Os bens são como a água, que deve permear toda a terra, todas as pessoas

Os bens, como um rio que deve escoar por todos os lugares, pelos pequenos canais (capilarização, cf. Alceu), devem fertilizar as “terras”, todos os membros da sociedade.

Os bens, como o sangue, devem irrigar todo o corpo social (todos os membros), numa boa estrutura metabólica.

Os bens devem ser “partilhados”, serem titulados, participados por todos.

A miséria é a morte. As grandes fortunas privadas também são mortes. 

Os bens e, assim, também o poder, é como a água que flui mais pura à medida que dela se haure com mais freqüência, apodrecendo (e enchendo-se de vermes, como dizia São Tiago), se ficar parada, “acumulada”.

Num sentido parecido, há a mesma tese no livro “Democracia industrial” (1892), do casal Sidney e Beatrice Webb, inspirado em idéias do socialismo cristão da Inglaterra, tal como no tolstoísmo.

Maritain elogiou (no livro “Humanismo integral”, p. 81) os Webb por terem esboçado as linhas de uma “democracia multiforme” sem a “subordinação da força-trabalho humana à fecundidade do dinheiro” e do lucro.

Estas imagens e idéias reaparecem depois nos textos socialistas, especialmente nas metáforas religiosas usadas por Marx, como bem ressaltou Enrique Dussel.

Estão presentes nos textos dos socialistas cristãos pré-marxistas, nos de Marx, Bukharin e até em Stalin (que foi seminarista até os 21 anos, pois nasceu em 1878 e ficou no seminário até 1899) etc.

Sobre este ponto, vale à pena ler, do mexicano José Porfírio Miranda, os livros “Marx e a Bíblia” (1971), “Comunismo na Bíblia” (1981) e “O humanismo cristão de Marx” (1978).

Numa linha próxima, há as obras de Dussel sobre as metáforas (imagens) cristãs e hebraicas, usadas por Marx.

Stalin, diante do ataque nazista à URSS, estendeu às mãos à Igreja Ortodoxa, à força moral da religião e do patriotismo.

Stalin tinha a seu lado vários ex-seminaristas, como, por exemplo, Anastas ivanovich Mikoyan (1896-1978). Anastas estudou, por anos, no Seminário Teológico Armênio e, depois, chegou a ser Presidente da URSS, de 1964 a 1965. Ocupou vários Ministérios (Comissariados) de Estado de grande importância, como o de Abastecimento (1926), do Suprimento (1930), da Alimentação (1934), presidente do Comitê de Abastecimento durante a II Guerra e Ministro do Comércio Nacional e Internacional no pós-guerra.

A III Internacional Comunista, desde 1935, com as teses do VII Congresso, com base em Dmitrov, preconizou a aproximação com as organizações operárias católicas.

Em 15.07.1935, a Junta Central da Internacional comunistas dos jovens recomendava “amiudar os acordos fraternos com os jovens trabalhadores cristãos e as suas organizações, para o incremento da união da mocidade contra o fascismo”.

No início de 1936, tendo como marco-símbolo o discurso de Thorez (encontrava-se com João XXIII, quando este era núncio, em Paris, depois de 1944), em 17.04.1936, a Internacional orientou seus militantes a estender às mãos aos católicos, na política das mãos estendidas.

Thorez proferiu o discurso pela Rádio Paris, sendo este o marco da “politique de la main tendue” (“política das mãos estendidas”) aos católicos.

Pio XI, na “Divini Redemptoris” (19.03.1937), descreve esta política: os comunistas “convidam os católicos a colaborar” no “campo humanitário e caritativo, propondo por vez coisas em tudo conformes ao espírito cristão e à doutrina da Igreja”.

Os comunistas chegavam ao ponto de dizer que “em países de maior fé ou de maior cultura”, o socialismo “não impedirá o culto religioso e respeitará a liberdade de consciência”.

A Internacional também mencionava as “mudanças introduzidas” na “legislação soviética”, especificamente na Constituição da URSS, de 1936.

No fundo, Stalin e a Internacional, a partir de 1934 e, especialmente, 1935, tendo como expoente Dmitrov, lançaram um movimento de aproximação com os católicos, os muçulmanos, a religiosidade africana e com os socialistas democráticos.

Um bom movimento, de ecumenismo.