Rádio Nacional, nossa BBC, criação de Getúlio. Mídia nacional, pública

Colhi este texto do jornal Hora do povo – “Quando o presidente Getúlio Vargas encampou como patrimônio do Estado a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em 19 de abril de 1940, percebendo o enorme potencial do rádio como meio a ser utilizado no interesse nacional e educativo, e decidido a fazer desse instrumento o mais importante pólo aglutinador em um país de dimensões continentais, de variados sotaques e costumes e ricas manifestações artísticas, o Brasil não sabia que presenciava um dos mais importantes momentos de sua história cultural. A Rádio Nacional, nos moldes idealizado por Getúlio e colocado em prática por seus diretores, foi uma verdadeira revolução na consolidação da nossa identidade nacional.

Atingindo todos os rincões do país, e ainda EUA, Europa e Ásia, a partir da instalação, em dezembro de 1942, das ondas curtas e cinco antenas RCA Victor, a Rádio Nacional espraiou-se como unificadora e divulgadora da diversidade da nossa cultura e da própria língua que falamos, sem deixar perder o variado e colorido sotaque de nossas regiões.

Com o investimento do governo e a veia nacional e popular de sua programação, a rádio atrai a seu potente transmissor os melhores técnicos e o melhor elenco, influenciando por sua vez todas as rádios do país, e tornando-se uma das cinco maiores emissoras do mundo. Em seus 50 KW de alcance – o máximo que as outras alcançavam na época era 26 KW – estava lançada a “Era do Rádio”, um dos mais importantes fenômenos culturais do país.

Muitos nomes passaram pela Rádio Nacional e uniram suas vozes às vozes de todo o Brasil. Ary Barroso, Emilinha Borba, Mário Lago, Silvio Caldas, Marlene, Elza Soares, Almirante, Aracy de Almeida, Lamartine Babo, Dalva de Oliveira, entre tantos outros, cantavam, compunham, contavam piadas, inventavam causos, que eram transmitidos para todo o Brasil. O samba, por exemplo, em sua manifestação urbana, àquela época restrito ao Rio de Janeiro, com a Rádio Nacional, se tornou um ritmo brasileiro. No Ceará ou na Bahia ouvia-se, para muitos pela primeira vez, os sons dengosos de Emilinha Borba, a ginga de Aracy de Almeida, o vôo das vozes de Vicente Celestino e Ângela Maria, ou uma composição genial de Noel Rosa ou Silas de Oliveira. Uma crônica de Ary Barroso, um comentário sobre futebol, a “Aquarela do Brasil”. Por outro lado, o baião, o xote, o maxixe, até aquele momento reservado ao Nordeste, passou a ser ouvido e dançado no Rio de Janeiro ou São Paulo. As regiões acrescentavam-se, os ritmos se enriqueciam, nasciam parcerias, o país unia suas falas”.