A Igreja combate a Internacional do Capital, nos termos de Dreyfuss, sendo contra a globalização neocolonial liberal

A Igreja luta contra os planos de globalização neocolonial neoliberal, planos engendrados pelas Multinacionais, pela CIA, pelo FMI, pelo Banco Mundial, pela OMC, os Encontros de Davos, pela Internacional do Capital (cf. René Armand Dreyfuss).

Nos países socialistas da África, o conceito de domínio eminente da sociedade (o Estado, atuando em nome da sociedade, tem o direito de controlar o fluxo produtivo, o processo produtivo, tese da Doutrina da Igreja) ressuscitou com força, após se libertarem da situação de colônias.

Por exemplo, Leopold Sedar Senghor, do Senegal, escreveu: “Na África negra não existe o direito possessivo. Existe somente o direito de uso, a propriedade usufrutuária. O domínio eminente da terra não corresponde ao homem. As terras são inalienáveis, porque não se pode alienar o que não nos pertence”.

Senghor foi o poeta da “negritude”. Ao tomar o poder, em 1960, defendeu um “socialismo africano”, com base nas estruturas comunitárias africanas. Senghor dizia que o socialismo já existia na África. Escreveu “Um caminho africano do socialismo” (editado no Brasil, pela Editora Record, em 1965). Defendia que o socialismo deve buscar as fontes humanistas, históricas e mesmo as bases religiosas, sem desprezar o marxismo. Governou até 1980, abandonando o governo voluntariamente.

No Quênia, que se tornou independente em 1963, Jomo Kenyatta elegeu-se presidente. Kenyatta foi educado numa escola religiosa e chegou a ser pastor em Nairobi.

Em Gana, um país com cerca de quinze milhões de habitantes, Kvame N’Krumah organizou o Partido da Convenção em 1948. Tornou-se primeiro-ministro em 1952. Em seu discurso de posse, proclamou-se “socialista, marxista e cristão”. Lutou pelo resgate dos recursos naturais, contra o imperialismo, pela industrialização de base, pela reforma agrária, por um sistema público de educação e saúde etc. Morreu exilado em 1972.

O socialismo nasserista, religioso e respeitoso aos cristãos, meio ecumênico, de Nasser, tentou recuperar as raízes egípcias e árabes do socialismo, de fundo religioso. Depois, o nasserismo gerou o Baas, partido existente no Iraque e Síria, socialismo com respeito à religião.

Estas raízes foram apontadas, no século XIX, por Barthélemy Prosper Enfantin (1796-1864, autor de “A vida eterna”, em 1861, com textos de elogio ao cristianismo).

Enfantin foi um sansimoniano socialista muito religioso (adepto de uma forma de panteísmo ligado ao sansimonismo) e escreveu um livro sobre a Argélia (“Colonização da Argélia”, 1843) com notas sobre o Egito, onde elogia as idéias sobre domínio eminente (no fundo, destinação universal e geral dos bens, cabendo a cada pessoa uma cota-parte deste bem comum) nestes países e no islamismo.

O Coronel Gamal Abdel Nasser combinou socialismo, nacionalismo e também respeito e resgate dos valores religiosos comunitários do povo egípcio e, assim, auxiliou, efetivamente, a libertação do Egito. No fundo, era a mesma base de Perón, tal como dos militantes da Indonésia, do Irã, da Guatemala, do México, do Brasil, do Equador, da Argentina etc. 

O nacionalismo dos povos oprimidos – destacando o interesse nacional ou social – repeliu o liberalismo econômico, a globalização neoliberal neocolonial, defendendo que os interesses privados (o bem individual) devem ser limitados pelo interesse nacional, ou seja, pelo bem comum.

Na Bolivia, por exemplo, vários movimentos nacionalistas nacionalizaram o estanho e outras riquezas naturais, especialmente os minérios. O combate contra a Rosca, contra o imperialismo, honra a história da Bolívia, que Evo Morales dá continuidade. Idem para o Equador. Escritores como Augusto Céspedes (autor de bons livros contra Simõn Patiño e o imperialismo) mostraram a importância desta corrente política antiimperialista.

Getúlio Vargas, ao estatizar o petróleo (seguindo os passos de Cárdenas no México) é outra prova da ligação do nacionalismo antiimperialista com a teoria do domínio eminente da sociedade, do povo, da nação.

O nacionalismo econômico (protecionismo, planejamento, estatais etc) tem muitas afinidades com a doutrina da Igreja. No núcleo deste nacionalismo está a teoria do domínio eminente da sociedade, ou seja a teoria do bem comum (os bens são comuns, devendo o Estado ter controle sobre seu fluxo e uso, para realizar a destinação universal e geral dos bens, para atender às necessidades humanas, com prioridade para as necessidades primárias, e para os mais necessitados.

Os textos de Eduardo Prado, Sezerdelo Correia, Alberto Torres (elogiado por Alceu Amoroso Lima), Barbosa Lima Sobrinho, alguns textos de Getúlio Vargas, Bautista Vidal, Benayon do Amaral (combinando nacionalismo e distributismo em textos primorosos) provam estas ligações.

O livro de José Dias da Silva, um grande economista, “Brasil, país ocupado” ( Editora Record, em 1963), segue, em seu nacionalismo, as linhas básicas da teoria do domínio eminente.

Augusto Sandino na Nicarágua (o padre Cícero, no final da vida, fez bons elogios a Sandino pelo nacionalismo e pela luta contra o imperialismo), Juan Bosh (na República Dominicana, especialmente no livro “El pentagonismo, substituto del imperialismo”), o peronismo na Argentina (elogiado por Prestes; por Mao Tse Tung; por Vittorio Codovilla, presidente do Partido Comunista Argentino e outros) também amparam a afirmativa que o nacionalismo antiimperialista é pró-socialista, socialismo democrático, de economia mista.

Hipólito Yrigoyen (1851-1933), presidente da Argentina, de 1916 a 1922, em seus escritos, invocava a Deus e se inspirava no cristianismo (como pode ser lido no livro “Vida de Hipolito Yrigoyen”, de Manuel Galvez, Editorial Tor, Buenos Aires, 1945). Dirigiu o partido radical e, em sua época, foi progressista, defendendo uma forma socializante de nacionalismo econômico. Foi o antecessor de Perón. 

O nacionalismo econômico e trabalhista na África do Sul é a filosofia principal do partido de Mandela, como pode ser visto nos livros e nas biografias (e autobiografias) deste líder africano. Mandela foi inspirado pela religião e teve a aliança do bispo Desmond Tutu para auxiliar sua luta na África do Sul, que contou também com a parceria importante dos comunistas.

Nesta mesma linha, o livro do católico-marxista James Connolly, “Nacionalismo e imperialismo” (Editora Laiovento, em 1993), é exemplar, sendo muito lido pelos membros do IRA e do ETA (surgiu em 1959, com uma cisão do Partido Nacional Basco), dois grupos nacionalistas socializantes, profundamente antiimperialistas, com raízes religiosas.

Connolly fundou o Partido Republicano Socialista Irlandês (ISRP), em 1896, combinando catolicismo com marxismo. Escreveu várias obras, como “Novo Evangelho”, em 1901. E lutou pela independência da Irlanda do imperialismo inglês.

No Uruguai, José Battle y Ordoñez foi o líder do Partido Colorado, de 1903 a 1929. Teve atritos com a Igreja, mas morreu consolado e reconciliado com a Igreja, graças às Irmãs de Caridade, a ordem criada por São Vicente de Paulo.

Os tupamaros são outra prova clara da ligação entre socialismo, nacionalismo e inspiração religiosa. Este partido uruguaio tinha o nome oficial de Movimento de Libertação Nacional MLN-Tupamaros. Lembra a velha ANL da década de 30, no Brasil, que, na linha das frentes populares defendida por Dmitrov, defendia a união dos comunistas, com os socialistas e os religiosos progressistas. Tinha pontos em comum também com a ALN, de Marighella, que se aproximou dos cristãos, especialmente dos dominicanos (Frei Betto e outros).

Os tupamaros usaram este nome em homenagem a Tupac Amaru, líder inca, que combateu os espanhóis quase simultaneamente com as lutas dos jesuítas e de Sepé Tiajaru em defesa da República dos Guaranis.

José Gabriel Tupac Amaru (1740-1781) morreu como mártir, em maio de 1781. Teve a língua cortada e os pés e as mãos foram amarrados a quatro cavalos para ter o corpo rasgado. Depois, a cabeça foi decepada. O mesmo foi feito com a esposa do mesmo (Micaela Bastidas). Tupac Amaru nasceu a 25 léguas de Cuzco, no Peru. Era descendente do inca Tupac Amaru I, morto em 1572. Primeiro, estudou com dois padres (Antônio López de Sosa e Carlos Rodríguez de Ávila) e, depois, estudou num colégio dos padres jesuítas. Foi influenciado pelo livro de um antigo frei, chamado Inca Garcilaso de la Vega (1539-1616), conhecido como “o Inca”, que também descendia dos governantes incas. O Inca escreveu o livro “Comentários”, que inspirou Tupac Amaru. Dentre as fontes ideológicas de Tupac se destacam a tradições comunitárias ligadas à propriedade comunitária, mas o cristianismo também teve seu papel e por isso Amaru se deslocava com um capelão, em muitos casos. A rebelião de Tupac quase acabou com o imperialismo espanhol, pois ele se opôs a escravidão e a várias outras formas de exploração dos trabalhadores. Foi paralelo à luta dos jesuítas, na República dos Guaranis, no Brasil, no Paraguai, na Argentina e no Uruguai. 

O movimento Tupamaro nasceu de um rompimento com a esquerda tradicional, sendo um movimento nacionalista de inflexão socialista, como a própria MLN (Movimento de Libertação Nacional) se autodefinia. Foi um movimento heterogêneo, unindo nacionalistas, marxistas e católicos.

Os tupamaros se distinguiam pela denúncia contra a corrupção dos governantes, atacando o governo de Pacheco-Bordaberry. Raúl Sendic (nascido em 1925) foi o principal líder, ligado ao movimento camponês, aos plantadores de cana-de-açúcar. Sendic participava de batizados, como padrinho de crianças e esboçou um amplo plano contra a miséria, de ampla seguridade social. Os tupamaros cultivavam o pluralismo, tendo em seus quadros militantes anarquistas, socialistas e comunistas. O movimento durou de 1963 a meados da década de 70, e surgiu como um “braço armado” do partido socialista. A Frente Ampla, no Uruguai, considera os tupamaros como precursores. Mojica tem Raul Sendic como inspiração grande. 

Os montoneros, na Argentina, têm origens semelhantes. Houve uma cisão entre os peronistas e daí surgiram os montoneros, unindo nacionalismo, socialismo e ligações com a Igreja.

O nacionalismo, no Peru, com o General Velasco Alvarado, seguiu a mesma linha de pluralismo. Omar Torrijos no Panamá, foi apoiado por escritores ligados à Igreja. Estes movimentos tiveram pontos positivos, pois são antiimperialistas e socializantes.

O aprismo, no Peru, criado por Vitor Raul Haya de la Torre, teve este nome com base nas iniciais do nome do partido – Aliança Popular Revolucionária Americana APRA. Apontava corretamente que o capitalismo dependente na América Latina tem como principal base de apoio o imperialismo, as multinacionais, o comércio externo e as dívidas públicas. O aprismo defendeu os índios, a pequena propriedade, a democracia, a soberania nacional e a libertação da América Latina. Infelizmente, com o passar do tempo, foi mal influenciado pelo neo-liberalismo, mas teve seu papel precursor.

No Brasil, os livros de Barbosa Lima Sobrinho (por exemplo, “Desde quando somos nacionalistas?”, da Ed. Vozes, 1995), ou obras de Paulo Schelling, Catulo Branco, Osny Duarte Pereira (desde a obra “Direito Florestal Brasileiro”, de 1950, em defesa das florestas brasileiras), Sérgio Magalhães, Bautista Vidal e outros adotaram a mesma linha de defesa dos interesses nacionais, da soberania nacional, de defesa do domínio eminente da sociedade.

Ignacy Sachs, no livro “Capitalismo de Estado e desenvolvimento” (1962) elogiou Getúlio Vargas, o modelo nacionalista da Índia (de Nehru), Cárdenas no México, o Japão (o livro de Barbosa Lima Sobrinho, um dos maiores nacionalistas do Brasil, se apóia no exemplo de nacionalismo deste país.

Sachs elogiou Gandhi, Roberto Simonsen (um empresário que defendeu a planificação e que não deve ser confundido com o entreguista do governo militar), Gunnar Myrdal, François Perroux, Aristóteles Moura, Nkrumah, Strachey, Michael Kalecki, Oscar Lange e outros. Estes autores, em geral, amparavam suas idéias, em geral de forma implícita, na teoria do domínio eminente da sociedade. O socialista sueco Gunnar Myrdal é bem próximo das idéias de um Colin Clark e de outros pensadores ligados à Igreja.

No “Livro verde”, de Kadafi, há a frase: “a terra não é propriedade de ninguém”. A mesma idéia contida numa música interpretada e imortalizada pela maior cantora brasileira de todos os tempos, Ellis Regina: a terra não pertence especificamente a ninguém, sendo destinada a todos, especialmente aos que nela trabalham. A autoria da música é de Marcos Valle e de Paulo Valle. O agricultor tem o direito de cultivar a terra, sem empregar outras pessoas, assalariadas ou não, para trabalhar a terra. A pessoa tem o direito a casa própria, que pode passar ao herdeiro, mas não pode alugar a casa. Kadafi ampara estes princípios socialistas na religião e na lei natural.

Kadaffi esboçou uma forma de socialismo líbio, que seria a “primeira verdadeira democracia depois da Grécia antiga”. O pequeno livro verde se apresenta como a “terceira teoria universal”. Tem clara inspiração em Rousseau. Vejamos as palavras de Kadaffi: “não haverá polícia, nem governo, nem escravidão assalariada: cada líbio terá sua casa, seu carro e suas necessidades asseguradas”.

No mundo islâmico há também o conceito de Shura, ou “conselho participativo”. Estes conselhos ou shuras são usados pelos socialistas no mundo islâmico como base do diálogo com os religiosos.

A revolução iraniana, com Khomeini, somente ocorreu com os partidários antigos de Mossadegh, com o Tudeh de origem marxista etc.

No Iraque, o partido Baas, Árabe Socialista, elaborou formas de socialismo com base nas tradições históricas. Baas significa renascença, ressurgimento. É certo que o Baas nunca primou pela democracia, mas pelo menos nunca aceitou submeter-se ao imperialismo (como fez o governo da Árabia Saudita).

Na Tanzânia, o socialismo ujamaa (ou ujamma) resgatou as antigas idéias de família, de domínio eminente e relações cooperativas. As aldeias Ujamaa seriam a base do socialismo. Ujamaa, na língua swahili, significa família. É um modelo parecido com outras comunidades autogeridas, especialmente os kibbutzim de Israel, as willaya da Argélia, as comunas chinesas, as comunidades iugoslavas e ainda similares ao quilombismo no Brasil.

Na Escandinávia (basta ver os textos de John Galtung), houve tentativas de co-determinação pelos servidores públicos. O governo da Tanzânia apoiou a Frelimo, em Moçambique. Julius Nyerere escreveu o livro “Ujamaa: a base do socialismo africano” (editado pela Freedom and Unity, Oxford University Press, 1973), onde escreveu:

…esta glorificação do capitalismo que fazem os socialistas doutrinários da Europa, repito, parece-me intolerável. (…) O fundamento e o objetivo do socialismo africano é a família estendida (…) Ujamaa ou a condição de família estabelece, assim, as linhas de nosso socialismo. (…) Nós, na África, não temos necessidade de sermos convertidos ao socialismo, como tampouco precisamos que nos ensinem sobre democracia. Socialismo e democracia têm raízes profundas em nosso passado – a sociedade tradicional da qual somos produto. O socialismo africano moderno pode extrair de sua herança tradicional o reconhecimento da sociedade como uma extensão da unidade básica familiar”.

Madagascar, uma grande ilha no sudeste da África, conseguiu a independência em 1960. Nas eleições de 1960, o Partido Social Democrata (P.S.D.), um partido socialista, conseguiu a maioria. Philibert Tsiranana tornou-se presidente. Foi reeleito em 1965. Defenderam os princípios de auto-determinação, a paz no Vietnam etc.

Na Jamaica, na Guiana, em Moçambique, na Guiné (Sekou Touré) e em outros países as tendências socializantes são claras, ligadas à soberania do povo, da sociedade. Os rastafaris prometem não cortar os cabelos enquanto houver injustiças, mostrando nisso uma boa religiosidade. Paulo VI, em 05.07.1970, recebeu, no Vaticano, os líderes guerrilheiros de Angola, Guiné e Moçambique, ou seja, Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos. Salazar protestou e criticava João XXIII, tal como odiava Paulo VI.

Na Birmânia foi implantada uma República socialista. O partido chamava-se Partido do Programa Socialista e se apoiava no budismo (uma religião que exalta a caridade e o amor, próxima nisso ao cristianismo) e na valorização das tradições culturais do povo. No Concílio Vaticano II ficou claro que os cristãos devem respeitar os valores salvíficos das outras religiões, tal como de outras culturas.

Na Austrália, na Nova Zelândia, na Dinamarca, na Áustria, na Noruega e em outros países há partidos socialistas ou socializantes que vivem tranquilo com a religião. Na Holanda, ainda que em menor grau, ocorreu o mesmo.

O movimento dos países não-alinhados, com base em Nehru (na Índia), em Sukarno na Indonésia, em Nasser, em Tito na Iusgoslávia e outros trouxe a mesma tendência de elaborarem formas de socialismo democrático, nacionalistas, com base nas tradições culturais dos povos.

Ahmed Sukarno, em 1955, reuniu os líderes do terceiro mundo, nacionalizou várias empresas imperialistas etc. Em 1965, o general Suharto (não confundir com Sukarno, Sukarno é pessoa boa, Suharto é horrendo), títere do imperialismo, desencadeou um banho de sangue, matando centenas de milhares de pessoas, numa operação coordenada pelo imperialismo com o ataque simultâneo aos países da América Latina (Argentina, Brasil, São Domingos, Chile, Uruguai etc). Sukarno faleceu em 1970.

Mesmo Malta, hoje um país independente, desde 1984, com menos de meio milhão de habitantes, tem uma forma de socialismo democrático, graças ao Partido Trabalhista. Defende a posição dos países não-alinhados, a causa palestina etc. O México, na política externa, sempre seguiu com os países não-alinhados. O México, com López Obrador, tende a ser ótimo aliado da Venezuela, de Cuba, da Nicarágua, Honduras etc. 

Che Guevara, numa palestra proferida em 20.03.1960, elogiou a estatização do petróleo por Lázaro Cárdenas (imitada por Getúlio Vargas), o movimento nacionalista da Guatemala, atacou os monopólios, elogiou José Martí. Che Guevara citou um grande católico, especializado em diabologia, o grande Papini, e disse:

Há alguns anos, li um ensaio de Papini, onde o seu personagem, Gog, compra uma república e diz que ela pensa ter presidentes, câmaras, exércitos e se crê soberana, enquanto, na realidade, ele a comprou. Esta caricatura é a todos os títulos justa: há repúblicas que apresentam todos os grandes traços formais para serem como essa, pois dependem da vontade onipotente da Companhia Fruteira, como outras dependem da Standard Oil ou de um outro monopólio petrolífero, como outras dependem dos reis do estanho [Simon Pãtino] ou dos negociantes de café”. (…)

“O poder revolucionário (ou a soberania política) é o instrumento da conquista econômica para que a soberania nacional seja plenamente realizável. No caso de Cuba, isso quer dizer que este Governo revolucionário é o instrumento que deve permitir que os cubanos sejam os únicos a mandar em Cuba, quer dizer, desde a política até à disposição das riquezas da nossa terra e da nossa indústria. Não podemos ainda proclamar diante do túmulo dos nossos mártires que Cuba é economicamente independente”.

A referência a Papini mostra como Che Guevara foi influenciado por fontes religiosas, inclusive o livro de Cervantes, “Dom Quixote”. Che Guevara defendia claramente que a soberania popular (“o poder revolucionário” ou constituinte, cf. Antonio Negri) implica no domínio eminente, no poder de “disposição das riquezas da nossa terra e da nossa indústria”. E mencionava também os “mártires” (termo de inspiração cristã) da luta pela justiça social.

Os textos de Gorki, Pablo Neruda e Federico Garcia Lorca (p. ex, seu texto sobre as imagens de Cristo crucificado) também contêm inúmeras idéias e imagens cristãs