O ideal de Mounier: um socialismo democrático, humanista, economia mista, amplo Estado social e protetor das pessoas, Democracia Popular Participativa, Protagonismo máximo dos trabalhadores, combinando Trabalho não reificado em várias formas, inclusive Milhões de Micros e Pequenos Produtores Familiares.

O jusnaturalismo cristão (Primado dos Direitos Humanos, de várias gerações, sociais, individuais, políticos, civis, culturais, de gênero etc) ensina claramente que as leis positivas, as regras positivas, em geral estatais, devem explicitar o conteúdo normativo e intelectual da consciência do povo, dos trabalhadores, da sociedade, ou seja, deve assegurar e promover o bem de todos

O jusnaturalismo cristão ensina claramente que a sociedade é a infra-estrutura do Estado. Isso foi visto por Hegel, inclusive em seus textos bem antigos, muitos destes textos não foram lidos por Marx, mas parte de seu conteúdo influenciou Karl Marx.

Hegel foi um grande filósofo cristão, e é uma das FONTES CRISTÃS das ideias, assim cristãs e humanistas, de Marx.

O processo de nomogênese (gênese, geração, das normas positivas, das instituições, leis etc) tem como fonte primária a consciência da sociedade, a “reta razão”, que são as idéias verdadeiras, corretas, presentes na consciência do povo.

O povo é a fonte principal da cultura e da civilização (no sentido de relações de convivência regidas pela razão, pela ciência etc).

Santo Tomás seguiu as idéias bíblicas e o melhor do pensamento grego e romano, especialmente Platão, Sócrates, Anaxágoras, Protágoras, Heráclito, Péricles, Sófocles, Aristóteles, Crates, os estóicos, Cícero, Fílon, São Paulo e os Santos Padres.

Assim, com base nestes predecessores, Tomás ensinou que as leis legítimas são produtos da reta razão, do diálogo do povo, das verdades práticas, presentes em todos, pelo movimento natural da consciência, da inteligência. Estas idéias, nascidas do povo, na medida em que são verdadeiras, tendem naturalmente ao bem do povo, ao bem comum.

Formam o processo civilizatório, da Democracia viva, que rege a História. Deus é a Democracia Viva, é o Amor vivo e Consciente.

O jusnaturalismo cristão, com a teoria do primado do bem comum, é anticapitalista (não aceitando o capitalismo liberal e nem estatal) e tem como pilares fundamentais o movimento histórico de personalização e o de socialização.

Como síntese entre personalização e socialização gerou correntes explicítas como o trabalhismo, o socialismo democrático, o comunitarismo personalista e o solidarismo socializante.

O solidarismo, no fundo um tipo de socialismo democrático, tem base bíblica clara, especialmente em São Paulo (“Rm. 12, 4-5): “assim como temos vários membros em um só corpo e todos os membros não cumprem a mesma função, assim também nós, ainda que sejamos vários, formamos um só corpo em Cristo e cada um de nós somos membros uns dos outros”.

O próprio Léon Victor Auguste Bourgeois (1857-1934), em obras como o clássico “Solidariedade” (1896), citava autores católicos como Pierre Leroux, no livro “A humanidade” (1839) como um dos principais precursores.

Leroux é também praticamente o pai da palavra “socialismo” e era socialista cristão pré marxista, antes de Marx, pois antes de Marx, existiram centenas de socialistas católicos e cristãos.

Bourgeois escreveu livros com idéias profundamente cristãs, um solidarismo radical bem próximo do solidarismo do padre Pesch.

Léon Bourgeois ganhou o Prêmio Nobel da Paz, em 1920, por ter auxiliado na constituição da Sociedade das Nações, a precursora da ONU.

Foi este conjunto de idéias que inspirou homens como Marc Sangnier, Mounier, Maritain ou Alceu, que representam a continuação das idéias dos socialistas utópicos cristãos e teístas (inspirados em Morus, Morelly, Mably, Rousseau, o padre Claude Fauchet, o padre Jacques Roux, na Bíblia e nos Santos Padres.

Foram estas idéias que inspiraram a luta dos católicos que apoiaram hegemonicamente a Revolução Francesa de 1789, tal como a Revolução francesa de 1848.

As idéias de socialismo católico e cooperativista estão presentes em Buchez (respeitado mesmo por Marx); nas melhores idéias de homens como Ozanam, Lacordaire, Montalembert, Mun etc.

As mesmas ideias reaparecem, depois, nos bons textos de Leão XIII; e, depois, na aproximação com o radicalismo; no apoio à Frente Popular ligada a Léon Blum (1872-1950) etc.

Estão na luta comum dos católicos, socialistas e comunistas na Resistência Francesa; na aproximação do M.R.P com os partidos socialistas democráticos; nos melhores textos de De Gaulle contra o imperialismo e contra o capitalismo; etc.

Léon Blum escreveu o livro “A escala humana” (1941), onde defende um socialismo com democracia e liberdades, tal como com ética (“libertar as pessoas das servidões que as oprimem”).

Como escreveu Mounier, no “Manifesto a serviço do personalismo” (na década de 30), “o personalismo conserva a coletivização e salva a liberdade”, elaborando uma síntese entre socialismo e liberdade.

No mesmo sentido, Mounier escreveu: “ninguém tem o direito de ser rico” (texto do livro “Da propriedade capitalista à propriedade humana”).

Conclusão: uma sociedade pautada pela socialização com personalização é uma sociedade pautada pelo diálogo racional em prol do bem comum. O ideal cristão é uma comunhão, o bem comum concreto, uma comunidade pautada pelo diálogo e pelo bem comum.

A combinação de justiça social e distributiva, de solidariedade e subsidiariedade (ajudas estatais etc).

O máximo de socialização com o máximo de personalização. Respeito a cada pessoa concreta, a cada família e a sociedade inteira.