato, a rainha da sociedade deve ser a lei natural, ou seja, as idéias práticas do povo. Este ensinamento faz parte intrínseca do melhor do platonismo (exposto no livro “As leis”), do aristotelismo, do estoicismo e está na Bíblia, sendo também a base do sistema “common law” e do sistema jurídico continental europeu. A soberania da “lei” é a soberania das idéias do povo, da consciência sobre o poder.

A doutrina social da Igreja sobre o poder foi ensinada por todos os Santos Padres e foi detalhada por Leão XIII e expressa com mais vigor e clareza por João XXIII. Leão XIII cercou-se de grandes estrelas democráticas, como o Cardeal Rampolla, o grande Cardeal abolicionista e pró-republicano Lavigerie, o Cardeal Newman, o Cardeal Mercier, o Cardeal Manning, o Cardeal James Gibbons, Dupanloup, São João Bosco e outros grandes luminares da Igreja. São João Bosco viveu seus últimos dez anos na gestão de Leão XIII, um papa que foi muito elogiado por Zola, por Eça de Queiroz e outros grandes autores.