Economia socialista de mercado, economia mista, amplo Estado do Bem estar social, estatais, planejamento público, Democracia popular participativa, esta mistura é a marca das Fórmulas da Igreja

O melhor sistema é uma boa mistura entre sociedade civil, mercado e Estado.

A mistura que defendemos é uma síntese, que combina Distributismo (casas para todos, renda para todos via Renda básica), economia mista (economia socialista de mercado, estatais para os grandes meios e bens produtivos), amplo Estado do Bem Estar social (combinando o melhor que existe nos países escandinavos, França, Itália, Irlanda, Austrália etc), Democracia Popular Participativa (combinando democracia direita e indireta, nos moldes que Dalmo Dallari e Fábio Konder Comparato esboçam), economia solidária etc  

Esta mistura foi delineada por Franz Oppenheimer.

A Igreja aprecia textos de grandes caras, como Márcio Pochmann, Ladislau Dowbor, Haddad, Suplicy, tal como aprecia os GRANDES GARANTISTAS PENAIS, a base teórica da Pastoral Carcerária etc. E por isso a Igreja ama os grandes autores do campesinato, que inspiram o MST.

A China, HOJE, com a economia mista, é parecida com o Japão, de 1870 em diante (menos a militarização e o imperialismo), ponto que o grande católico Barbosa Lima Sobrinho demonstrou, tal como um historiador católico o fez, antes, lá por 1920. 

Economia mista foi o segredo do desenvolvimento da Alemanha, especialmente no século XIX até antes do nazismo, e depois, de 1949 a 1963, a era dourada da Democracia Cristã, em boas alianças com os socialistas democráticos.

Este modelo foi chamado de “capitalismo de Estado” (economia mista), e era basicamente o modelo de Lenin, principalmente com o NEP, o modelo que Bukharin quis desenvolver, e que teria mantido a URSS, numa trilha em aliança com o Trabalhismo, o catolicismo, os Socialistas democráticos, o New Deal etc.

O mesmo para a Itália, nas boas alianças entre Democracia Cristã, Socialistas e até com o PCI.

Da mesma forma, houve economia mista no protecionismo dos EUA, de Lincoln até o New Deal, até o governo de Kennedy, também até 1963, tendo Matheus e Henry Carey, como teóricos católicos. Os EUA se desenvolveram com amplo setor público, economia mista, ativos públicos, participação estatal, e não com base no capitalismo puro.

A economia não pode ser separada do Estado, e isso foi bem provado por Hans Kung, em obras como “Uma ética mundial para a economia e a política”, e Karl Polanyi (1886-1964), no livro “A grande transformação” (1944).

Lembro que autores neoliberais como Ludwig von Mises (1881-1973) e Friedrich August von Hayek (1899-1992) atacaram a ética social católica, como anti capitalista.O mesmo fizeram Milton Friedmann, e também Gudin e Roberto Campos, no Brasil.

O mesmo fizeram autores como Max Weber, no livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, e também Werner Sombart, no livro sobre os judeus e a ética econômica.

Max Weber e Sombart criticaram a ética católica como anti capitalista, e estavam corretos.

A ética católica quer economia de mercado, mas mercado controlado, pautado pelo Estado e pela ética, com distributismo e amplo Estado social. E por isso muitos católicos sempre apreciaram a escola “mercantilista”, no ponto em que estava defendia ampla intervenção estatal na economia (ver textos de Paul Hugon, sobre isso).

A Igreja nunca endossou os erros dos liberais e dos neoliberais, muito menos dos marginalistas. 

Os melhores exemplos de economia mista ocorreram na Noruega, Dinamarca, Suécia, mesmo Canadá, Irlanda, Austrália, os países de maior IDH do mundo.

O mesmo vale para o Trabalhismo inglês, onde os católicos se filiavam em massa, com autorização de Roma, tal como os católicos se filiavam em massa na esquerda do Partido Democrático, nos EUA, especialmente no New Deal e até Kennedy, e isso volta aos poucos a ocorrer hoje, na luta contra o Tea Party. 

Como explicou Hans Kung (ainda que de forma aguada), nós, católicos, queremos o Estado do Bem Estar ampliado (Estado social, nos termos de Paulo Bonavides), com economia mista, e o máximo de Democracia Popular Participativa.

Este modelo misto foi defendido pelos primeiros socialistas cristãos pré-Marxistas, antes de Marx, tal como pelos grandes expoentes da Doutrina social da Igreja.

Está consagrado nos melhores textos sociais papais, especialmente os textos de João XXIII e Francisco I.

A síntese que defendemos estava também nos melhores textos dos socialistas de cátedra, inclusive em seus precursores, como Sismondi, ou Buchez, mas também Mably, Morelly e Buonarroti (os autores do babovismo, com origens católicas, na ética católica e em textos como o de Morus e Campanella). 

Depois, o mesmo conjunto de textos volta com Buchez, Ketteler, tal como havia o mesmo conteúdo nos textos de Franz von Baader (textos de 1837 e antes, contra os erros de Ricardo e Adam Smith), os Brentano (inclusive Lujo Brentano), Karl Rodbertus (textos antes de Marx) e outros.

Os socialistas de cátedra trabalham com os grandes católicos sociais, como Ketteler, e homens como Rupert Meyer, que escreveram sobre o “socialismo católico” e a obra de Meyer é citada inclusive no livro “O Capital”, de Marx.

Esta mesma linha está em Karl Rau, Knies, Gustav Schmoller e é bem condensada em Adolf Wagner.

O mesmo Adolf Wagner que é elogiado reiteradamente por Heinrich Pesch, Oswald von Nell-Breuning, Gustav Grundlach e outros.

É a mesma linha de economia mista, de autores como o padre Lacordaire, Liberatore (defendia explicitamente a economia mista, em seu livro sobre economia política, lá por 1889), Albert Mun e outros.

Stuart Mill, no livro “Princípios de economia política” (editado no Brasil pela Abril Cultural, em 1983), no Livro quinto, redigiu o capítulo décimo, onde lembra que, antes do capitalismo, existia a economia mista, com estatais, a proteção da indústria nativa (protecionismo, inclusive proibições), a vedação da usura, a regulamentação e o controle dos preços (teoria dos preço justo), monopólios governamentais, proteção do Estado ao trabalho,  formas cooperativas de trabalho etc.

A Igreja aceitava bem estes institutos (formas) jurídicos socializantes e anti-liberais.

Stuart Mill, no final da vida, adotou uma forma de socialismo cooperativista economia mista, bem próxima da Doutrina social da Igreja, e era feminista, redigindo ótima obra sobre os direitos da mulher, obra escrita em co-autoria com sua esposa.

Victor Hugo tinha ideias próximas, também bem próximas da Igreja.

A doutrina da Igreja sobre a relação das pessoas entre si e com os bens não ampara o capitalismo, não está ligada com o mesmo.

Ao contrário, condena claramente o capitalismo, o imperialismo e o latifúndio.

A Igreja defende economia mista (cf. texto hiper claro do padre Liberatore, que participou da redação da “Rerum Novarum”, em 1891, em seu livro “Princípios de economia política”, que tenho em francês).

Adolf Wagner era pessoa religiosa e sempre foi apreciado pelos grandes teóricos da Doutrina Social da Igreja, como Huet (“O reino social do cristianismo”), Ahrens, Pesch, Liberatore (defensor da economia mista), Albert de Mun, Vogelsang, Franz Hitze, padre Charles Antoine, a Escola de Liège e outros.

Outros grandes católicos foram o Cônego Pottier, Hellepute, Arturo Verhaegen, Monsenhor de Harlez, o grande TONIOLO, Georges Goyau (“Sobre o catolicismo social”), o Abade Six e sua revista “Democratie Chrétienne”), o Abade Lemire, o Cardeal Manning, o Abade Naudet (“Propriedade, capital e trabalho”) e outros.

Este apreço e respeito ocorre pelo conteúdo comum entre as melhores ideias de Adolf Wagner e dos grandes Teóricos da Doutrina social da Igreja.

Ideias de uma Civilização do Trabalho, ponto que a Igreja, pela “Laborem exercens”, deixou claro.

Ideias defendidas por autores católicos como Lamennais, Ozanam, Lacordaire, Blome, Belcredi, Thun, Depauli, Zalinger, Falkenstein e outros, para superar o regime assalariado.