Deus nos criou para nos movermos à luz do Diálogo, pela Educação, pela Democracia Popular

A comunhão de bens e de poder – a DEMOCRATIZAÇÃO DOS BENS, DO SABER, DO PODER – é o ideal que foi sintetizado no cântico “Magnificat”, de Maria.

Este cântico é o cântico-lema da Teologia da Libertação e do melhor da Tradição da Igreja.

Maria louva Deus pelo processo constante de elevação dos caídos, de difusão de bens e do poder, pela derrubada dos “ricos” e dos “poderosos” (dos que monopolizam os bens e o poder, a gestão social).

Deus quer a eliminação (erradicação) da miséria, do analfabetismo, dos cativeiros-prisões, da reificação, da exploração, da extração da mais valia etc. 

O “Magnificat” contém o ideal da difusão (democratização) do poder e dos bens, para todos.

A Igreja, o próprio Deus, quer a destinação universal dos bens, do poder, do saber, da alegria, da saúde, da vida abundante e plena.

A doutrina social da Igreja tem idéias gerais (princípios, diretrizes, critérios etc) que constituem as linhas gerais do que se convencionou chamar de socialismo democrático ou trabalhismo. 

As ideias sociais da igreja, a ética social, defendem um sistema político, econômico e social, baseado no bem comum, na cooperação solidária, na gestão social pautada pelo logos, pela palavra, pelo convencimento racional, pelo diálogo, pela sabedoria popular, baseada no Poder Popular.

Como explicou a Congregação para a Educação Católica, no documento “Orientações para o estudo da Doutrina Social da Igreja”, a Doutrina Social da Igreja tem “princípios fundamentais” e também “juízos morais sobre situações, estruturas e sistemas sociais”. Hierarquicamente, a parte mais importante é o conjunto de “princípios fundamentais”.

Os princípios políticos principais do CATOLICISMO são os princípios da dignidade (centralidade, sacralidade) humana; da destinação universal dos bens e do poder (do bem comum, da comunhão de bens); do princípio “a cada um segundo suas necessidades”, que deve reger a distribuição dos bens; da comunhão; da regência da sociedade pela via do diálogo; da igualdade, da fraternidade, da liberdade; da solidariedade etc.

A doutrina social cristã tem uma concepção (“noção”, “teoria”, idéias gerais) jurídica, pedagógica, política, sociológica, antropológica e econômica.

A idéia nuclear é o primado da pessoa e sua dignidade e centralidade, com o corolário da regra da destinação universal dos bens, que é a realização da dignidade. Cada estrutura social deve ser moldada para defender a dignidade humana.

Deus (a ação divina, a Providência) atua no mundo principalmente através do poder das idéias verdadeiras, idéias que produzem, protegem e promovem o bem comum, a difusão de bens para atender às necessidades reais das pessoas.

Como a Bíblia e Cícero explicaram, toda idéia verdadeira é também uma idéia útil, benéfica, correlata ao bem comum.

Cristo explicou que uma boa idéia, uma idéia verdadeira, é uma semente do bem comum. As boas idéias devem ser semeadas, germinadas, adubadas, colhidas e novamente plantadas, ampliando o círculo do bem comum, num processo histórico sem fim, virtuoso, benéfico, heliocoidal, como explicou Vico.

A forma humana de geração e difusão de boas idéias, que são fontes naturais do bem comum, é o diálogo.

A sociedade é bem regida e movimenta-se naturalmente, como Deus quer, quando movimenta-se pelo diálogo e quando isso ocorre, a sociedade move-se para a realização e ampliação do bem comum.

O diálogo (logo, a DEMOCRACIA) é a forma humana para gerar as idéias necessárias para a boa regência (organização, planejamento) da vida social, para a concretização do bem comum e seu aumento, pela eternidade afora.

As idéias verdadeiras estão presentes no diálogo do povo, na sabedoria do povo, na cultura popular, que expressa a sabedoria divina, como já explicava Cervantes, no livro “Dom Quixote”.

A Tradição é o Diálogo, é o rio das idéias verdadeiras, na história, sendo a bússola e a luz (tao), para o caminho para uma vida plena e digna, para todos.

O “Caminho” para uma Vida social plena é o Caminho do Diálogo, sendo este o Caminho do Bem comum, da união das pessoas entre si e com Deus, o Amor, o Bem vivo.

As idéias verdadeiras nascem do diálogo do povo, visando sempre o bem comum. As idéias verdadeiras são sempre idéias úteis e benéficas ao povo, como explicou Cícero, no “Tratado dos deveres”, lição adotada por Santo Ambrósio, São Basílio, Santo Agostinho e pelos demais Santos Padres da Igreja, pois coincide com a lição da Bíblia, sendo também uma lição racional.

Como explicou Frei Luís de Granada, no livro “Guia dos pecadores” (livro I, cap. XIII), a graça, a ação do Espírito Santo, é “uma participação da natureza divina” em nossa natureza, produzindo “santidade”, idéias de “bondade”, justiça e todas as virtudes.

Deus deifica a natureza humana, aperfeiçoando-a, realizando a essência humana, planejada pelo próprio Criador, para uma vida de comunhão (como explica o dogma da comunhão dos santos). Isso ocorre principalmente pelo fluir das idéias verdadeiras, um fluir dialogal, que forma o rio da Vida.

Conclusão: a Igreja tem uma doutrina social, com idéias gerais sobre a política, o Estado, o direito, a economia, a sociedade etc.

Esta doutrina ensina que o governo natural da sociedade deve ser como o governo de Deus sobre as pessoas, pela via do diálogo. O “rio da vida” é o diálogo, pois este é a fonte das idéias (caminho) para uma vida pessoal, familiar e social, abundante, plena e digna.

A governo divino opera pelo diálogo e assim deve ser o governo humano.

Deus atua pela mediação do diálogo.

Deus, pelo diálogo interno, torna cada pessoa “consorte e participante da natureza divina” (cf. “Guia dos pecadores”, livro II, cap. III), gera uma união natural e sobrenatural das pessoas, uma comunhão, visando o bem comum.

A ação divina forma uma irmandade natural ETERNA, uma comunhão mística e viva, para realizar e ampliar o bem comum, dentro da espiral da eternidade.