O catolicismo é o humanismo mais pleno e aberto de todos

São Roberto Bellarmino, um dos 33 Doutores da Igreja, que expôs com clareza a concepção política democrática da Igreja, tendo influenciado o próprio Thomas Jefferson, ensinava que “a consciência está acima de todos os juízes e tribunais humanos”. E isso vale até para o Tribunal divino, pois a pessoa com “boa consciência não precisa temer que seja condenada por Deus”.

O termo “obediência” vem do latim “obedientia” (de “ob-audire”, que significa “ouvir profundamente”). Obedecer à lei natural é obedecer a Deus, significa obedecer á própria luz da consciência, criada por Deus para nosso autogoverno pessoal e social.

Assim, como foi bem ensinado por João Paulo, “a lei”, as regras racionais e algumas supra-racionais do bem comum, são “expressão da sabedoria divina”, que se expressa, em nós, principalmente pela “sabedoria humana”, pelo conhecimento humano, pela luz natural da razão.

A sabedoria humana, sendo racional, eco a sabedoria divina e isso ocorre em todos, por termos todos a mesma natureza humana, onde há a “imagem” de Deus, que se “encontra em todos” (cf. Ef 4,6).

Todas as pessoas são fontes de idéias verdadeiras, reais, objetivas. Por isso, todas as pessoas são chamadas à liberdade, à autonomia, ao autocontrole, ao controle da vida social pelo diálogo, por consensos, por acordos racionais em prol do bem comum.

Na encíclica “Splendor”, João Paulo II lembrou que “governar o mundo constitui para o homem [o ser humano, a pessoa humana] uma tarefa grande e cheia de responsabilidade” e que fomos criados para este fim, como está claro na abertura do livro Gênesis (1,26-28), onde Deus expressa a razão de nossa criação: povoar a terra e controlar a natureza. O Papa então acrescenta:

Sob este aspecto, compete ao indivíduo, bem como à comunidade humana, uma justa autonomia, à qual a Constituição conciliar Gaudium et spes dedica uma especial atenção. É a autonomia das realidades terrenas, significando que “as coisas criadas e as próprias sociedades têm leis e valores próprios, que o homem irá gradualmente descobrindo, utilizando e organizando”.

Com efeito, do mesmo modo que ao governar o mundo, o homem o forma segundo a sua inteligência e vontade, assim também praticando atos moralmente bons, o homem confirma, desenvolve e consolida em si mesmo a semelhança com Deus”.