Maria e São João Apóstolo foram decisivos em Éfeso, o principal centro católico, depois de 70 d.C.

Estrabão (63 a.C. a 24 d.C.), na “Geografia” (14.5.641.663) diz que Éfeso era um grande empório da Ásia Menor.

De fato, Éfeso tinha uns 200.000 habitantes, sendo bem maior do que Atenas, Corinto, Antioquia e outras cidades.

Éfeso só perdia, em habitantes, para Roma, Alexandria e Tarso.

Éfeso foi o lar de Maria, até 42 a.C.. Mais tarde, tornou-se o principal centro da cristandade, depois da destruição de Jerusalém, em 70 c.C.

Estrabão também ensina que os principais centros filosóficos, em sua época, eram Tarso, Alexandria e Atenas, embora Éfeso tivesse uma tradição filosófica também antiga, ligada a Heráclito e aos persas. Em Tarso, a cidade de São Paulo, havia uma tradição estoica forte, mesclada com idéias persas e de Heráclito.

O cristianismo se difundiu pelas principais cidades de Éfeso, Roma, Alexandria, Tarso, Corinto, Antioquia e outras. 

Éfeso foi fundada em 1050 a.C. e destacava-se pelo porto, competindo com Mileto. Éfeso, em 546 a.C, ficou sob o controle da Pérsia até Alexandre o Grande, em torno de 320 a.C. Depois disso, esteve basicamente sob o controle oriental (dos selêucidas, com capital em e de Pérgamo), até cair sob o poder de Roma. Os romanos criaram a província da Ásia (usando o termo Ásia de forma restritiva) e Éfeso era a capital desta província. A cultura de Éfeso era profundamente influenciada por ideias semitas, decorrente da influência persa. 

No tempo de Cristo, as principais cidades eram Roma, Alexandria, Antioquia, Tarso, Éfeso e Corinto.

Nestas cidades existiam colônias de judeus e foram as cidades principais de difusão do cristianismo, junto com outras cem cidades menores, a maior parte na Ásia Menor.

A região da Ásia Menor era toda banhada pela cultura helênica, persa, semita e semeada de colônias hebraicas, por conta da diáspora anterior (de 22 e de 597 a.C.) e da diáspora helenística. Nesta região, o estoicismo nasceu e cresceu, dentro do caldeirão cultural semita. O estoicismo nasce na área cultural ligada a Tarso e Chipre, desenvolvendo-se principalmente na Síria, na Ásia Menor e no Egito. Mesmo em Roma, existiam milhares de hebreus. Horácio menciona uns oito mil hebreus e talvez existissem bem mais.

Heráclito nasceu em 540 e morreu em 470 a.C, em Éfeso. Desde o nascimento, Heráclito viveu numa cidade banhada pela cultura e pelo poder persa, que tinha como religião oficial o zoroastrismo, o mazdeísmo (“a religião da luz”, cf. Hegel, do “bem”, do “fogo”), religião extremamente influenciada pela cultura semita, bem próxima do judaísmo.

São Justino (100-165 d.C.), na “Apologia”, elogiou Heráclito e Sócrates, o que é bem sintomático.

A concepção ética e sobre o fogo (e a luz, que a física da época considerava praticamente uma manifestação de Deus), de Heráclito, adotada em muitos pontos pelos estóicos, tem idéias comuns ao mazdeísmo (zoroastrismo). Isto fica claro nos textos que sobraram do “Avesta” e nos textos sobre o zoroastrismo, que Hegel analisou nos cursos que dava, tendo as notas destes cursos gerado o livro “Lecciones sobre filosofia de la religión” (Madrid, E. Alianza, 1987, sobre a “religião da luz”).

Heráclito de Éfeso, a terra onde Maria foi viver, ensinou o núcleo do jusnaturalismo adotado pela Igreja, com as frases (proposições) seguintes: há uma “coerência subjacente das coisas”, graças ao “Logos”, que atua na “ordenação comum” dos seres. É “preciso seguir o comum” (o universal, lembrando que católico em grego significa universal, o que a razão de todos aponta, o que o logos presente em todos ensina), pois o “Logos” (a razão) é “comum”. A vida é um devir, um fluir, como um rio da vida, onde caminhamos, navegamos, devendo a vida ser ordenada pelo “logos”, pela razão, pela natureza, pois Deus (o “Único”) expressa suas idéias pela natureza, pela razão humana. Cada pessoa se torna inteligente “por inalação da Rrazão divina”, pelos “canais da percepção”, pelo “poder do raciocínio”, pela cooperação com Deus.

Deus “manifesta-se por sinais”, pelas boas idéias e bons afetos. Assim, devemos nos “apoiar” “no que a todos é comum, como uma cidade deve apoiar-se na lei”, “pois todas as leis humanas” justas “são alimentadas por uma só, a lei divina”. O Logos comunica-se com as “almas ígneas”, de fogo, de luz, e as idéias destas pessoas, dos sábios, são luzes que Deus fornece para a boa regência da vida pessoal e social.

Depois da destruição de Jerusalém em 70 d.C, Éfeso, segundo Russell Norman Champlin, no “Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia” (São Paulo, Ed. Hagnos, vol. II, p. 287), “tornou-se o centro cristão mais importante da época” e era a cidade onde Maria tinha vivido.

São Paulo “passou ali três anos” (cf. Col 1,7 e 2,1) e usava a cidade como “sua sede de operações na Ásia Menor”. Quando deixou a cidade, São Paulo deixou Timóteo (cf. I Tim 1,3). Tudo indica que São Paulo esteve em Éfeso depois da ascensão da Maria, em 42 d.C.

A cidade de Éfeso foi sede de vários Concílios importantes na vida da Igreja. Por exemplo, o 3º. Concílio ecumênico, em 431 d.C., com uns duzentos bispos, que condenou o nestorianismo. Neste Concílio, foi ensinado a unidade pessoal de Cristo (uma pessoa, com natureza divina e natureza humana) e, em conseqüência, foi declarado que Maria, que vivera ali, em Éfeso, era também a “Mãe de Deus” (“Theótokos”).

A Igreja, para refutar a heresia gnóstica e especialmente o docetismo, destacava, pela palavra de São João Evangelista, que Cristo veio “na carne”, sendo este o argumento para refutar os erros gnósticos e docetistas. E isso foi feito na cidade onde Maria tinha vivido, até a ascensão, em 42 d.C., quando deveria ter quase 60 anos. 

O ensinamento sobre Maria, no Concílio de Éfeso, é simples, como o próprio Champlin (teólogo ortodoxo semi-ecumênico, autor de mais de 60.000 páginas) reconheceu: “a idéia é” que “Maria” é “mãe de Jesus Cristo”. Jesus que tem dupla natureza e uma pessoa, pois Cristo é totalmente humano e também “Deus”. Por esta razão, pela natureza una de Cristo (que prenuncia nossa união com Deus, cf. Hegel), Maria pode ser chamada de Mãe de Deus, o que não significa que “Deus tem mãe”. Maria é mãe de Deus porque é mãe de Jesus Cristo, que é 2ª. Pessoa da Trindade, encarnada. Porque a pessoa de Cristo tem, em si, a natureza puramente humana e também a natureza divina.

Por isso, os cristão são humanistas, são antropocêntricos, tal como teocêntricos (na mesma linha em que os hebreus são democráticos e teocratas). Como fica claro, as verdades em relação a Maria são verdades humanistas, que reforçam o humanismo cristão.

Conclusão: como ensina o Cântico de Maria, os bens são destinados por Deus a todos. Todos os bens, inclusive os poderes, especialmente o poder público. Todos devem ter participação nos bens e no poder público, como foi destacado por Santo Ambrósio, São Basílio, São Tomás de Aquino, São Tomás Morus e outros expoentes da Igreja, que apenas repetiram as lições da Bíblia e do melhor da Paidéia.