A concepção do Apocalipse na melhor teologia católica, concepção ética e revolucionária, socialista

O bom padre Júlio Maria, um grande redentorista brasileiro, que viveu entre o fim do século XIX e início do século XX, elogiado por Alceu, numa obra sobre o apocalipse, já apontava que o universo será transformado radicalmente (estando esse processo de renovação em curso, como as dores do parto) e que esta transformação exige a colaboração humana (a participação do trabalho e da consciência das pessoas), podendo ser apressada.

O Catecismo holandês, da Igreja católica na Holanda, editado no Brasil com o nome “Novo Catecismo, a fé para adultos”, editado pela Herder, São Paulo, 1969, diz que “o marxismo tem, sem dúvida, uma espécie de animação religiosa. Vários temas são assumidos da revelação judaico-cristã: o futuro “santo”, que é o retorno à intenção original [a imagem do paraíso original com propriedade comum, com relações comunitárias e cooperativas, com base em planos participativos]; a mensagem na qual se crê”; o partido como “Povo Santo”; a idéia de um “agora” como “plenitude dos tempos”; o “salvador sofredor” (= o proletariado)” etc.

Os textos de Carlos Mesters, um grande teólogo da libertação, mostram que a concepção do paraíso parte do pressuposto de como Deus quer que seja o mundo, ou seja, de paradigma de como devemos organizar o mundo no futuro (sem morte, sem velhice, sem sofrimentos, sem opressões, com corpos gloriosos sutis, com controle do universo pela consciências das pessoas etc).

Trotsky, num discurso, reconheceu que “o objetivo supremo pelo qual sempre ansiou a humanidade”, o “ideal”, é a transformação da terra num “paraíso real”, o que corporificaria tudo o que de “nobre”e de belo que existe nos “velhos credos religiosos”:

Os padres de todos os credos e confissões religiosas podem nos pregar sobre o paraíso do mundo de além; declaramos que queremos criar para o gênero humano um paraíso real sobre esta terra; é preciso que não percamos de vista, seriamente, este ideal, nem sequer durante uma só hora; é ele o objetivo supremo pelo qual sempre ansiou a humanidade, e nele hão de se unir e corporificar todo o belo e todo o nobre que existiam nos velhos credos religiosos”. (texto colhido do livro “Espírito e physionomia do bolchevismo”, de René Fülop Miller, Edição da Livraria do Globo, Porto Alegre, 1935, p. 111).

Se Trotsky tivesse ao menos se lembrado da oração do “Pai nosso”, saberia que as frases “venha a nós o vosso reino”, “seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu” e “livrai-nos do mal” corroboram o que consta no “Apocalipse” 22: no futuro, o universo será renovado, restaurando o Éden, que ficará melhor ainda e isso será feito com a participação humana, podendo este processo (comparado por São Paulo ao trabalho de parto) ser acelerado. A renovação do universo é um processo que continua a criação e tende à humanização do mesmo, como apontou o padre Teilhard de Chardin.