Uma Carta Pastoral do Arcebispo de Paris, em 1851, já distinguia entre o “verdadeiro socialismo” (economia mista), admitido e apoiado pela Igreja, e erros em algumas correntes socialistas

No livro de Alfred Sudré, “História do comunismo”, escrito em 1858, consta a transcrição, no final, de uma Pastoral do Arcebispo de Paris, Dom Marie Dominique Auguste Sibour, datado de 08.06.1851.

Este Arcebispo foi assassinado por um ex padre fanático, que era contra a doutrina da Imaculada Conceição, defendida por Sibour. Sibour tinha sido apoiador do jornal “L´Avenir” (“O futuro”) e apoiou a Revolução de 1848, em Paris, com vários avanços sociais. Não era um reacionário.

Seu antecessor, o Arcebispo Dom Denys Auguste Affre, que governou de 1840 a 1848, foi também assassinado, por tentar mediar uma paz, que asseguraria conquistas da Revolução de 1848. 

Nesta Pastoral, o Arcebispo Sibour critica algumas correntes socialistas por não adotarem a economia mista, não verem a importância da difusão da pequena propriedade familiar, querendo estatizar tudo.

Sibour explica a importância da difusão da pequena propriedade. E também destaca a importância do gradualismo.

Em nenhum momento, o Arcebispo Sibour condena a intervenção estatal e as estatais, frise-se.

No item XVII, o Arcebispo destaca as “iniquidades da propriedade atual”, da má distribuição dos bens, do direito de propriedade quiritário, sem controles estatais, sem controle social sobre o uso e a distribuição dos bens. 

Na Pastoral, o Arcebispo Sibour, no item XIII, distingue entre o “verdadeiro socialismo”, que o Catolicismo admite, e um falso, que cria ditaduras.

FRISE-SE – já em 1851, a Igreja distinguia entre os diversos tipos de socialismo existentes, aceitando um “verdadeiro socialismo”, e criticando apenas erros. 

Vejamos este trecho do Arcebispo Sibour: “devemos advertir claramente que não tratamos de desaprovar o verdadeiro socialismo, se se quer dar este nome à tendência generosa que induz a alguns homens, animados de um zelo puro e desinteressado, a buscar a melhora da sociedade em suas instituições, em suas leis, em seus costumes, no bem estar de todos e particularmente das classes laboriosas”.

Esta tendência é cristã e elogiável, digna de que a incentivemos, quando sem buscar tanto sistemas e frases, procura sinceramente e com perseverança, os meios mais apropriados para realizar o progresso social, procurando para o povo uma maior soma de bem, tanta na ordem moral como material”.

“Afortunadamente, os homens animados deste verdadeiro zelo são fáceis de reconhecer já que se propõem aperfeiçoar a sociedade, aos poucos, aproveitando tudo de bom que foi feito nos séculos anteriores, acrescentando, sem cessar, e lentamente, o melhor ao bom, e rechaçando tão somente o que a experiência demonstrou ser funesto ou inútil, agindo, em uma palavra, em favor do desenvolvimento da sociedade, do modo como age a natureza, no trabalho de sua reprodução”.

O arcebispo é favorável a economia mista.

Apóia a formação de um Estado amplo, com economia mista, onde cada pessoa cede uma “parte de seus direitos naturais”, a parte que seja “necessária, para o estabelecimento e à manutenção da associação” natural, de uma sociedade organizada para o bem comum, “sempre com a condição expressa de que aqueles direitos que não aliena serão protegidos pelo Estado e garantidos pela sociedade mesma. Deve pois ficar dono de si mesmo, de seus bens, de seus talentos, de seu trabalho, de sua família, de seu futuro, tendo cumprido por outra parte com seus deveres para com a sociedade, com suas obrigações de cidadão, isto é, tendo pago sua parte correspondente -em tempo, dinheiro e serviços – à República” (ainda item XIII).