O ideal cristão de uma boa Democracia popular, com amplo Estado social protetor dos trabalhadores

Vários bispos e cardeais chamam as linhas gerais da doutrina social da Igreja de “socialismo cristão”. Esta expressão foi usada pelo Cardeal Moran, arcebispo de Sidney (Austrália), desde o século XIX.

Outros exemplos de aproximação entre catolicismo e socialismo estão nos textos do Cardeal Gibbons, nos EUA, protegendo os Cavaleiros do Trabalho (a primeira organização operária dos EUA, cf. Lênin, que teve liderança católica e aceitação do Vaticano).

O livro do padre Fernando Bastos de Ávila, “O pensamento social cristão antes de Marx” (Rio, Ed. José Olympio, 1972), lista vários expoentes do socialismo cristão, arrolando uma coletânea de textos destes autores. Em outras obras de Ávila, há a mesma tese, onde explica que a expressão “democracia social e participativa” é também conhecida como “solidarismo” ou “socialismo democrático”.

Há a mesma base nas obras do cardeal Manning (elogiado por Eça de Queiroz, que o chamou de santo socialista) e do Cardeal Mercier. O Cardeal Manning escreveu obras como “Os direitos e a dignidade do trabalhador” (1874), defendendo uma democracia social, numa linha próxima de Ketteler.

Também há a linha da democracia social nos textos do bispo Felix Dupanloup (1802-1878), Ozanam, Buchez, Lacordaire, Lamourette (bispo de Lyon, 1871), nas idéias e textos de São Rafael Kalinowski (um dos líderes da revolução polonesa de 1863) e nos livros e na prática de Ketteler.

O mesmo ideal está claro nos melhores textos de Lamennais (1782-1854), Antônio Genoude (1792-1849), Charles Montalembert (1810-1870) e de Albert de Mun. Depois, esta linha reaparece no movimento do Sillon. Este movimento histórico foi inclusive descrito por Emílio Zola (1840-1902), no livro “Roma” (transcrevo alguns textos mais adiante, em outras postagens); está também na obra de Giovanni Spadolini, “Il papato socialista” (Milão, Ed. Longanesi, 1964), tal como no livro de Francesco Nitti, “Le socialisme catholique” (Paris, Libraire Guillaumin, 1894, com 410 páginas).

Nos textos do padre Joaquim Ventura de Ráulica (1792-1861) há a mesma linha democrática popular e cristã. O padre Ventura foi jesuíta e depois teatino (ordem praticamente co-irmã dos jesuítas, nascidas quase juntas e quase fundidas), chegando a Superior Geral dos Teatinos.

O padre Ventura aconselhou Pio IX a fazer parte do movimento reformador e democrático no início de seu pontificado. Cometeu erros do fideísmo de Bonald, De Maistre e das primeiras obras de Lamennais, mas sempre defendeu a democracia. Redigiu obras como “A razão filosófica e a razão católica”, “O poder público” e “A filosofia cristã”.