Economia mista e estatais, na Antiguidade e na Idade Média, como mostra Max Weber

Max Weber escreveu o livro “História da Geral da Economia” (São Paulo, Ed. Mestre Jou, 1968), onde mostra que a parte boa da economia, na Idade Média, era formada por artesãos organizados em corporações semi-públicas, camponeses livres, associações nos moldes cooperativistas (vide p. 178, da obra citada) e estatais. A parte má era formada pelos senhores feudais, latifundiários.

No livro,  no capítulo II, “Indústria e mineração até ao alvorecer do capitalismo”, Weber mostra as estatais que existiam e as grandes mineradoras estatais (as pequenas eram particulares, apenas poços praticamente). 

Weber examina as minas estatais, inclusive as antigas, como “as minas de prata de Láurio” na Grécia e as minas do Sinai, exploradas pelo Estado Egípcio, pelos Faraós. Xenofonte, no livro “Rendas”, elogia as minas estatais, mostrando a utilidade delas para desenvolver cidades, Repúblicas. 

Weber também trata das terras públicas, que existiam. Fala dos grandes mosteiros, praticamente semi-estatais. Elogia a Igreja Católica, na pág. 246, tal como elogiou em outras obras. 

Também lembra das fábricas estatais criadas inclusive antes de Colbert, por Francisco I, como a “fábrica de armas de St. Étienne e a de tapetes de Fontainebleau”, “iniciando assim uma série de manufactures royales”, “com o fim de cobrir as necessidades” de rendas “do Estado” e permitir o “desenvolvimento industrial da França”. Com Colbert, isso foi apenas ampliado, tendo como núcleo “a ação do Estado” na economia (cf. p. 167).

As fábricas nacionais defendidas por Buchez, Blanc e por Lassalle, e inclusive no Programa do Partido Comunista alemão, no século XIX, são apenas a retomada da linha das manufaturas estatais, das fábricas estatais, de Colbert, de Francisco I, da Idade Média, da Antiguidade, do Modo de produção asiático etc. 

Nas páginas 162 a 165, Weber lembra “os precursores do sistema fabril no Ocidente”, estatais como os “moinhos”, “especialmente os moinhos hidráulicos”, alguns de “uso obrigatório”, de propriedade dos mosteiros e, principalmente, “das “cidades”. Os moinhos moíam os cereais, especialmente o trigo. Também existiam os lagares, para o vinho e o azeite. E também as padarias estatais, municipais, para fazer o pão (nas casas, existia a fabricação do pão caseiro, também). Mesmo os “cervejarias” eram, muitas delas, estatais, as grandes eram das cidades. Os mercados públicos eram das cidades, como shoppings estatais, onde os boxes eram distribuídos, bem barato, para os pequenos lojistas.  

Também existiam as “fundições” estatais, ligadas à fabricação de armas, e administradas pelas cidades, especialmente as italianas. E as fundições serviam também para a produção de ferramentas agrícolas e urbanas etc. Outro tipo de estatais eram as “forjas”, para a “preparação do ferro”. Outras estatais eram os moinhos de vento, especialmente os da Holanda. Também existiam as salinas estatais. 

Conclusão: as estatais existem há milênios, desde o modo de produção asiático, passando pela antiguidade clássica, pela Idade Média, pelo Renascimento, os séculos XVI a XVIII, e depois mesmo no Século XIX, e também no século XX. São coisas hiper tradicionais, conservadoras. Não há nada de errado nas estatais. São úteis para o desenvolvimento, essenciais, tal como é essencial a intervenção do Estado na economia, os controles e regras públicas, os planos estatais etc. Tudo isso é hiper conservador e tradicional.

Os neoliberais rotulam tudo isso de “comunismo”, para forjar um bicho papão, para bloquear o desenvolvimento industrial das nações pobres, e perpetuar as grandes fortunas privadas.