O projeto (plano) divino visa difundir os bens e o poder para todos, é uma Projeto republicano, democrático, no fundo, Deus quer divinizar as pessoas, sendo este o núcleo do Projeto Divino.
Deus quer divinizar as pessoas, tornar as pessoas “poderosas” (de “kratos”, “fortalecer”, cf. Ef 6,10), “fortalecer” cada pessoa (do grego “ischus”, “fortaleza”, em 2 Ts 1,9; “coragem”, cf. “Laques”, de Platão).
Deus quer ampliar nossa liberdade de ação (do grego “exousia”, em Lc 12,5 ou At 1,7, por isso, os anjos são chamados de “poderes”, cf. Ef 3,10), e a Bíblia diz que “seremos como Anjos”, com corpos espirituais materiais, eternos, poderosos etc, para cultivar e melhorar o universo, renovado, eternamente.
A pessoa com graça é uma pessoa iluminada, com poder (de “dýnamis”, cf. Mt 26,64; Mc 6,5; At 2,22, faz milagres, controla a natureza, cura doenças, repara males, liberta etc).
Deus é o Poder que liberta (daí, teologia da libertação), que compartilha a divindade, que divide o poder (estar em graça significa estar unido ao Poder divino, compartilhar do poder).
O termo “poder” é a tradução de “potestas” (em latim). Em grego, no texto do Novo Testamento, o termo “poder” aparece nas palavras gregas seguintes: “exousia”, “dýnamis” (que gerou o termo “dinâmica”, “dinamismo”) e “energeia” (que gerou a palavra “energia”, mas significa trabalho, daí, “erg”, de “ergos”, trabalho).
FRISO – POTENCIA É PODER (capacidade, potencial, capacidade de trabalho), E ENERGIA É TRABALHO (força de trabalho), no sentido bíblico e em boa parte da física.
Em Mt 28,18-19, significa uma atribuição dada a membros da Igreja para servir aos demais.
O termo “dynamis” (que é escrito também como “dunamis”) é usado mais como “capacidade” para o trabalho, potência, poder.
Há ainda o termo “biaios”, de “bia”, “força”, como poder violento, mau. E “ischus”, de “vigor”, “pujança”. No sentido mais político, o termo principal grego é “exousia”, que vem da raiz “echo”, “ter”. Há ainda “kratos” e “arché”.
O termo “poder” (“dýnamis”) aparece cento e vinte vezes do Novo Testamento (de Mat 6,13 a Ap 19,1). Os termos “dúnamai” e outros aparecem dezenas de vezes. Também aparece o termo “Exousía” (“poder”, “autoridade”, “direito de fazer algo”) e este termo aparece centro e três vezes no Novo Testamento. Outro termo que aparece muitas vezes é “krátos” (“poder”, “força”). Também há outras palavras, como “huperetes” (“ministro) e “praktor” (agente público).
No “Antigo Testamento”, a idéia de “poder” aparece nas seguintes palavras: “koach”, que também se escreve “koah”, (cento e vinte e quatro vezes, por exemplo, em Gn 31,6). Há também “oz” (noventa e quatro vezes).
A idéia de poder aparece na palavra “geburah” (“poder”, sessenta e uma vezes). E há ainda “yakol”, como “capacidade” (cerca de duzentas vezes, no Antigo Testamento). Também há a idéia de poder nas expressões “reino”, com os termos hebraicos “melukah”, “maleku”, “Malekuth”, “Mamiakuth” e, principalmente, com a palavra grega “Basiléia” (usada centro e sessenta vezes no Novo Testamento, para designar a idéia de “Reino de Deus”).
Em outras palavras, “poder”, no Antigo e no Novo Testamento, tem um sentido positivo se estiver associado à idéia de bem, de lei, norma e de razão, de apoio a vida.
Pode, assim, significar “ministério”, “múnus”, “ofício”, “tarefas”, “deveres” em relação ao bem comum. Como explicou Romano Guardini, no livro “Il potere” (Brescia, 1957), o poder só se justifica, só se torna justo, legítimo, quando é um serviço, é uma ajuda às pessoas, à sociedade.
A expressão “Reino de Deus”, Igreja, Assembléia, significa a comunidade das pessoas associadas a Deus, ao poder de Deus, como fica evidente em Salmos 103,19 ou em Ez 1,26-28. Reino de Deus significa, assim, Comunidade Amorosa, Comunhão, República ligada a Deus. Enfim, pessoas que compartilham a natureza, o poder de Deus.
Em todos estes termos, fica claro que há o poder bom e o poder maligno. O poder bom é o poder movido pelo diálogo, racional, verdadeiro, pautado pelo bem comum.
O poder maligno é o poder tirânico (oligárquico), fundado na mentira, no erro, na força, na violência, que age para prejudicar e matar a vida. Da mesma forma, nas imagens sobre o inferno predomina o ódio, o isolamento, a falta de amor ao próximo.
FRISO QUE INFERNO É A AUTO-EXCLUSÃO da pessoa em relação ao outro e a Deus. Não é Deus quem manda alguém para o inferno, é a pessoa que odeia Deus e quer ficar afastado, após a morte. SE as pessoas no inferno mudassem de ideias, Deus as acolheria. O problema não é Deus, e sim a ruindade das pessoas, que insistem em viver com ÓDIO a Deus e ao próximo, e ao Universo, em vez de cultivarem em si mesmas o Amor, as idéias do bem comum.
João XXIII (1881-1963) explicou, na “Pacem in terris” (n. 46-51), que a autoridade legítima promana de Deus, como Causa Primeira e Causa Final, mas não diretamente, e sim pela mediação das pessoas, da natureza, da consciência, da lei natural, das idéias racionais e verdadeiras, presentes em todos, conducentes ao bem comum. O poder vem de Deus, pela mediação do Povo, vem do Povo, diretamente, imediatamente, vindo de Deus, por mediação, não imediatamente.
Esta concepção já estava em Aristóteles. Este grande filósofo, ao estudar o movimento, no livro VIII da “Física”, distinguiu entre o Primeiro Motor (“Kinoun prôton”) e os motores segundos (“kinêson”), as causas segundas, mediações da ação divina.