A COMÉDIA diabólica dos Bolsos, humor macabro e cheirando a morte…

Olavo entra no ‘inferno astral’ de Bolsonaro. É a maldição de Montezuma?

O astrólogo Olavo de Carvalho poderia usar seus conhecimentos místicos para explicar o inferno astral em que se meteu o ex-capitão nos últimos dias e que acabou arrastando também a ele, guru do novo governo, nos problemas técnicos de sua planejada teleconferência para a chamada “Internacional Fascista”, evento que se promoveu ontem em Foz do Iguaçu, com nome pomposo – Cúpula Conservadora das Américas – e plateia esvaziada.

Na Piauí, Rafael Martins faz uma mordaz narrativa do encontro, que vale a pena ser lida na íntegra, mas que não resisto a transcrever, em parte, para os leitores e leitoras deste blog. Divertida, sim, mas algo assustadora, porque do pouco que se pôde ouvir do guru, a proposta é que sejam como Hernán Cortés, o dizimador dos astecas.

Por enquanto, porém, as palavras parecem ser mesmo o produto da “Maldição de Montezuma”.

Olavo interrompido

Rafael Moro Martins (trecho)

“Quero ver nosso professor Olavo de Carvalho. Iríamos iniciar [o debate] com ele, mas está havendo um problema na conexão”, anunciou [Eduardo] Bolsonaro, que fez o papel de mediador, causando alguma frustração no público. Enquanto tentava-se resolver o problema, o filho do presidente eleito passou a palavra a Orleans e Bragança. “O que está havendo no Brasil e no mundo é um movimento dos valores do campo contra os valores progressistas dos grandes centros urbanos”, disparou o monarquista, de certa forma endossando a opinião do jovem Matheus Simon.

Vinte minutos depois, finalmente a imagem de Olavo de Carvalho surgiu em dois telões que ladeavam o palco. Ouviram-se gritos e aplausos na plateia. “É uma satisfação falar com o senhor”, saudou Eduardo Bolsonaro. A resposta, porém, não foi inteligível. “[O som] Está estranho, dando um eco”, preocupou-se o jovem Bolsonaro. Após o que aparentou ser uma melhora, novos gritos de empolgação da audiência.

“Um evento desses não seria possível há cinco anos”, começou a falar o filósofo, ao mesmo tempo em que sacava um lenço de pano do bolso para – sonoramente – assoar o nariz. Risos na plateia.

O guru falava rápido. Não seria fácil acompanhá-lo com o som em boas condições. Com a voz distorcida pela internet, ficou ainda pior. Nos poucos minutos em que esteve audível, Olavo de Carvalho foi a tradicional metralhadora de pensamentos “politicamente incorretos”, como gostam de dizer seus seguidores. Zombou da Comissão de Verdade que tratou dos crimes da ditadura militar – “A começão (sic) da verdade foi uma farsa” – e pediu para que o governo Bolsonaro aja com a oposição como o conquistador espanhol Hernán Cortés fez com os astecas. Não se aprofundou, porém, se o plano era de extermínio ou subjugação.

Temos que matar até o último, senão os pequenininhos vão crescer”, falou, supostamente citando Cortés. Em seguida, mirou um alvo já tradicional: “A prioridade agora tem que ser a mídia e as universidades. A produção cultural do Brasil foi 100% dominada pelos comunistas desde os anos 1960. Temos que investigar tudo, sobretudo as empresas de comunicação, que por 16 anos negaram a existência do Foro de São Paulo. Temos que derrubar essa hegemonia de qualquer maneira. Senão vão destruir o governo que o Brasil escolheu”, exortou.

Foi aí que o som voltou a piorar. As frases de Olavo de Carvalho vinham picotadas, como se ele falasse à maneira que Jorge Ben cantava na segunda parte de “País Tropical” (Mó num pa tropí/Abençoá por Dê/E boní por naturê). “Está muito ruim”, gritou um rapaz poucas cadeiras à minha direita, reclamando do som. Algumas pessoas ignoraram o guru e começaram a conversar. Nos Estados Unidos, ele levava à boca um copo dos que se usam em botequins para servir cachaça, cheio de um líquido de cor âmbar. Algumas pessoas riram, constrangidas.

A fala do guru foi interrompida por ali. Mas não sem um fecho à altura de sua participação. “Vou desligar essa porra”, disse Olavo, se referindo ao microfone, enquanto Eduardo Bolsonaro já fazia uma pergunta ao cubano Gutierrez. Novas gargalhadas.