A luta da Igreja em prol da Democracia popular, do Estado social

Além de vários expoentes que citei em outras postagens, como Buchez, houve, ainda, Taparelli e sua defesa de governos representativos, em obras como o “Exame crítico da ordem representativa” (Roma, 1854).

Na mesma linha, os trabalhos de pesquisa de Villermé; Leão XIII e suas encíclicas democráticas; a reconciliação entre católicos e republicanos, na França e no mundo todo; o grupo de Eduardo Sanz y Escartín (ver “O Estado e a reforma social”, 1896) e a Escola de catolicismo social, de Liège.

Na mesma linha, houve o círculo de Friburgo e o cardeal Mermillod (autor do livro “A Igreja e os operários no século XIX”, 1868).

Nos EUA, o episcopado norte-americano teve lideranças como o Cardeal Gibbons (1834-1921). Na Inglaterra, o cardeal Manning; a Liga Democrática Belga (aprovada por Pio X); o Partido Popular Cristão, ligado ao padre Daens; o “solidarismo” do padre Antônio Pottier, do padre Pesch e do padre Llovera; o partido popular, ligado ao padre Sturzo; a corrente do personalismo cristão de Renouvier; Maritain, Mounier, a Resistência Francesa, De Gaulle etc.

Esta linha teve estrelas como Kothen (seu livro, “Problemas sociais da atualidade”, foi editado no Brasil com o prefácio de Alceu), até chegar à teologia da libertação e aos socialistas cristãos (especialmente os católicos, como Alceu e Pontes de Miranda) de hoje, que retomam as linhas históricas mais importantes.

Houve marcos como o movimento da Democracia cristã, com expoentes como Romolo Murri (1870-1944); o abade Naudet; o “Sillon” e Marc Sangnier (1873-1950); Péguy, Giuseppe Toniolo, Sturzo e o partido popular.

E marcos como o padre Francesco Olgiatti; Maritain; Mounier e a corrente do personalismo, do socialismo personalista, de Mounier. Depois, o próprio De Gaulle (que defendeu corretamente a descolonização, a participação dos trabalhadores na gestão e nos lucros das empresas e criticou o imperialismo ianque, criou estatais) e os católicos da Resistência Francesa (a Resistência foi liderada por um católico, chamado Bidault).

Há também os católicos existencialistas; a JOC e a Ação Católica Operária, especialmente com o Cardeal Cardjin.

E as alianças entre a democracia cristã e os socialistas democráticos; tal como o voto católico inglês no Partido Trabalhista, e o voto católico estadunidense na ala esquerda do Partido Democrático, nos EUA.

E há a estrela de João XXIII; o Concílio Vaticano II; Medellin; a teologia da libertação; o movimento “Cristãos pelo Socialismo”; Puebla; a CPT, o MST e a Via Campesina etc.

Para detalhar um pouco a linha acima esboçada, vejamos o padre Pottier e Pesch, que são bons exemplos de sacerdotes.

O padre Antônio Pottier (1849-1923) foi um dos líderes da Escola de Liège, elaborando bons textos sobre democracia popular-social em 1892 e 1893. Ele participou também do movimento da democracia cristã. Escreveu obras como “De iure et iustitia” (Liège, 1900), “A cooperação e as sociedades operárias” (Liège, 1889); “A Igreja e a democracia cristã” (1901), “A questão operária” (Roma, 1903); “A moral católica e as questões sociais de hoje” (Milão, 1921).

Pottier também atuou ao lado de homens como Georges Goyau (sua obra, “O Cristo”, foi traduzida, no Brasil, por Alceu, em 1942) e Romolo Murri (1870-1944).

Goyau escreveu obras importantíssimas como “O Cristo”, “Ketteler” (1907), “Retratos católicos de precursores” (1921) e “Catolicismo social” (5 volumes).

O padre Heinrich Pesch (1854-1926) foi aluno de Rudolf Meyer (socialista cristão, amigo de Frederico Engels) e de Adolf Wagner (n. em 1835).

Adolf Wagner também era socialista cristão e defendia a extensão das funções do Estado, mas com respeito à liberdade etc.

Wagner era filho de Rodolpho Wagner (1805-1864), que foi um grande cientista alemão, bem ligado à religião.

O solidarismo de Pesch era uma forma branda de socialismo com liberdade e distributismo. Bem próximo de Renouvier, na França, do radicalismo francês, que levou a reconciliação do socialismo com o cristianismo, na França, já na década de 20 e de 30, com a ajuda do Núncio papal, que era João XXIII, antes de ser Papa, já atuando. 

O solidarismo e o socialismo de cátedra eram formas de socialismo ligadas à religião.

O cristianismo e o pensamento hebraico foram as matrizes do socialismo utópico, pré-marxista.

Pesch, em seu livro “Tratado da economia nacional” (5 volumes, 1905-1923), defendeu o “solidarismo cristão”, ressaltando que o bem comum significa a síntese entre o bem pessoal e o bem da sociedade. Ou seja, o dever de assegurar o bem de cada pessoa em harmonia com o bem da sociedade, o bem comum.

Na linha do socialismo romântico e cristão, há também as figuras dos irmãos Clemente Brentano (1778-1842) e Lujo Brentano, na Alemanha.

Pesch escreveu livros como “Solidarismo” (1919) e outros, bem próximos do radicalismo e do socialismo democrático.

Antes, o padre Hitze (1851-1921) já frisava que “somente uma obra legislativa ampla e profunda, somente a mão onipotente do Estado poderão estabelecer a ordem na vida social”.

O Cardeal Mercier também frisava que “quando trabalha para repartir mais equitativamente a riqueza da sociedade, o socialismo tem toda razão”.