O ideal de democracia popular estava nos melhores textos do cameralismo, como pode ser visto em Necker, Mably, Diderot e outros autores

Max Beer, na obra “História do socialismo e das lutas sociais” (Editorial Lalvino Ltda., Rio de Janeiro, 1944, p. 458, 2° volume, trad. de Horácio Mello), traz um bom texto de Necker, cameralista, mercantilista, inimigo dos erros da fisiocracia, do liberalismo econômico:

“Jacques Necker, ministro das Finanças de Luís XVI (1732-1804), terminou sua obra sobre o comércio dos cereais [onde refuta os erros dos fisiocratas, dos livre cambistas, do liberalismo econômico] com as seguintes palavras;

“Contemplando a sociedade, é impossível deixar de verificar que todas as leis, todas as instituições sociais têm por finalidade única a garantia do bem-estar dos ricos. Se abrirmos um código de leis, ficaremos horrorizados porque iremos encontrar, em cada página, a confirmação dessa verdade. Compulsando as leis, tem-se a impressão de que uma ínfima minoria, um punhado de homens, dividiram a terra e fizeram as leis para se defender contra a massa de indivíduos que nada possuem. (…) As leis, para esses homens, têm a mesma utilidade que as cercas que se levantam para proteger as florestas das incursões de animais ferozes”.

Meu comentário – de fato, “as leis” e “as instituições sociais” liberais (capitalistas) têm como finalidade primária defender os interesses dos ricos (do latifúndio e do grande capital, especialmente do capital monopolista, dos trustes e cartéis). No entanto, tais “leis” e “instituições” podem e devem ser alteradas, para abolir essas formas jurídicas arcaicas e servis aos ricos (a empresa capitalista e o latifúndio), substituindo-as por formas jurídicas cooperativas, estatais e com base na produção familiar, que realizem o bem comum.

De fato, a propriedade quiritária, absoluta, somente beneficia os ricos. Na verdade, nem mesmo a esses, pois mergulham os capitalistas num terrível vazio existencial (cf. Viktor Frankl, Louis Lavelle e outros) e, por isso, vivem embriagados, drogados, etc.

Livrar os ricos dos bens supérfluos (e das formas jurídicas concentradoras de bens) é libertar os ricos do mal, proporcionando a estes a chance de se regenerarem.

Enfim, como Alceu escreveu, no livro sobre a burguesia, “O problema da burguesia”, para esta salvar a própria alma, precisa perder os grandes capitais privados, tornar-se pequena burguesia, produtiva, ligada ao progresso social, ligada aos interesses sociais, do povo, dos trabalhadores