Kautsky defendeu socialismo com pequenas empresas familiares e direito de moradia para todos. Economia mista

Karl Kautsky, praticamente o sucessor de Engels, no livro “A questão agrária” (Brasília, Instituto Teotônio Vilela, 1998, pp. 573-586, praticamente na conclusão do livro), defendeu um socialismo com estatização apenas dos grandes meios de produção. 

Kautsky mostra que um socialismo é possível com milhões de camponeses com propriedades familiares, com artesãos, com milhões de pequenas propriedades familiares produtivas, urbanas (pequena burguesia) e com amplo cooperativismo. Um regime e sistema de economia mista.

Na pág. 573, Kautsky escreveu: “Tanto os pequenos agricultores como os proprietários de pequenos estabelecimentos em geral, inclusive os artesãos, nada terão a temer da vitória do proletariado. Muito pelo contrário!”. 

Kautsky mostra que inclusive o “Manifesto” de Marx não previa a estatização total da economia, e sim, apenas, dos grandes meios de produção, na linha de vários socialistas cristãos pré-marxistas (vou citar vários, em outras postagens).

Engels, em 1894, pouco antes de morrer, disse o mesmo, opondo-se a qualquer expropriação forçada de camponeses (pena que Stalin não seguiu estes conselhos). 

No final do livro, Kautsky mostra que um socialismo correto preserva a “individualidade” das pessoas, o direito a um “lar próprio”, a uma moradia própria. 

Kautsky mostra, na pág. 584, que “irá crescer em importância principalmente a família: o lar terá um novo significado. Não existe lugar melhor que o lar para desabrochar a personalidade em toda a sua plenitude, sem empecilhos e sem o cerceamento hostil imposto pela vontade alheia. É neste lar, cercado apenas de dificuldades materiais, mas sem problemas de ordem pessoal, que a família tem condições de viver sua vida livremente, em companhia de seus amigos e seus livros. É nele que a pessoa pode dar asas à imaginação, ao pensamento, ou sonhar seus próprios sonhos, ou mesmo dedicar-se ainda ao culto da ciência, à criação artística. Com o individualismo, nasce inclusive o amor sexual do indivíduo, o amor que encontra sua satisfação na união e no convívio com um só indivíduo determinado do sexo oposto. O patrimônio que se baseia nesse amor sexual recíproco também exige, de qualquer forma, um lar, para garantir sua existência”. 

Na última página do livro citado, na pág. 586, Kautsky conclui: “assim sendo, o socialismo não sufocará o desejo de posse de um lar próprio, um desejo que venha a manifestar-se por parte de toda e qualquer personalidade plenamente desenvolvida, mas irá generalizar esse desejo, procurando criar primeiro os meios que serão capazes de satisfazer esse desejo universalmente”.

No último parágrafo, Kautsky ainda elogia as casas de campo, dizendo: “as casas de campo construídas no passado pelos camponeses suíços e russos, por exemplo, se caracterizavam por um estilo que continua encantando os arquitetos modernos. Essa arte camponesa continua viva nos palacetes urbanos, enquanto nas sedes das propriedades agrícolas já não se constroem mais esses modelos praticamente em extinção. Basta, porém, que o camponês volte a enriquecer e a dispor de mais tempo de lazer para tornar-se novamente um artista”.