A Doutrina da Igreja aponta para uma Economia do trabalho sem alienação, da Produção orientada para as necessidades e aspirações das pessoas

Lições fundamentais de Deus, no livro “Gênesis”: todos os bens foram criados para todos, para serem controlados, via Trabalho, e usufruídos por todos, para o florescimento e difusão da vida

A base bíblica dos textos de Leão XIII e de Pio XII (e dos demais Papas) começa com o livro “Gênesis”, principalmente no capítulo 1, versículos 26, 27, 28, 29, no capítulo 3, versículo 19 e no capítulo 41.

Está também no “Levítico”, no capítulo 25; nos “Salmos”; nos textos dos Profetas; nos Evangelhos; nas palavras registradas de Cristo; nas cartas de São Paulo; de São Pedro e São Tiago; e em outros livros da Bíblia.

A base bíblica (a Bíblia) e patrística (expressando parte da Tradição viva) é o fundamento mais sólido do cristianismo e coincide perfeitamente com o que ensina as luzes naturais da razão.

Os santos padres apontaram estes pontos comuns, claros em obras como “A República” e “As Leis” de Platão; a “Política” de Aristóteles, os textos de Sêneca, Epíteto, Galeno, Plutarco e outros.

As principais idéias e frases bíblicas do Gênesis sobre a destinação universal dos bens são os textos seguintes: “façamos o homem á nossa imagem, com nossa semelhança, dominem [controlem, usem, como um jardineiro faz num jardim, cultivando-o] sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis”, “homem e mulher Ele os criou”[igualdade essencial de todos e do homem e a mulher]; “sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a”[controlai a terra], “Eu vos dou todas as ervas que dão semente”, “todas as árvores”, “tudo… que é animado de vida”, “toda a terra” [dada a todos].

Deus deu a todas as pessoas as plantas e tudo o que é animado de vida, tal como toda a “terra” (natureza inanimada), não para devastação, mas para que tudo floresça, com vida abundante.

O ordenamento jurídico positivo, o Estado, deve tutelar, realizar e promover o direito natural de todas as pessoas aos bens, e não consagrar a usurpação e o roubo, institucionalizando-os na forma de latifúndios e na forma jurídica iníqua da propriedade capitalista (o grande capital privado concentrado, espúrio, espoliador, usura).

O controle deve ser feito mediante o trabalho pessoal: “com o suor de teu rosto, comerás teu pão”. Na Bíblia, “pão” significa os bens necessários, os meios ou fontes de vida, cf. consta também na oração do Pai Nosso e outros textos bíblicos.

A Bíblia usa, em “Gênesis” 1,26, os verbos hebraicos “radah” (com o significado de governar, pastorear como foi usado em 1 Rs 5,4; Is 14,6; Ez 34,4; e Sl 72,8), quando fala do controle sobre os animais.

Usa o verbo “kabas” (com o significado de governar também, usado em 2 Sm 8,11) em “Gênesis” 1,28, quando fala do controle sobre a terra.

A lição é repetida após o dilúvio (em “Gênesis” 9,7), quando Deus diz: “sede fecundos, multiplicai-vos, povoai a terra e dominai-a”.

A mesma lição se repete em vários livros bíblicos. Por exemplo, no “Salmo” 8, quando diz que Deus criou a pessoa “coroando-a de glória e beleza, para que domine as obras de tuas [de Deus) mãos”, e “sob seus pés tudo colocaste”.

Assim, as pessoas devem participar do governo, do controle, do mundo criado (Salmo 8, 8-9). Devem, por direito natural e divino, participar no processo da criação/renovação do universo, para que tudo seja renovado, organizando um mundo onde o lobo paste pacificamente ao lado do cordeiro, uma TAREFA sem sim, um Caminho eterno, de EVOLUCIONISMO ETERNO, de MELHORIA ETERNA.

No livro “Sabedoria” consta a mesma lição: “Deus criou o homem para ser incorruptível e o fez imagem de Sua própria natureza”, “para dominar as criaturas que fizeste, governar o mundo com justiça e santidade e exercer o julgamento com retidão de vida” (Sb 2,23; Sb 9,2-3).

É por estes textos, e outros também belíssimos, que Pio XI disse, em 06.09.1938: “somos espiritualmente semitas”, frase que irritou os nazistas.

Pio XI condenou o nazismo na encíclica “Mit brennender sorge” (1937), onde foi condenado “o mito do sangue e da raça” e a “idolatria” do poder.

Foram também condenadas as idéias obscenas de Alfred Rosenberg (1893-1946), Ministro da Instrução de Hitler, diretor do jornal do partido nazista e Ministro dos territórios ocupados (onde derramou rios de sangue).

As idéias de Rosenberg e de Baldur von Schirac eram baseadas nos textos ruins de Nietzsche e em outras fontes envenenadas (Gobineau e Houston Chamberlain).

O livro-chave do nazismo era “O mito do século 20”, de Alfred Rosenberg, com ataques duríssimas ao cristianismo.

Este livro foi condenado pelo Santo Ofício em 09.02.1934. Monsenhor Domenico Tardini, Subsecretário para Assuntos Extraordinários de Pio XII, apelidou Hitler de “Átila motorizado”.

Outras obras de Rosenberg foram também condenadas e proibidas em 19.07.1935.

O Cardeal Bertram e o Episcopado católico alemão redigiram pastorais condenando os erros nazistas. Vários padres foram presos e mais de vinte conventos foram invadidos.

O nazismo usou a mesma técnica da CIA, tentando desmoralizar a Igreja relacionando-o com casos de pedofilia, como se isso fosse uma prática disseminada e não fruto de pouquíssimos maus padres.

A Igreja condenou os erros racistas nazistas em 13.04.1938 (por um “Circular da Sagrada Congregação dos Seminários e Universidades”).

Os textos de Martin Bormann, Alfred Rosenberg, Goebbels, Heinrich Himmler, Hitler e outros são totalmente anti-cristãos.

Bormann escrevia: “o nazismo e o cristianismo são irreconciliáveis”.

Himmler também dizia: “judeu-cristianismo, a maior praga deixada pela história”.

O Santo Ofício também proibiu as obras completas de Giovanni Gentile (em 1934), tal como as obras de fascistas como Mario Missiroli e Ignotus.

O fascismo foi condenado na encíclica “Non abbiamo bisogno” (29.06.1931), nas cartas ao Cardeal Gasparri, em cartas ao Cardeal Schuster e em outros documentos.

Voltando ao conteúdo da Bíblia: os bens, todos os bens, foram feitos por todos e devem ser governados (controlados), com base no suor do próprio rosto, no trabalho pessoal, e não na exploração do trabalho alheio (muito menos em grandes unidades produtivas escravocratas, pois fundadas no trabalho reificado).

A regra natural da distribuição consta explicitamente no livro “Atos dos Apóstolos” (capítulos 4 e 6): “a cada um de acordo com suas necessidades”, regra BÍBLICA que Marx colheu dos socialistas cristãos pré-marxistas, que, por sua vez, a colheram da Bíblia.

É a mesma lição contida no “Salmo” 24,1, em “Levítico” 25, “Deuteronômio”, nos Profetas, nos Evangelhos (especialmente São Lucas), São Paulo e em centenas de outros textos bíblicos.

A mesma lição está contida nos textos de Santo Ambrósio, São Basílio (com sua catedral no meio do Kremlin), São Francisco de Assis, Santo Tomás de Aquino, Santo Tomás Moore, Campanella, Mably, Morelly, Rousseau, padre Jacques Roux, no Círculo Social, Babeuf, nos textos sociais de Marat, Gandhi, Einstein e em outros que combinavam bem religiosidade, democracia e socialismo.

Deus é o Bem Supremo, o Amor. Ele criou e cria os bens para nosso bem, ou seja, para atender nossas necessidades para termos uma vida plena e digna, para proporcionar a todos uma vida digna e abundante, plena.

A regra normal para obtermos os bens é o trabalho pessoal (o suor do próprio rosto, como ensina a Bíblia, em “Gênesis” e nos demais livros) e a forma de trabalharmos e usarmos estes bens deve ser sempre de acordo (em concórdia, um coração) com o bem comum.

O título fundamental e primário pelo qual temos direitos naturais aos bens é o fato de termos necessidades destes bens, pelos princípios da destinação universal dos bens e da sacralidade da pessoa.

O título secundário é o trabalho, pois como ensinou Leão XIII, assim como o efeito (os frutos) segue após a causa (a árvore, uma imagem usada por Locke, Proudhon, Dühring e pelos socialistas ricardianos), assim os bens devem caber ao trabalhador, causa eficiente da produção.

João Paulo II, na “Centesimus annus”, também escreveu: “quem trabalha e produz” deve “gozar dos frutos do próprio trabalho”.

O próprio Deus nos dá exemplo disso, pois sempre trabalha (orientando o processo histórico e cosmológico) e está presente nestes bens, no sol, na água etc, pois Deus é imanente e transcendente ao universo.

O trabalho pessoal é o título jurídico secundário para obtermos os bens, pois, acima do trabalho, há o título primário (lei natural primária): as necessidades sagradas e naturais das pessoas e a destinação universal dos bens.

Por isso, projetos como o da renda cidadã, do Senador Suplicy estão corretos no prisma ético, quando defendem que cada pessoa, por ser pessoa, deve ter direito a uma renda cidadã, para atender nossas necessidades.

Todos têm direito subjetivo natural aos bens necessários para o florescimento da vida (cf. “Atos dos Apóstolos” 2,44-45).

O princípio da destinação universal dos bens era o núcleo dos textos de Sismondi, Sun Yat Sem (1866-1925, autor do livro “Os três princípios do povo”, 1905), Einstein, Gandhi, Chesterton ou Amartya, especialmente no livro “Desenvolvimento como liberdade”.

Conclusão: a finalidade da sociedade e do Estado é realizar (atualizar, dar concretude) os direitos naturais humanos.

O Estado deve ser organizado e controlado pela sociedade, tendo em conta princípios como: o da destinação universal dos bens; da sacralidade de toda pessoa; a regra “a cada um de acordo com suas necessidades”; o primado da pessoa e do trabalho; a soberania natural da sociedade sobre o Estado e todas as instituições positivas e outras máximas (regras gerais, princípios) bíblicas e da razão natural.