Há mais de cem precursores socialistas cristãos, antes de Marx

Benoit Malon, na obra “O Socialismo Integral, Historia das Theorias e Tendências Geraes”, considerava Chateaubriand como precursor do socialismo. Também reconhecia a importância de Beranger, de George Sand, de Eugenio Sue, de Esquiros, de Francisco Huet, do abade Constant, de Raspail e outros:

Pág. 189 a 193 -“Chegara ali o socialismo de 1840. Audacioso, vago, sedutor multiforme, correspondendo à florescência ultra-espiritualista do tempo; ele sulcava de inumeráveis e fulgurantes raios a espelhante superfície de publicidade, semeando por toda a parte, como uma inesgotável benção, as suas promessas e as suas esperanças.

“Marchava tão bem de vento em popa que, entre os seus propagadores interminentes, podia contar os nomes mais ilustres tais como Chateaubriand, o patriarca literário; Bérenger o cançonista nacional, a seguir vinham as celebridades mais recentes e mais militantes; Lamennais; Georg Sand; Eugenio Sue; e depois deles, os heterodoxos da democracia social como Esquiros; Francisco Huet; o Dr. Guépin, o abade Constant (conhecido na Kabala sob o nome de Eliphas Levy) e muitos outros. (…)

“Menos ortodoxa, mas não menos religiosa a Doutrina fusionista, de Luiz de Toureil, que abriu caminho à dos proletários do valor moral de Gardéche e de Bedouch. Ela é toda baseada sobre este principio: Todos os seres do universo formados de uma mesma substancia e destinados a realizar o ser, universal, devem viver uns nos outros, o que implica o amor universal”.

“O reflexo social de uma semelhante imersão no ser universal não podia deixar de ser o comunismo mais perfeito, e é efetivamente o comunismo ideal que reina nas Polyalmas do mundo fusionianno”.

“Regressamos ao mundo real com Raspail que reúne também alguns discípulos nos escritórios do Reformador, comanditado por de Kersausie, nobre bretão, tipo completo do servidor dedicado da humanidade e inteiramente adquirido ás causas justas”.

“Raspàil sentira-se chocado com o desperdício das riquezas e das forças na sociedade individualista, e queria, pela associação dos esforços e pela organização dos serviços de consumo, aumentar os recursos e o bem-estar, fazer circular a vida no grande corpo político com a mesma potência e a mesma regularidade que no coração humano, numa palavra “fazer do Estado uma grande família”. (…)

“O comunismo icariano, que predominou por Cabet [hiper religioso], devia resultar duma série de reformas pacificamente executadas no curso de cinqüenta anos. Mas a tendência para a igualdade absoluta deveria ser afirmada por uma melhor repartição das vantagens sociais e por um forte imposto progressivo sobre as propriedades, sem prejuízo doutras reformas análogas, como a abolição dos exércitos permanentes, a refundição da instrução, a constituição progressiva de um domínio popular em cada comuna.

Meu comentário – estes itens, principalmente medidas redistributivas, fortes impostos progressivos sobre as propriedades (e rendas), a abolição dos exércitos permanentes, a constituição progressiva de um domínio popular nas comunas (municípios) fazem parte da tradição socialista e foi adotada pelos mexicanos (especialmente Zapata), quando buscaram uma reforma agrária calcada no eijido seguiam estas tradições.

Vejamos ainda outros textos de Malon, sobre o socialismo religioso:

Pág. 271, 273 e 274 – “O socialismo contemporâneo; que chega até a perturbar as cabeças coroadas, penetra em meios não menos refratários ás inovações, e é assim que vemos nascer e desenvolver-se aos nossos olhos o socialismo cristão, que revoluciona a América com Mac-Glynn, com os Cavalheiro do Trabalho e se torna uma potência na Inglaterra com o cardeal Manning , o bispo de Bagshawe; na Alemanha com o cônego Monfang e o pastor Stoecker; na Áustria, com os Belcredi, os Lichtenstein; na Suíça, com os Decurtins; na França, com os de Mun, os Loesevitz, os La Tour de Pin Chambly, os Drumont, homens que todos descem valentemente à arena e teêm a pretenção, eles, filhos do passado, de marchar para o futuro com os proletariados revoltados (….)”.

Meu comentário – Marx também citava o Padre Mac-Glynn numa entrevista a um jornal, reconhecendo o trabalho do mesmo, ainda que criticando-o um pouco. Mas o elogio e o reconhecimento do trabalho de um padre, na boca de Marx, é um bom exemplo para os marxistas.

Da mesma forma, Marx reconheceu o imenso papel dos Cavaleiros do Trabalho, a primeira organização proletária nos EUA (Marx, Engels e Lenin reconhecem isso, em vários textos), uma organização que teve o apoio da Igreja, que inclusive, com Pouderly, a liderou, no período mais forte. Tinha tantos católicos, que foi presidida por um católico, Pouderly. 

Os outros citados por Malon são referidos também neste blog. É bom ter a chancela de Malon e o elogio do mesmo. Malon integrou a 1ª. Internacional e tem autoridade para abonar as conclusões.