A Tradição brasileira de intervenção estatal na economia, de dirigismo, controlismo estatal

José Honório Rodrigues, numa carta que enviou a Virgínia Rau, em 26.12.1954, ressaltou que nossa tradição econômica é intervencionista, dirigista: “não se vence crise econômica apenas com austeridade e muito menos nessa macaqueação à inglesa. A tradição luso-brasileira não é de “austeridade” [no sentido macabro, neoliberal]. Nem de liberdade total do empreendimento econômico. Não podemos imitar também o americano way of life, quando o Departamento de Estado controla o comércio exterior. A tradição brasileira é de intervenção na vida econômica, menor ou maior, mas sempre controle da iniciativa privada. Com a finalidade do interesse público” (cf. p. 200, do livro “Nova correspondência de José Honório Rodrigues”, organizado por Leda Boechat Rodrigues, sua esposa, e impresso no Rio de Janeiro, pela Academia Brasileira de Letras, em 2004).

No texto, “austeridade” (termo usado por ricos para retirar mais bens dos pobres para ampliar as mansões dos ricos) significa as políticas monetaristas e liberais de “apertar os cintos” dos pobres para encher as contas dos ricos.

A expressão “interesse público” tem dois sentidos: há o interesse público primário, que significa o interesse da sociedade, ou seja, outra fórmula para bem comum; e há o interesse público secundário, que é o interesse do Estado.

É óbvio que o interesse público secundário deve estar subordinado ao interesse da sociedade. Os interesses privados devem ser respeitados mesmo, mas dentro dos limites do bem comum. Assim, pequenas propriedades, em adequação aos planos do bem comum, atendem ao bem comum, mas as grandes, não.