A Doutrina da Igreja quer a erradicação da Oligarquia e da Miséria, quer a MEDIANIA, IGUALDADE SOCIAL

A doutrina da Igreja defende a ERRADICAÇÃO (não física, e sim como situação) da OLIGARQUIA e da MISÉRIA, da condição PROLETÁRIA.

A OLIGARQUIA é formada principalmente pelo GRANDE CAPITAL e pelo LATIFÚNDIO. 

Os GRANDES CAPITALISTAS são o núcleo da OLIGARQUIA. Os piores são os BANQUEIROS, AS MULTINACIONAIS e OS DONOS DA GRANDE MÍDIA (MÁFIA DA GRANDE MÍDIA, PIG, CARTEL DA GRANDE MÍDIA). 

Os LATIFUNDIÁRIOS são principalmente a GRANDE EMPRESA CAPITALISTA RURAL, o AGRONEGÓCIO, sendo os piores latifundiários os rentistas, improdutivos, absenteístas, meros estocadores e especuladores, “terra de negócio” pura. O AGRONEGÓCIO EXPORTADOR é também dos PIORES, pois vivem do massacre de trabalhadores e jogam os lucros em paraísos fiscais, praticamente nunca pagando tributos. Lembro que o Imposto sobre Terras rurais é PÍFIO, NADA praticamente, idem para o Imposto sobre HERANÇAS, um dos menores do mundo, e idem para o Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica, que isenta os dividendos, a renda auferida pelos Sanguessugas. 

A Doutrina da Igreja quer a sociedade baseada no TRABALHO, no Aspecto SUBJETIVO do TRABALHO, fundada no PRIMADO DO TRABALHO.

A Igreja quer superação das classes sociais, da diferenciação pelo gênero de trabalho. QUER uma sociedade onde as pessoas tenham várias profissões e trabalhos distintos, mas sem EXPLORAÇÃO, sem REIFICAÇÃO, sem acumulação às custas da miséria (trabalho não pago) da outra pessoa.

A Doutrina da Igreja quer uma sociedade igualitária, fundada na MEDIANIA, ONDE TODOS SEJAM MICROS E PEQUENOS PROPRIETÁRIOS DE CASAS PRÓPRIAS, de bens de consumo e pequenas ferramentas e motores, formada por MILHÕES DE MICROS E PEQUENOS PRODUTORES (TRABALHADORES TAMBÉM), organizados em COOPERATIVAS de CONSUMO, de COMERCIALIZAÇÃO ETC. 

E POR MILHÕES DE TRABALHADORES EM ESTATAIS COM CO-GESTÃO e em COOPERATIVAS DE PRODUÇÃO.

Para proteger contra a MISÉRIA, RENDA BÁSICA PARA TODOS, PROGRAMA DE MORADIA SUBSIDIADA PELO ESTADO para todos etc.

Enfim, TODOS devem ter os bens suficientes para uma VIDA DIGNA, FELIZ, ABUNDANTE e PRÓSPERA. 

Marilena de Souza Chauí, na obra “O que é ideologia” (Ed. Brasiliense, Brasília, 1983), mostrou a relação intrínseca entre a divisão social do trabalho e as classes sociais:

A divisão social do trabalho, ao separar os homens em proprietários e não proprietários, dá aos primeiros poder sobre os segundos. Estes são explorados economicamente e dominados politicamente. Estamos diante de classes sociais e da dominação de uma classe por outra.”

A história é o processo prático pelo qual homens determinados em condições determinadas estabelecem relações sociais por meio dos quais transformam a Natureza (pelo trabalho), se dividem em classes (pela divisão social do trabalho que determina a existência de proprietários e de não proprietários), organizam essas relações através das instituições e representam suas vidas através das idéias,”….

A sociedade civil é o processo de constituição e de reposição das condições materiais de existência, isto é, da produção (trabalho, divisão do trabalho, processo de trabalho, forma de distribuição e de consumo, circulação, acumulação e concentração da riqueza), por meio das quais são engendradas as classes sociais (exploradores e explorados, isto é, a contradição entre proprietários e não proprietários.

Concordo com boa parte do texto de Marilena, acima transcrito. A relação entre as classes assim produzidas é contraditória porque a condição necessária e suficiente para que haja proprietários privados é a existência dos não proprietários.”

Produzida pela divisão social do trabalho que a cinde em classes contraditórios, a sociedade civil se realiza como luta de classes.”

A produção e reprodução das condições de existência através do trabalho (relação com a natureza), da divisão do trabalho (relação de intercâmbio e de cooperação entre os homens), da procriação (sexualidade e família), constituem em cada época o conjunto das forças produtivas que determinam e são determinadas pela divisão social do trabalho. Essa divisão, que já se inicia na própria família, conduz à separação entre pastoreio e a agricultura, entre ambos e a indústria e entre os três e o comércio.

Estas separações conduzem à separação entre cidade e campo, ao mesmo tempo em que, no interior de cada esfera da atividade, novas formas de divisão do trabalho de desenvolvem”.

A divisão social do trabalho não é uma simples divisão de tarefas, mas a manifestação de algo fundamental na existência histórica: a existência de diferentes formas de propriedades, isto é, a divisão entre as condições e instrumentos ou meios do trabalho e o próprio trabalho, incidindo, por sua vez, na desigual distribuição do produto do trabalho. Numa palavra, a divisão social do trabalho engendra e é engendrada pela desigualdade social ou pela forma de propriedade”.

Formas da propriedade que conhecemos: a propriedade privada capitalista. Aqui a divisão social do trabalho alcança seu ápice: de um lado, os proprietários privados do capital (portanto dos meios, condições e instrumentos da produção e da distribuição), que são também os proprietários do produto do trabalho, e, de outro lado, a massa dos assalariados ou dos trabalhadores, despossuídos, que dispõem exclusivamente de sua força de trabalho, que vendem como mercadoria ao proprietário do capital.” P. 63”.

O critério fundamental da divisão das pessoas em classes sociais e também em estamentos e camadas sociais é a posição das mesmas na divisão social do trabalho, na organização social da produção, da circulação e do consumo, conforme dizia Lênin.

Para Marx, a propriedade é a exteriorização (e quase sempre a alienação) do trabalho socialmente útil, tal como o valor é a cristalização do trabalho socialmente útil, o que deixa claro o papel da utilidade social, do trabalho específico ligado ás necessidades humanas.

A propriedade é o trabalho cristalizado, algum trabalho específico, segundo Marx, o que basta para demonstrar que o critério fundamental para a distinção das pessoas em classes sociais é o lugar que as mesmas ocupam na divisão social do trabalho, o gênero de trabalho realizado.

A propriedade é uma relação social (como já apontava o padre Galiani), uma relação de produção, de trabalho, uma forma de divisão do trabalho. Por isso, Marx disse, nos “Grundrisse”, que o capital não é apenas os meios de produção apropriados pelo capitalista, mas também uma relação de produção, uma forma do processo produtivo (tendo como núcleo uma relação de trabalho, uma forma de divisão social do trabalho).

As classes sociais são relações de classes, relações de protagonistas das relações de produção. Marx escreveu que o que separa as cidades e o campo é a divisão do trabalho.

A divisão entre trabalho braçal (submetido e alienado) e trabalho intelectual (os capitães de indústria ou burgueses), de forma genérica, produz as classes.

Marx não era contrário a todas as formas de divisão do trabalho, odiava, no entanto, a divisão do trabalho imposta, não consciente, que destrói a liberdade e reifica as pessoas.

Marx, em uma carta a Joseph Weydemeyer, reconheceu que não descobriu as classes sociais, e sim vários historiadores CATÓLICOS. Por exemplo, Augustin Thierry (1795-1856), Guizot e outros cristãos, em geral, Thierry foi discípulo de Saint-Simon, tendo escrito livros sobre a história da França e viveu, em geral, como católico, morrendo desta forma.

Marx reconheceu que Thierry teve o mérito de destacar a importâncias das classes sociais na vida política das nações.

A propriedade é uma forma de divisão do trabalho, uma forma de relação econômica.

Neste sentido, vale a pena lembrar que Paulo VI, em um discurso à União de Empresários e Dirigentes católicos (publicado na revista “Ecclesia”, n. 24, em 1964, p. 889), atacou duramente a “unilateralidade da possessão dos meios de produção”, pois esta unilateralidade, própria da empresa capitalista (baseada no divórcio dos trabalhadores dos meios de produção e da contraposição destes aos trabalhadores, cf. viu corretamente Karl Marx), “não traz a perfeição, não traz a paz, não traz a justiça”, pois continua “dividindo os homens em classes irredutivelmente inimigas”, “caracterizando a sociedade pelo mal-estar profundo e lacerante que a atormenta”.

Marx mencionou várias classes em seus textos.

Em geral, Marx cita especificamente cinco classes: burgueses, latifundiários, camponeses, pequenos burgueses e proletários.

Marx menciona, em “O capital”, Terceiro Tomo, sendo que foi neste ponto que Marx interrompeu seu manuscrito, deixando o resto sem terminar, que as três classes fundamentais, logo as mais importantes dentre outras, são: os operários, os capitalistas e os latifundiários. São os pólos, extremos.

Além destas, Marx mencionou o lumpen-proletariado, os artesãos etc. Marx não terminou o capítulo sobre as classes em “O capital”. Lênin esboçou uma definição de classes que destaca o lugar da pessoa na organização social da produção, ou seja, o lugar (posição) na divisão social do trabalho imposta.

A Igreja, em vários textos de papas e doutrinadores, também adotou como critério fundamental, para a análise da sociedade e a descrição das classes, a divisão social do trabalho. Basta ver os textos de Leão XIII e de outros papas.

João Paulo II, na “Laborem exercens” (1981), escreveu um bom texto sobre este ponto:

O homem deve submeter a terra, deve dominá-la, porque, como « imagem de Deus », é uma pessoa; isto é, um ser dotado de subjetividade, capaz de agir de maneira programada e racional, capaz de decidir de si mesmo e tendente a realizar-se a si mesmo.

É como pessoa, pois, que o homem é sujeito do trabalho. É como pessoa que ele trabalha e realiza diversas ações que fazem parte do processo do trabalho; estas, independentemente do seu conteúdo objetivo, devem servir todas para a realização da sua humanidade e para o cumprimento da vocação a ser pessoa, que lhe é própria em razão da sua mesma humanidade.

As principais verdades sobre este tema foram recordadas ultimamente pelo II Concílio do Vaticano, na Constituição Gaudium et Spes, especialmente no capítulo primeiro dedicado à vocação do homem.

E assim aquele « domínio » de que fala o texto bíblico, sobre o qual estamos a meditar agora, não se refere só à dimensão objectiva do trabalho, mas introduz-nos ao mesmo tempo na compreensão da sua dimensão subjetiva.

O trabalho, entendido como processo, mediante o qual o homem e o gênero humano submetem a terra, não corresponderá a este conceito fundamental da Bíblia senão enquanto, em todo esse processo, o homem ao mesmo tempo se manifestar e se confirmar como aquele que « domina ».

Este domínio, num certo sentido, refere-se à dimensão subjetiva ainda mais do que à objetiva: esta dimensão condiciona a mesma natureza ética do trabalho.

Não há dúvida nenhuma, realmente, de que o trabalho humano tem um seu valor ético, o qual, sem meios termos, permanece diretamente ligado ao fato de aquele que o realiza ser uma pessoa, um sujeito consciente e livre, isto é, um sujeito que decide de si mesmo.

Esta verdade, que constitui num certo sentido a medula fundamental e perene da doutrina cristã sobre o trabalho humano, teve e continua a ter um significado primordial para a formulação dos importantes problemas sociais ao longo de épocas inteiras.

A Idade Antiga introduziu entre os homens uma própria diferenciação típica em categorias, segundo o tipo de trabalho que realizavam.

O trabalho que requeria do trabalhador o emprego das forças físicas, o trabalho dos músculos e das mãos, era considerado indigno dos homens livres, e por isso eram destinados à sua execução os escravos.

O Cristianismo, ampliando alguns aspectos já próprios do Antigo Testamento, neste ponto operou uma transformação fundamental de conceitos, partindo do conteúdo global da mensagem evangélica, e, sobretudo, do fato de Aquele que, sendo Deus, se tornou semelhante a nós em tudo, (11) ter passado a maior parte dos anos da vida sobre a terra junto de um banco de carpinteiro, dedicando-se ao trabalho manual.

Esta circunstância constitui por si mesma o mais eloqüente « evangelho do trabalho »; aí se torna patente que o fundamento para determinar o valor do trabalho humano não é em primeiro lugar o gênero de trabalho que se realiza, mas o fato de aquele que o executa ser uma pessoa. As fontes da dignidade do trabalho devem ser procuradas sobretudo não na sua dimensão objetiva, mas sim na sua dimensão subjetiva.

Em tal concepção quase desaparece o próprio fundamento da antiga diferenciação dos homens em grupos, segundo o gênero de trabalho que eles faziam. Isto não quer dizer que o trabalho humano não possa e não deva ser de algum modo valorizado e qualificado de um ponto de vista objetivo.

Isto quer dizer somente que o primeiro fundamento do valor do trabalho é o mesmo homem, o seu sujeito. E relaciona-se com isto imediatamente uma conclusão muito importante de natureza ética: embora seja verdade que o homem está destinado e é chamado ao trabalho, contudo, antes de mais nada o trabalho é “para o homem” e não o homem “para o trabalho”.

E por esta conclusão se chega a reconhecer justamente a preeminência do significado subjetivo do trabalho sobre o seu significado objetivo. Partindo deste modo de entender as coisas e supondo que diversos trabalhos realizados pelos homens podem ter um maior ou menor valor objetivo, procuramos todavia pôr em evidência que cada um deles se mede sobretudo pelo padrão da dignidade do mesmo sujeito do trabalho, isto é, da pessoa, do homem que o executa”.

Atenção ao texto de João Paulo II – o primado da dimensão subjetiva do trabalho, o primado da pessoa, faz com que “em tal concepção quase desapareça o próprio fundamento da antiga diferenciação dos homens em grupos, segundo o gênero de trabalho que eles faziam”.

A “antiga diferenciação dos homens em grupos, segundo o gênero de trabalho que eles faziam” é a diferenciação das pessoas em classes sociais.

As relações de produção numa sociedade são as relações de trabalho das pessoas, envolvidas na produção. E são também as relações de propriedade (pelo controle sobre os bens ou a submissão aos que controlam os bens). Basta lembrar que Marx considerava a propriedade como trabalho cristalizado.

A doutrina da Igreja nunca defendeu a existência de classes opressoras e nunca viu com bons olhos os ricos, acumuladores.

Por isso, a doutrina da Igreja nunca viu com bons olhos os latifundiários e grandes capitalistas, pois são condições sociais que levam à degradação ética e física (no caso dos explorados) da pessoa.

Claro que houve centenas de Bispos bem submissos, mas a doutrina de Cristo nunca hesitou sobre este ponto. Os santos, os santos padres, a maioria dos Bispos e de teólogos da Igreja sempre condenaram a riqueza concentrada, o “capital”, a oligarquia, do ponto de vista da ética cristã.

Santo Agostinho, por exemplo, no texto “Sobre a epístola de São João aos partos”, t. 8, n. 5, PL 35, 2.038), escreveu: “não devemos desejar que haja pedintes para podermos exercer as obras de misericórdia graças a eles”, “seria muito melhor que ninguém tivesse fome, assim não” seria preciso dar de comer a ninguém.

O mesmo vale para a necessidade de moradia, roupas etc e também para as classes opressoras e parasitárias.

No mesmo sentido, escreveu São João Cassiano, um bom estóico católico, no livro “Colações” (I, 10):

As obras de caridade e de misericórdia são necessárias nesta vida, enquanto houver no mundo tanta diversidade de estados e de condições sociais. Entretanto, não seriam necessárias nem mesmo aqui nesta terra se não houvesse esse número incontável de pobres, de necessitados e de doentes gerados pela injustiça dos homens. Refiro-me àquelas pessoas que monopolizam para seu particular aquilo que o Criador comum quis dar a todos. Por isso, enquanto persistir nesse mundo a diferença de categorias sociais, essas obras serão necessárias e proveitosas para quem as realizar, a herança eterna será o prêmio por sua bondade e caridade. Mas no século futuro reinará a igualdade. Deixarão de existir então as obras de misericórdia, pois já não haverá diferenças que as tornem necessárias ou justifiquem por isso sua existência”.

O “século futuro”, vindouro, é este mundo, transformado, que deve ser TRANSFORMADO por nós, pois toda pré-figuração é uma ETAPA da CONSTRUÇÃO ETERNA, pois fomos feitos para sermos co-criadores, continuando a Criação.

Das cinco classes principais listadas por Marx a doutrina da Igreja defende a extinção dos burgueses (grandes burgueses, grandes capitalistas que vivem como parasitas, da exploração do próximo) e dos latifundiários, tal como a supressão da condição social dos proletários.

A Igreja sempre defendeu OS TRABALHADORES.

A Igreja sempre defendeu os MICRO E PEQUENOS PRODUTORES, os camponeses, os artesãos e os pequenos produtores (pequenos burgueses e outras categorias, que existiam antes da Idade Média, durante a mesma e ainda hoje), pois são pequenas propriedades (os pequenos bens de produção) controlados pelos próprios trabalhadores.

Quanto aos operários (e o mesmo vale para os artesãos, os camponeses, pescadores artesanais, artistas e demais pequenos produtores), a Igreja defende formas cooperativas (formas de propriedade social, comunitária) e também estatais com co-gestão. Adotando o primado do bem comum, a doutrina da Igreja apóia formas de planejamento participativo, em todas as instâncias e em todas as relações interpessoais (pelo respeito ao outro, como ressalta Enrique Dussel).

Quanto aos MICRO E PEQUENOS PRODUTORES, a Igreja defende a união destes em Cooperativas, cooperativas de MICROS E PEQUENOS PRODUTORES, que asseguram os ganhos de escala, a cooperação, o trabalho coletivo e conjunto, ao lado do trabalho pessoal. Os textos de João XXIII são claros como cristais, nestes pontos. 

Enrique D. Dussel, na obra “Para uma ética da libertação latino-americana” (das Edições Loyola, São Paulo, 1979, p. 96), lista as classes sociais na América Latina:

As classes sociais na América Latina poderiam ser tipificadas assim:

Classes dominantes:

1. Estamento gerencial estrangeiro [ multinacionais],

2. Patronato:

a. Oligárquico: senhorial parasitário, latifundiário [latifundiários]

b. Moderno: empresarial nacional [grandes capitalistas nacionais];

3. Patriciado:

a. Estatal: político, militar, tecnocrático;

b. Civil: eminências, lideranças, celebridades; setores intermediários ou pequena burguesia

(1. Autônomos: profissionais liberais, pequenos empresários;

2. Dependentes funcionários, empregados);

Classes oprimidas em primeiro grau:

1 Camponeses: assalariados rurais, arrendatários minifundiários;

2 Operários: fabris, serviços);

Classes oprimidas em segundo grau:

Marginalizados: bóia-frias, colhedores, peões e diaristas, emprega dos domésticos, office-boys, mendigos, prostitutas etc.”.

Bem, a classificação acima traz como classes dominantes as multinacionais (os gerentes e empregados de alto nível das mesmas), os latifundiários, os grandes capitalistas nacionais, os altos funcionários do Executivo, das Forças Armadas e das estatais, mais os pequenos burgueses, profissionais liberais, pequenos empresários e funcionários.

Aponta como classes oprimidas os camponeses, os operários e marginalizados.

Há uma injustiça em considerar como dominantes os pequenos burgueses, funcionários públicos etc.

Na estratégia da frente ampla, o importante é isolar o latifúndio e o capital monopolista, especialmente as multinacionais, para extinguir estes males.

No entanto, Dussel merece elogios por frisar bem a influência do imperialismo e voltar-se contra o mesmo em sua análise social. Dussel é bem completo em sua análise.

Paul Singer, no obra “Dominação e desigualdades” (editada pela Paz e Terra, 1981, Rio de Janeiro, pp. 73-97), esboça a seguinte configuração de classes sociais no Brasil:

1) Burguesia (3,36% da população) – [Considerando que temos hoje 210 milhões, haveriam cerca de seis ou sete milhões burgueses].

a) Burguesia empresarial (0,9%) – recebem 10 ou mais salários mínimos mensais) – [hoje, seriam cerca de dois daqueles seis ou sete milhões já referidos].

b) Burguesia gerencial (2,46%) – pequeno aumento de 1964 a 1980 – [mais de quatro milhões, dos milhões referidos].

2) A pequena burguesia (20,84% da população) [ou seja, mais de 40 milhões de pessoas].

a) Pequenos empregadores (1,77%). Com renda mensal inferior a 10 salários mínimos

b) Autônomos (12,47%) – com renda de 1 a 2 salários mínimos; e

c) Não-remunerados (6,6% da população) – aumentou quase duas vezes de 1964 a 1980.

3) O proletariado – assalariados sem poder de decisão (13,75%) – renda de 1 a menos de 10 salários mínimos – 13,75% em 1960 – 28,13% em 1976.  

4) Subproletariado (46,64% da população), com menos de 1 a 2 salários mínimos:

a) Assalariados (30,94% da população). Setor da construção civil, de serviços domésticos, balconistas etc. E trabalho agrícola, não técnico nem qualificado.

b) autônomos (10,65% da população), não são proprietários.

c) Não-remunerados (6,05% da população), trabalhadores, membros das famílias dos autônomos, subproletários.

Meu comentário: o erro da classificação acima é o não reconhecimento dos camponeses, como classe social específica. E não considerar os latifundiários como classe específica (os latifundiários, no Brasil, em geral seguem o sistema “plantation”, de plantarem para o mercado, especialmente para a exportação, mas são latifundiários, ainda que adotem técnicas capitalistas). Claro que o grande e genial Paul Singer evoluiu, e poderia ter feito isso bem antes se tivesse lido com mais atenção o artigo “O problema camponês na França e na Alemanha”, de Engels, de 1894, onde o mesmo escreveu:

Da Irlanda até a Sicília, da Andaluzia até a Rússia e a Bulgária, o camponês é um fator essencial da população, da produção e do poder político. Somente dois territórios do ocidente da Europa constituem uma exceção. Na Grã-Bretanha, a grande propriedade territorial e a agricultura em grande escala substituíram totalmente o camponês que cultiva a terra para si; na Prússia do leste do Elba este mesmo processo vem ocorrendo desde séculos, e também aqui vemos o camponês cada vez mais “eliminado”, ou, pelo menos, relegado economicamente e politicamente ao segundo plano” [texto colhido do livro “Obras escogidas”, de Carlos Marx e Federico Engels, Editorial Cartago S.R.L, Buenos Aires, 1957].

A estratificação social no Brasil, segundo um esboço do Padre Fernando Bastos Ávila S.J. e de Florestan Fernandes foi esboçada do seguinte modo:

01 – Classe alta urbana metropolitana:

grandes industriais banqueiros, grandes comerciantes, altos funcionários, minoria governante;

profissionais liberais de elevada qualificação. Profissionais em serviços administrativos de elevada qualificação.

02 – Classe alta rural:

grandes proprietários – latifundiários, arrendatários capitalistas;

as pessoas graúdas das cidades no interior;

o médio proprietário, o juiz de direito, o pequeno industrial, o delegado, o comerciante atacadista, os profissionais liberais de altas rendas, o gerente de banco, professores e assalariados de colarinho e gravata que sejam descendentes de famílias tradicionais;

03 – Classe média urbana:

pessoas que formam o topo das grandes empresas industriais, bancárias e comerciais de serviços;

funcionários públicos civis e militares, professores, universitários, jornalistas, profissionais liberais – geral, artesãos urbanos e operários altamente qualificados.

04 – Classe média rural:

médios e pequenos, proprietários rurais que trabalham em regime de empresa familiar, administradores das fazendas e cooperativas rurais e comerciantes das zonas rurais.

05 – Classe baixa urbana:

assalariados das fábricas, empregados de lojas e escritórios com baixo rendimento;

assalariados do setor de serviços urbanos (lixeiros, eletricitários).

06 – Classe dependente urbana:

setor indigente e flutuante das grandes cidades;

situação de emprego irregular, vivem em estado de pauperismo e anomia.

07 – Classe baixo rural

o campesinato, assalariados rurais ou parceiros, meeiros etc.

A classificação acima, a meu ver, é das mais completas, apesar da má terminologia (“baixa”…).

As outras (especialmente a de Enrique Dussel, ou a de um escritor tão importante como Paul Singer) também trazem boas luzes e devem ser usadas de forma combinada com a do padre Fernando Bastos de Ávila, pois têm grandes pontos em comum e uma síntese entre as mesmas seria fácil de esboçar.

Os documentos do MST (especialmente o documento “Capitalismo e classes sociais no campo”, de 1995) auxiliam na análise social. Dividem as classes sociais no campo em burguesia agrária (menos de 50.000, com áreas superiores a 1.000 hectares e controlando mais de 50% das terras cadastradas), que o MST praticamente identifica com os latifúndiários. Depois, já os arrendatários capitalistas (uns 30.000 burgueses-arrendatários).

Do outro lado, o MST lista a pequena burguesia agrária (uns 500.000 proprietários, com propriedades de 100 a 1.000 hectares). Depois destas três que vivem da terra, há as classes trabalhadoras, que totalizam 23 milhões. Destes 23 milhões, há 5 milhões de proletários rurais (assalariados rurais, permanentes e temporários) e 18 milhões de posseiros, parceiros, meeiros, arrendatários, AGRICULTURA FAMILIAR etc. Nestes 18 milhões, há uns 10 milhões de trabalhadores sem-terra e semiproletários, que vivem em áreas menores de 5 hectares e há os camponeses ou pequenos produtores, no total de oito milhões de trabalhadores que vivem em áreas de 5 a 100 hectares e que trabalham em regime de economia familiar, sendo muitos posseiros.

Márcio Pochmann, outro pesquisado genial, no livro “Atlas da Exclusão Social”, organizado pela IPEA, demonstrou que as cinco mil famílias mais ricas do Brasil (0,001%) controlam e possuem 42% do PIB. Em média, estas famílias teriam, cada uma, R$ 138 milhões, mas a má divisão atinge até mesmo estes parasitas, pois há algumas famílias com muito mais e outras com menos. Os piores sãos os banqueiros, os grandes empreiteiros, os donos de TVs, os latifundiários e os grandes executivos das multinacionais.

Marx, em vários textos, deixa claro que as classes são os pólos de relações de produção, sendo estas as bases de modos de produção diversos e a sociedade, no tempo de Marx e atualmente, seria formada por várias relações de produção, logo por vários modos de produção, sendo um predominante (o capitalista, como destacou João Bernardo).

Assim, no texto sobre o golpe de Luís Napoleão (“O dezoito de brumário de Luís Napoleão), Marx menciona o “modo de produção” (mais adiante diz “modo de vida” ou “condições econômicas de existência”) dos camponeses. Em outros textos fala do modo de produção dos artesãos, dos pequenos burgueses (que trata como classe própria e específica, distinta da burguesia) etc.

A influência de Marx é clara, e vale a pena lembrar que Marx reconheceu, com a honestidade que o caracterizava, que não descobrira as classes sociais. Este ponto é importante para vencer as resistências de liberais mentirosos que insistem em classificar as pessoas nas classes como “A, B, C, D e E”, para camuflar os conflitos sociais com base em sociólogos funcionalistas e empiristas, em textos divulgados pela CIA e pelas multinacionais.

O padre Fernando Bastos de Ávila S.J., no livro “Introdução à Sociologia”, escreveu: “classe social é, talvez, um dos termos, em sociologia, sobre o qual existem maiores divergências. Não sabemos se há dois sociólogos que o empreguem no mesmo sentido”. Também é difícil encontrar dois marxistas que concordem em tudo nos critérios de classificação e na análise. No entanto, fica claro que não há tanta diferença entre as melhores idéias de Marx e as melhores idéias dos pensadores cristãos, inclusive dos papas.

O Pe. Fernando Bastos de Ávila escreveu textos sobre as classes sociais, a causa final e formal das mesmas:

O fenômeno “classe social”, tomando aqui o termo ainda num sentido lato, isto é, o fenômeno pelo qual, no interior de uma sociedade se formam compartimentos ou estratificações mais ou menos estanques, parece um fenômeno inerente a todas as sociedades humanas.

Em O Manifesto Comunista (1848) e a Revolução e Contra-Revolução na Alemanha (1849), Marx fala em oito classes: a nobreza feudal, a burguesia, a pequena burguesia, as classes rurais altas, média e os pequenos agricultores (baixa), os servos da gleba, o proletariado rural e urbano.

No trabalho “A Luta de Classes na França” (1848-1859), já se refere a sete classes: as burguesas financeiras, industrial e comercial, a pequena burguesia, a classe rural, a classe operária e o proletariado miserável (lumpen proletariat).

No livro “O 18 Brumário de Luiz Bonaparte” (1852), só distingue a burguesia financeira, o proletariado e a classe rural.

Enfim, no capítulo interrompido do III volume de “O capital”, Marx alude aos proprietários rurais, à burguesia e ao proletariado”.

Marx interrompeu a redação do último volume de “O capital”, precisamente no capítulo que devia tratar das classes sociais, não teve assim tempo, nesta obra de síntese geral, de fixar sua posição definitiva diante de problemas. Nos escritos anteriores, ele distinguira três, sete e mesmo oito classes sociais. Daí se compreende a hesitação que revelam os autores marxistas.

É possível, porém, definir um certo número de itens relacionados ao problema das classes sociais, que são endossados, pela maioria dos marxistas ortodoxos:

a) o que define a classe não é o nível de riqueza ou de renda, mas a identidade de função desempenhada no processo econômico [a posição na divisão de trabalho imposta].

Diversos indivíduos pertencem a diversas classes, conforme as diversas funções que desempenham no processo produtivo por outras palavras, conforme o trabalho que executam, logo, confirma-se a tese de que a divisão da sociedade em classes estaria ligada à divisão social do trabalho!

Stalin, em seus discursos iniciais, confirma isso;

b) É o tipo de trabalho, ou as relações que o homem mantém com a natureza, que determinam seu nível de vida, sua consciência, ideologia, cultura, atitude política. Homens que executam a mesma função na produção tendem a ter o mesmo nível de vida, a mesma consciência coletiva ideológica idêntica, a mesma aspiração com respeito aos mecanismos políticos.

Tais elementos aparecem, pois, como outras tantas conotações que devem ser incluídas no conceito marxistas de classe. Como compreende Marx esta influência do trabalho sobre a formação da consciência, da ideologia? Tomemos o exemplo do proletário. O regime capitalista funciona à base da apropriação dos meios de produção de seu trabalho e lhe pagam um salário que, pelo próprio mecanismo do mercado de trabalho em regime capitalista, nunca pode se manter acima do que é estritamente necessário para a subsistência do proletário.

O regime opera assim na separação violenta de dois seres, que naturalmente deviam estar unidos: o operário e o fruto de seu trabalho. Em outros termos, o regime opera uma alienação”.

Enrique Dussel também escreveu no livro citado no início deste capítulo:

O mais importante para nós, em vista de uma filosofia política latino-americana, é que nos Estados neocoloniais surge uma classe oprimida externa ou periférico-mundial, marginalizado do sistema internacional e dos conglomerados internacionais. São os pobres do mundo, a extrema miséria do “sistema”, que com seu “infra-trabalho” (sofrimento sem limite) gera uma consciência revolucionária nova na história mundial. Eles levantam seu rosto E fazem os “bogotazos” (1948), são os “condenados da terra” que clamam: vox populi vox Dei! Não se deve esquecer que mais de 50% da população da América Latina está marginalizada. Todavia é somente pela consciência da classe operária que se realizará a revolução”.

Depois do “bogotazo”, veio Medellin, Puebla e mais tarde veio o Forum Social em Porto Alegre, em 2001, 2002 e 2003.

Pelos textos acima, fica claro que a doutrina da Igreja busca extinguir as classes opressoras e também a SITUAÇÃO PROLETÁRIA, o proletariado.

A Igreja busca extinguir a diferenciação das pessoas pelo gênero do trabalho, ou seja, as classes sociais. Tem como ideal a igualdade social. Este ponto ficou bem claro no V Congresso Mundial da Juventude Operária Católica (JOC), em abril de 1975, em Linz, Áustria. Foi aprovado o ideal de uma “sociedade sem classes”, sem “exploração”.

O Cardeal Joseph Cardjn (1882-1968) foi o criador da JOC e o formulador do método “ver, julgar e agir”, que foi endossado por João XXIII, na “Mater et Magistra”.

Conclusão: o ideal de superação das classes é outra ponte de contato entre cristãos e socialistas, ponte esta que se amplia pela recuperação das fontes cristãs do socialismo pré-marxista e pelo diálogo entre cristãos e marxistas (que destaca as influências cristãs em Marx, as verdades ensinadas pelo mesmo e os pontos científicos do marxismo). Pelo ecumenismo com as correntes socialistas e comunistas.

Os livros e os textos de Oscar Cullmann (com o mote “unidade pela diversidade”) ou de Fries e Rahner (no livro “A união das Igrejas, uma possibilidade real”) são bons exemplos para serem aplicados no diálogo com os socialistas. Dom Hélder chamava Cullmann de “Congar protestante” e o apreciava muito.

Oscar Cullmann escreveu o livro “Cristo e a política” (Rio, Ed. Paz e Terra, 1968, tradução de Marina Bandeira). Nesta obra, Cullmann destaca que, desde o início, os primeiros cristãos recebiam a lição que deveriam cooperar com o Estado para o bem comum, tal como atuarem como “sentinela sobre o Estado”, em “posição crítica”, para “adverti-lo contra qualquer transgressão de seus limites legítimos”, inclusive pela desobediência.