O melhor do socialismo francês é socialismo religioso, economia mista

Charles Renouvier (1815-1903) escreveu o “Manual republicano do homem e do cidadão”, em 1848 (para ser usado como manual de civismo, nas escolas), esboçando um socialismo personalista, humanista e cristão, ligado ao cristianismo social.

Renouvier defendeu a República, a soberania popular, dizendo que a República tem o dever de intervir nas condições de trabalho e na “regulagem dos preços”, de promover a “organização do trabalho” e a igualdade social.

A meta da República (com base no sufrágio eleitoral etc) seria a “República social”, isto é, a “coisa [bens] de todos, por todos e para todos”, através de reformas sociais, jurídicas e econômicas.

Renouvier acusou os ricos de canibalismo social, de engolirem os pobres. O mesmo termina o livro evocando a “terra prometida”, a “utopia, essa terra de lugar nenhum que fascina…os amigos da humanidade em todos os séculos” (a influência de São Tomás Moore e de Saint-Simon é nítida em Renouvier).

No final do livro, escreveu: “fundaremos a Esparta cristã, a Jerusalém cristã, essa República verdadeira, em que o espírito da Grécia e a força de Israel se unirão no coração da França e da qual o Cristo, se reaparecesse aqui embaixo, não desdenharia de se dizer cidadão”.

O livro de Renouvier foi usado nas escolas, como um manual de civismo, até ser proibido com a derrubada da revolução de 1848.

Renouvier também escreveu o livro “Organização comunal e central da República” (1851).

O “Manual” foi ressuscitado na Terceira República, depois da Comuna de Paris, de 1870. Faz parte da tradição de socialismo humanista e ético (em geral ligado ao cristianismo) que atravessa a história da França, com Jaurès, Péguy e outros. O livro “A nova monadologia” também merece lembrança. O livro “O personalismo” bastaria para que Renouvier fosse considerado como o precursor de Mounier.

Renouvier, com os grandes católicos, era socialista economia mista.