Leon Trotsky, no “Programa de transição”, defendeu Estado social com economia mista

Leon Trotsky (1879-1940), perto da morte por assassinato em 1940, em setembro de 1938, redigiu o livro “Programa de Transição”, para o Congresso mundial da fundação da IV Internacional. Pois bastar ler o livro (São Paulo, Ed. Instituto José Luís e Rosa Sundermann, 2004), nos itens VIII e IX, para ver que defendia economia mista, Estado social, co-gestão (“controle operário da produção”), teses católicas. 

No “Programa de Transição” (p. 23 da edição citada acima), defendia a estatização apenas de “certos ramos da indústria entre os mais importantes para a existência nacional” (no fundo, a mesma tese de Pio XI, na “Quadragésimo anno”, em 1931 – os bens que atribuem grande poder devem ser do Estado).

Trotski queria a estatização das empresas das “200 famílias” mais ricas da França” e das “60 famílias” (expressão de Ferdinand Lundberg) dos EUA, especialmente das “companhias monopolistas da indústria da guerra, das estradas de ferro, das mais importantes fontes de matérias-primas etc”. No fundo, algo que Getúlio Vargas foi fazendo, de 1930 até 1954. 

Também defendia a estatização dos bancos, para que fosse criado um “Banco do Estado” que desse amplo financiamento  aos “pequenos agricultores, artesãos e pequenos comerciantes”, com “condições privilegiadas, isto é, baratas” (com juros ínfimos).

A “Indústria pesada”, os “bancos” e os “transportes” seriam estatais. Haveria amplo setor de pequena economia privada, com apoio do Estado. 

No item XI, Trotsky defendia apoio estatal aos “camponeses (pequenos proprietários) e para a pequena burguesia urbana”, com “crédito barato, preços acessíveis para as máquinas agrícolas e adubos, condições favoráveis de transporte e uma organização honesta de escoamento de produtos agrícolas“. 

Trotsky criticou a coletivização forçada de Stalin, escrevendo – “o programa” agrário “deve ser elaborado de modo que exclua radicalmente a ideia de expropriação dos pequenos camponeses ou de sua coletivização forçada. O camponês continuará proprietário de seu lote de terra”. E acrescenta – “para reabilitar o programa socialista aos olhos dos camponeses é necessário denunciar, impiedosamente, os métodos estalinistas de coletivização, ditados pelos interesses da burocracia, e não pelos interesses dos camponeses ou dos operários” (p. 30). 

A estatização dos “bancos e dos trustes” devem “criar para a pequena burguesia urbana condições de crédito, de compra e venda, incomparavelmente mais favoráveis que sob a dominação ilimitada dos monopólios” privados.

Conclusão: fica provado, claramente, que boa parte dos pontos da Doutrina Social da Igreja foram também defendidos por Trotsky, perto da morte, no “Programa de Transição”. 

Trotsky, perto de morrer, defendeu economia mista, Estado social, co-gestão dos trabalhadores na gestão dos meios de produção, democracia direta e indireta combinadas (as mesas teses da Doutrina da Igreja).

Lembro que as Frentes Populares, na época, por orientação da Internacional de Moscou, lançaram a campanha “mãos estendidas aos católicos” (a partir de 1935), defendendo um “Programa mínimo” na mesma linha da Democracia popular-participativa, economia mista, Estado social ampliado.

O mesmo ocorria com Bukharin, na URSS, e também com o movimento das “Democracias populares” depois de 1945.

No fundo, a Primeira, a Segunda, a Terceira e a Quarta Internacional, todas elas, defendiam um programa de transição pautado na Democracia popular (democracia direta e indireta, em boa síntese), na economia mista e no Estado social. Este ponto será demonstrado em outras postagens.