A pessoa humana tem EMOÇÕES PAIXÕES, pela eternidade, como Deus…A ética é o conjunto das ideias dialógicas e criativas para a realização do bem comum, para a conservação e melhoria (evolução) da Natureza, para beneficiar todos (toda ética é socialista e democrática). A ética é a organização-direção inteligente, natural, emotiva e instintiva da VIDA

João Paulo II (cf. 25.10.1978) lembrou que João Paulo I e João XXIII chamavam as sete virtudes ( as tres teologais e as quatro cardeais) de “sete lâmpadas”da vida.

A ética é apenas o conjunto das ideias práticas para assegurar a VIDA PLENA E ABUNDANTE DE TODOS. Por isso, toda ética (moral) verdadeira é democrática, socialista, comunitária, popular.

Como ensina a Bíblia, Deus é Amor, Deus sempre busca VIDA PLENA E ABUNDANTE para todos. Toda a ética é socialista, popular, democrática. 

Platão ensinou que o ser humano tem uma alma e um corpo, unidos, pois a alma não é um nada, uma não-matéria, e sim algo existente, diferente da matéria, mas que foi feita para viver imersa e controlando a matéria. A alma humana tem três partes: a razão e a parte sensível, dividida em apetite concupiscível e irascível (cf. “República”, IV, 439-40).

Aristóteles, nos livros “Da alma” (II, 2, 413), “Ética a Nicômaco” ( VI, 1,1139) e “Política” ( 1133 a.), explicou melhor ainda: a alma tem uma parte vegetativa, ligada aos instintos, à nutrição e à reprodução. Tem uma parte sensitiva, dividida em concupiscível e irascível. E tem uma parte dianoética, dividida em inteligência (o que inclui a memória, a imaginação e emoções) e a vontade (apetite racional).

O Universo é CRIAÇÃO divina, CRIAÇÃO em curso, pela ETERNIDADE, pois a Parusia não elimina o Universo, e sim une o Céu (Deus) ao Universo, divinizando tudo, tornando tudo melhor. Cada pessoa vai viver eternamente.

O inferno é apenas um lugar no Universo para quem não gosta de Deus, e O rejeita, pois Deus não rejeita ninguém. Quem odeia Deus, Deus não o mata, mantém na vida, e o respeita, permitindo viva sem diálogo com Deus, o que é uma DESGRAÇA, mas não é a NÃO EXISTÊNCIA.

Fomos criados para o co-governo do universo, para a co-criação do universo, co-redenção do Universo, para a destinação universal dos bens, de tudo, para o controle ativo de todos os processos produtivos do Universo, para a HUMANIZAÇÃO do Universo, a criação da NOOSFERA (cf. Teilhard, Bergson e outros). 

O bom Aristóteles explicou corretamente que virtudes são boas ideias, boas regras práticas de vida, bons hábitos, boas condutas (concreções das referidas ideias práticas).

Aristóteles explicou:

A virtude é portanto uma disposição adquirida voluntária, que consiste, em relação a nós, na medida, definida pela razão em conformidade com a conduta de um homem ponderado. Ela ocupa a média entre duas extremidades lastimáveis, uma por excesso, a outra por falta. Digamos ainda o seguinte: enquanto, nas paixões e nas ações, o erro consiste ora em manter-se aquém, ora em ir além do que é conveniente, a virtude encontra e adota uma justa medida. Por isso, embora a virtude, segundo sua essência e segundo a razão que fixa sua natureza, consista numa média, em relação ao bem e à perfeição ela se situa no ponto mais elevado”. (Ética a Nicômaco, II, 6)

A virtude é uma síntese, mais elevada, entre dois contrários, ponto que Hegel aprendeu com Aristóteles. Há onze virtudes, e há cerca de vinte e dois vícios, que são exageros a mais ou a menos. Por exemplo, a coragem fica entre a temeridade (vício de exagero) e a pusilanimidade (covardia, falta, negação, ausência, existência a menor da coragem). As virtudes são movimentos equilibrados, entre extremos ruins, são boas sínteses, que mantém o melhor dos dois lados, numa síntese superior.

A pessoa boa é uma pessoa equilibrada, dialógica, razoável, racional, culta, educada, gentil, que pauta a vida pelo bem comum, que organiza suas ações, para que tudo flua para o bem de todos, para o bem (florescimento, prosperidade) da sociedade (sua própria prosperidade, de sua família, de seus amigos, da vizinhança, de seu bairro, cidade, estado, região, nação, continente, do mundo, do Universo). 

As virtudes são boas medidas, boas sínteses entre atos contrários, bons equilíbrios. A ética é a vida em equilíbrio, em harmonia, o movimento em equilíbrio, em harmonia, como uma boa música, entre contrários, opostos. E foi Aristóteles quem formulou as ideias dos contrários, Aristóteles é o pai da Dialética, sendo elogiado no livro “O capital”, de Marx. Aristóteles foi quem formulou a ideia de que o movimento quantitativo gera saltos qualitativos, mutações (ver o livro sobre mutações, de Aristóteles).

Hegel se baseou em Aristóteles, nos estoicos, nos pitagóricos, nos melhores textos de Platão. Os melhores textos de Epicuro também se baseiam em Aristóteles, o filósofo preferido dos católicos, dos judeus filosóficos e dos muçulmanos. 

Tomás de Aquino, na “Suma Teológica” (São Paulo, Ed. Loyola, 2005, pp. 159), na I-II, q. 60, artigo 5, ensina que as “virtudes morais” distinguem-se pelo critério dos objetos das paixões, são pulsões, emoções que se movem pelo leito natural da razão. Vejamos o texto:

fica, assim, muito claro que, para Aristóteles, há dez virtudes morais que dizem respeito às paixões, a saber: fortaleza, temperança, liberalidade, magnificência, magnaminidade, filotimia [“amor da honra”], mansidão, amizade, verdade e eutrapelia. E estas essas virtudes se distinguem conforme à diversidade das matérias, ou pelas diversas paixões, ou pelos diversos objetos. Se se acrescenta a justiça, que diz respeito às ações, serão, ao todo, onze virtudes”.

As virtudes morais são regras (IDEIAS PRÁTICAS, DIALÓGICAS, RAZOÁVEIS, logos) para ordenação, organização, estruturação, para o movimento natural, o bom fluir da VIDA, das emoções, das paixões (“pathos”), das condutas, dos atos….

As quatro virtudes cardeais, principais, são a Prudência (SABEDORIA PRÁTICA), a justiça, a temperança e a fortaleza. São ideias socialistas, pois todas visam ao bem comum, são ideias práticas para o bem comum.

A sabedoria prática (prudência) é a escolha concreta de opções para realizar o bem comum. A justiça são regras práticas para o bem comum (que é o bem de cada pessoa, cada família e da sociedade, ideia socialista). A temperança é regrar as pulsões pro prazer para nossas condutas geraram o bem da sociedade, o bem comum. A fortaleza é saber enfrentar o sofrimento, as dores, a depressão, continuando a viver, a pautar a vida pelo bem comum.

As quatro virtudes, como as onze virtudes, são todas ideias socialistas para o bem comum, o bem da sociedade.

Toda a ética tradicional, do melhor da Paideia, coincide com a ÉTICA HEBRAICA, do bem comum.

O Cristianismo é a mesma ética hebraica, aberta ao melhor da ética da Paideia, a toda ética humana, a todas as melhores ideias de cada pessoa, cada cultura etc. 

A tradição aristotélica dividiu as paixões em paixões do apetite concupiscível e paixões do apetite irascível.

As paixões do apetite concupiscível são: o amor, o ódio, o desejo, a aversão, a alegria e a tristeza.

As paixões do apetite irascível são: a audácia, o temor, a esperança, o desespero e a cólera (ira). Onze paixões. A lista está no livro “Retórica”, livro II. Onze virtudes, onze paixões. As paixões são emoções, são pulsões, cujo movimento é bom em si, dado que o movimento natural das emoções tende a ser natural, racional, social.

O ser humano foi criado bom, e permanece bom, em si, e a religião visa conservar e melhorar a natureza humana e a NATUREZA GERAL, e nunca destruir a natureza.

Rousseau estava certo, a apenas deu continuidade às ideias não quietistas, não maniqueístas, não jansenistas, de Inocêncio XI e outros papas, de Bossuet e do melhor da Tradição católica, humanista, pro vida, pro emoções, pro imaginação, pro romantismo, pro natureza, unindo graça e natureza, pois a graça visa a perfeição (conservação e melhoria da natureza, e nunca suprimir a natureza, o Universo, a Vida). 

Platão, no “Timeu” (69 d) enumerava cinco paixões fundamentais: o prazer, a tristeza, o medo, a esperança e a ousadia.

Basicamente as mesmas listadas por Descartes, no Tratado das paixões, e também por Spinoza, em sua ètica, cujo núcleo é baseado no melhor da Paideia, da Tradição hebraica e cristã (Spinoza amava Cristo, e elogia Cristo, em seus textos). Spinoza era religioso, nunca foi ateu. O mesmo para Goethe, Hegel e Diderot (que morreu estoico, seguindo o grande SENECA, pensador sempre amado pela Igreja, praticamente cristão, como mostrou Tertuliano). 

Os estóicos escreveram vários tratados com o título “Das Paixões”. Há as obras perdidas, mas com trechos relevantes, de autores estóicos como Zenao, Crisipo, aristão, Esferos, Hecatao, Herilo e outros.

Os estóicos listaram quatro paixões (o “tetracórdio”, cf. São Clemente de Alexandria, em “Tapeçarias”, II, XX, 108); a tristeza (“lýpe”), o medo (“phóbos”), o prazer (“hedoné”) e o desejo (“epithymía”).

O “Compêndio do Catecismo da Igreja Católica”, fiel à Tradição, define as paixões como:

“os afectos, as emoções ou os movimentos da sensibilidade – componentes naturais da psicologia humana – que inclinam a agir ou a não agir em vista do que se percebeu como bom ou como mau. As principais são o amor e o ódio, o desejo e o medo, a alegria, a tristeza e a cólera. A paixão fundamental é o amor, provocado pela atracção do bem.” (n. 370).

Ainda segundo a doutrina católica, “as paixões não são nem boas nem más em si mesmas: são boas quando contribuem para uma ação boa; são más, no caso contrário.” Logo, elas são boas quando naturais, em boa harmonia com a razão e a natureza.

As paixões (emoções, pulsões, como os instintos, o corpo, o prazer etc) devem ser assumidas, guiadas e ordenadas pelas virtudes (ou seja, pela razão, regras racionais dialogais para o bem comum, para a perfeição conservação da natureza, cf. Santo Agostinho), ou pervertidas e desorientadas pelos vícios (n. 371), que são ideias ruins, maléficas, de destruição da natureza.

As emoções são ligadas a neurotransmissores. Donatella Marazziti, no “Livro Natureza do Amor”, ensina corretamente que a paixão se caracteriza, do ponto de vista biológico, por uma liberação contínua de alguns neurotransmissores como Endorfinas, Dopamina, Acetilcolina, Noradrenalina, oxitocina, vasopressina, serotonina, a melatonina (hormônio) e outros fluidos do corpo.

Galeno, um grande médico monoteísta, sempre amado pela Igreja e pelos muçulmanos, tinha razão ao associar o corpo às emoções, os fluídos, os humores, ponto que Descartes também destacou. Por isso, a solução das drogas não passa pela proibição, e sim pela criação de drogas benéficas, que tenham o lado de prazer das atuais, mas sem os danos.

Bernhard Häring, no livro “Livres e fiéis em Cristo” (São Paulo, Ed. Paulinas, 1979, volume I, p. 73), lembra a boa lição de Max Scheler, um grande católico socialista, que não há vida e santidade sem emoções, sem paixões, pois a santidade é a conservação e a melhoria da vida humana, do corpo, da natureza, do universo, ponto bem ensinado por Alceu.

Vejamos o texto de Haring, que tem a mesma matriz democrática popular e socialista de MARCIANO VIDAL, um dos melhores teólogos morais da Igreja, continuador dos textos luminosos de Santo Afonso de Ligório, Doutor da Igreja:

Max Scheler estava certo quando insiste, através de seus livros, em que, divorciado do espírito, o instinto humano (tudo o que corpo-alma dirige e estimula) se torna selvagem e passa a ser destrutivo; e é igualmente verdadeiro que, divorciado das emoções, paixões e afetividade, o espírito torna-se impotente e absolutamente não-criativo”.