Trechos da Encíclica “Parvenu”, de Leão XIII, em 1902, com anotações

Em 1902, Leão XIII, com 92 anos, pois nasceu em 1810 e faleceu em 1903, redigiu o texto da encíclica “Parvenu”, que tem ótimas ideias, que passo a transcrever e sublinhar os trechos mais relevantes:

“31. Quanto mais a Igreja emprega o seu zelo no bem moral e material dos povos, tanto é maior o ódio que lhe voltam esses filhos das trevas que por todos os meios tentam ofuscar-lhe a divina beleza, e entravar-lhe a obra vital e redentora.

De quantos sofismas lançam mão, que quantas calúnias!

Uma de suas maiores perfídias consiste em representar a Igreja às massas ignorantes e aos governos ambiciosos, como sendo avessa ao progresso da ciência, inimiga da liberdade, usurpadora dos direitos do Estado e invasora do terreno político. Tolas acusações, mil vezes repetidas e outras mil destruídas pela razão, pela história e bom-senso dos homens honestos e amigos da verdade”.

Notar: Leão XIII chama de “PERFÍDIA” e “CALÚNIA” representar a Igreja como “avessa ao progresso da ciência, inimiga da liberdade, usurpadora dos direitos do Estado”.

Leão XIII destaca bem: a Igreja tem uma “OBRA VITAL”, TRABALHA PELA VIDA”, E é REDENTORA, LIBERTADORA. A Igreja é Defensora do “bem moral e material dos povos”, do “progresso da ciência”, amiga da “liberdade” e do “Estado”.

Vejamos outros trechos:

“32. A Igreja, inimiga da ciência, da cultura? Sendo, como é certo, guarda vigilante do dogma revelado, essa vigilância não a torna senão benemérita e fautora da ciência e autora de toda boa cultura.

Não, abrindo as inteligências às revelações do Verbo, verdade suprema e princípio original de toda verdade, não se prejudicarão, de modo algum, os conhecimentos racionais; mas, ao contrário, as irradiações do mundo divino acrescerão sempre ao intelecto humano a força e a clareza necessárias para preservá-lo das incertezas angustiosas e dos erros em questões de maior importância.

De resto, dezenove séculos de glória conquistada pelo catolicismo, em todos os ramos do saber, bastam amplamente para destruir essa mentirosa asserção.

À Igreja Católica deve-se, com efeito, atribuir o mérito de haver propagado e difundido a sabedoria cristã, sem a qual o mundo jazeria ainda nas trevas das superstições pagãs e no estado abjeto da barbárie;

de haver conservado e transmitido os preciosos tesouros das letras e da ciência antiga;

de ter aberto a primeira escola do povo e criado Universidades que ainda em nossos dias existem e são célebres;

de haver abrigado, enfim, sob suas asas protetoras, os artistas mais insignes e inspirado a literatura mais elevada, pura e gloriosa.

33. A Igreja inimiga da liberdade? Somente quando, falseando-lhe o verdadeiro sentido, em nome desse precioso dom de Deus se procura o abuso e a licença. Se por liberdade quer-se entender o andar-se isento de toda lei e todo freio, para fazer o que mais agrada, naturalmente a Igreja terá que reprová-la, o mesmo fazendo as almas honestas;

mas se por liberdade se compreende a faculdade racional de praticar decidida e largamente o bem segundo as normas da lei eterna, na qual justamente reside a liberdade digna do homem profícua à sociedade, ninguém mais que a Igreja a favorece, estimula e protege.

Foi Ela, efetivamente, que com sua doutrina e ação apostólica libertou a humanidade dos grilhões que a escravizavam, anunciando a grande lei da igualdade e da fraternidade humana;

em todos os tempos assumiu o patrocínio dos fracos e oprimidos contra a prepotência dos fortes;

reivindicou, com o sangue de seus mártires, a liberdade da consciência cristã,

restituiu à criança e à mulher a dignidade de sua nobre natureza, fazendo-as participar do direito ao respeito e à justiça, concorrendo grandemente para introduzir e manter a liberdade civil e política dos povos.

34. A Igreja usurpa os Direitos do Estado e invade o campo político? Mas a Igreja sabe e ensina que seu Divino Fundador mandou dar a César o que é de César, a Deus o que é de Deus, sancionando deste modo a distinção imutável e perpétua dos dois poderes, ambos supremos em sua respectiva ordem, distinção fecunda que teve enorme influência no desenvolvimento da Civilização Cristã. Mantendo-se alheia, em seu espírito de caridade, a todo e qualquer partidarismo, procura apenas coordenar-se ao flanco do poder político para atuar sobre o mesmo sujeito, que é o homem, e sobre a sociedade, mas com os meios de elevação de vista conformes à sua divina missão.

Onde sua obra foi aceita sem desconfianças, facilitou as inumeráveis vantagens supracitadas. A suposição de intenções ambiciosas na Igreja não passa de velha calúnia, da qual seus poderosos inimigos se serviram como de pretexto para coonestar a sua opressão; e a história, meditada com imparcialidade, testemunha amplamente que a Igreja, ao invés de predominar, foi, isso, sim, qual imagem fiel de seu divino Fundador, vítima, muitas vezes, de opressões e injustiças;

porque seu poder reside na força do pensamento e da verdade, e não na força das armas”.