A Igreja sempre defendeu o cooperativismo, mesmo Pio X, em 1907, elogia o cooperativismo, como base de uma boa economia

Sarandy Lobo foi um grande cooperativista brasileiro, no início do século XX.

Foi elogiado por Luís Amaral, um grande católico, no livro “Tratado brasileiro de cooperativismo” (São Paulo, Revista dos Tribunais, 1938). 

Sarandy ensinava que as comunidades cooperativistas foram criadas pro causa dos socialistas cristãos.

Sarandy Lobo adotou uma forma eclética de socialismo, combinando idéas de origem sindicalista (do sindicalismo francês, tendo como exponentes Sorel, Berth e outros), anarquista e também comunista. Ao mesmo tempo, reconhecia os valores éticos do cristianismo e reconheceu que o cristianismo é precursor do socialismo.

Lobo defendia a difusão de cooperativas a partir da organização sindical. Os comunistas (o antigo Partido Comunista do Brasil) apoiaram Sarandy nos anos 20 do século passado. Por causa deste apoio, Sarandy foi bastante atacado por alguns anarquistas, especialmente por Edgar Rodrigues, no livro “Novos Rumos” (da Editora Mundo Livre).

C. A. de Sarandy Raposo, na obra “Theoria e pratica da cooperação (da cooperação em geral e especialmente no Brasil)” (3.ª edição, pp. 20-37), escreveu bons parágrafos sobre a história do cooperativismo:

É claro, portanto, que esse significado moral exprime o fruto de uma revolta econômica, a negação da humildade preconizada pelos primeiros interpretes e representantes do cristianismo e confirma a nobreza da original doutrina de Fourier, só assimilada, e isso mesmo em parte, em 1840, na Inglaterra, quando o espírito cristão se inclinou para o socialismo, combatendo uma política perturbadora.

Os socialistas cristãos volveram o espírito do povo inglês para ideais mais nobres; animaram os homens a seguir altíssimo sentimento de mútuo dever e à concepção do comum esforço para o bem geral.”

“Não foi, porém, completa a assimilação pelos socialistas cristãos, e nem podia ser, em face dos vícios da educação que prepara o caráter dos seus principais orientadores: – fizeram obra filantrópica, quase de assistência, sem a base fraternal que alicerça o ideal cooperativista”.

“Foi, no entanto, de alguma forma benefício esse movimento, porque despertou iniciativas, originando novos estudos e novas práticas. Quatro anos depois, em 1844, era completamente interpretado e praticado o ideal de Fourier, o qual pode ser reproduzido nestas palavras de notável economista italiano:

O conceito da cooperação em particular e como forma geral de organização econômica é, no fundo, um conceito socialista, implicando uma economia coletiva, na qual todas as funções serão exercidas coletivamente, todas as necessidades satisfeitas coletivamente e não só confundidas as pessoas e os interesses dos produtores e consumidores, mas organizada toda a economia conforme as necessidades combinadas de todos”.

“Era esse o conceito aparentemente comunista e francamente fraternal que faltava às sociedades de 1794, instituídas pelo bispo de Durham, e até às de 1830-1840, fundada pelos socialistas cristãos na Inglaterra”.

“Devemos, portanto, a Fourier o ideal cooperativista, pois só ele sonhou com a felicidade humana, profetizando a união do trabalhador, do proprietário e do consumidor, sem que a indolência feliz e farte humilhasse o trabalho necessitado. (p. 20) (…)

“Charles Gide revela-se, infelizmente, muito parcial no estudo da cooperação na Bélgica.

O clero tem sido, ali, o principal, o mais ativo propagandista das associações agrícolas. Quase sempre é o pároco o inspirador da fundação de instituições econômicas. Isso, porém, se explica: o campônio belga confia cegamente nos seus padres. Os socialistas não contestam essa verdade: “As crenças religiosas, dizia um revolucionário militante, Wauters, no congresso socialista agrícola de 1899, têm geralmente conservado profundas raízes nos cérebros, dos trabalhadores agrícolas e os párocos têm ainda fortíssimas influência, principalmente nas regiões flamengas”. (…)

“A Bélgica é, portanto, a vítima de duas tiranias, ambas cerceadoras da liberdade individual. Para tudo há, porém, um consolo, que nos anima, recordando-nos a vitória das leis naturais… O socialismo belga perde já os seus exageros revolucionários e o catolicismo, totalmente dominado pela febre de uma vida intensa e produtiva, não nos dá a impressão de “um corpo estéril e congelado na imobilidade da morte”. Sobre tudo isso, os próprios operários católicos, à procura de melhor compreensão da lei do trabalho, dizem: “Desde que nos demonstrem que uma das nossas reivindicações é contrária à doutrina católica, estaremos dispostos a abandoná-la”. (pp. 32-33).(…)

“Sobre isso, as administrações inteligentes, dominadas, talvez, por bem entendido sentimento de fraternidade, procuram eliminar os elementos interesseiros, partidários e perturbadores; e o próprio Vaticano, num belo gesto de fraternidade humana, proibiu ao clero que se envolva na direção das associações cooperativas, ao mesmo tempo que as enaltece e as recomenda como instituições capazes de confraternizar a humanidade em conquista do bem estar, da paz e do amor.

“Eis esse belo documento, datado de 18 de novembro de 1911, do Papa Pio X:

Segundo os ensinamentos do apóstolo Paulo (Nemo militans Deo implicat de negottis saecularibus) é uma lei contínua e uma santa doutrina da Igreja que o clero não se deve preocupar de negócios profanos, à exceção de certos casos extraordinários de dispensa especial, e sim considerar-se como estranho às coisas terrestres. Por esta razão é necessário que o clero, segundo as indicações do Concílio de Trento, observe o melhor possível as prescrições relativas à abstinência de negócios terrestres que lhe forem impostos.

visto que em nossos dias, com a graça de Deus, no mundo cristão, muitas obras terrestres têm sido fundadas para benefícios terrestres dos fiéis, como, por exemplo, bancos, institutos de crédito, cooperativas agrícolas de empréstimo e caixas de economia, essas obras devem ser aprovadas pelo clero. Este último não deve, apesar disso, fugir da sua verdadeira missão e se expor aos aborrecimentos e aos riscos inerentes a semelhantes negócios.

Eis porque o Santo padre, autorizando totalmente o clero a amparar com seus conselhos a sua ação a formação e o desenvolvimento de tais instituições proíbe expressamente por este decreto ao clero e bem assim aos padres seculares e membros de ordens e congregações aceitar posições administrativas que lhes possam trazer inquietações, obrigações e riscos, tais como as de presidente, diretor, administrador, caixa, etc. E, aqueles que as tenham aceito, ordena que se retirem”.

“Esse decreto, que é hábil e poderosa confirmação dos nossos princípios na parte referente aos malefícios originários das instituições partidárias ou sectárias, tem sido transcrito e comentado por quase todas as publicações cooperativistas, e a Verbanda Kendgahe bavara termina seu artigo com o seguinte e expressivo período:

Sobretudo, não é para crer que o decreto acarrete males às cooperativas bávaras, porque estas últimas já estão, graças ao aperfeiçoamento da instrução popular, bastante independentes para ter ainda necessidade da colaboração ativa do clero”.

“Em resumo: todos os povos compreendem hoje que a única doutrina econômica capaz de guiá-los, confraternizá-los, torná-los felizes, é a cooperação. Os governos dos principais países limitam-se a instruir e propagar a instituição de tais sociedades, no seio das classes produtoras, por meio de cursos ambulantes de cooperação e trabalho”.

Sarandy, no texto acima, tal como em outros, explicitou seu ideal cooperativista e seu apreço pelo cristianismo. Reconheceu que o Vaticano apóia a difusão das cooperativas. O livro “Roma, de Zola, também reconheceu este fato.

O PC do B (sigla que abrigava o atual PC do B, os prestistas e o PPS) tinha sólida aliança com Sarandy na década de 20 do século XX. Eram os textos do texto “Agrarismo”, de Otávio Brandão, que defendia sólida Frente entre trabalhadores assalariados, pequenos burgueses e camponeses, uma boa linha. Estas idéias foram utilizadas no desenvolvimento do movimento comunista, no Brasil.