O Projeto Popular de Stédile, do MST, da Via Camponesa, Democracia Popular

Para ilustrar como o Projeto de uma Democracia Popular, de Democracia econômica do povo, é o Projeto também da Teologia da Libertação, sendo o projeto do MST, basta a transcrição de uma entrevista de Stédile, a principal liderança do MST, na Uol Notícias, onde faz uma análise das correntes políticas do Brasil:

UOL Notícias – É possível pensar em um projeto de esquerda para o Brasil, ou vislumbrar uma sociedade mais justa e igualitária, por meio das instituições democráticas que temos hoje?

Stédile – Claro. Há um debate na sociedade que se aglutina em quatro campos:

1) alguns setores das elites, das classes dominantes, defendem a subordinação total do Brasil ao capital internacional. Aí estão os 5% mais ricos, as empresas transnacionais, os bancos, que são os que defendem políticas neoliberais e que, nos partidos, tem sua expressão, sobretudo, entre os tucanos e entre o DEM;

2) temos um setor nacionalista, que está presente em todos os partidos, que defende um projeto “neo-keynesiano” para o Brasil, com algumas políticas de distribuição de renda, redução da taxa de juros e fortalecimento do mercado interno; (…)

4) Nós, dos movimentos sociais, defendemos um quarto projeto, que chamamos de projeto popular, que é, nos marcos da nossa sociedade, fortalecermos de fato o Estado para que ele adote uma política econômica que leve ao desenvolvimento do país em benefício do povo. Quais são os problemas fundamentais do povo no Brasil? Desemprego alto, falta de moradia, necessidade de reforma agrária e ausência de educação. Então, [nós defendemos] um programa para a sociedade que coloque o dinheiro público como prioridade para resolver os problemas do povo. Mas não basta colocar no papel “esse é o nosso projeto”. É preciso construir, acumular forças populares que atuem para a implementação desse projeto”.

O “projeto popular” significa pautar tudo “em benefício do povo”. Este é o caminho para um socialismo popular, uma democracia popular verdadeira. Vejamos:

UOL Notícias – Esse projeto popular é um caminho para uma sociedade socialista?

Stédile – Ele é fundamental. Ele seria uma espécie de transição para nós construirmos uma sociedade mais igualitária. Primeiro vamos resolver os problemas fundamentais da população. Que é comida, trabalho, moradia e educação. Depois, podemos avançar para a socialização de outros meios de produção da nossa sociedade”.

Para chegar a uma sociedade solidária e fraterna, um item essencial é a reforma agrária, que deve ser feita nos moldes seguintes:

UOL Notícias – Qual é o modelo de reforma agrária defendido hoje pelo MST?

Stédile – Na história das reformas agrárias, há dois tipos clássicos. Primeiro, a reforma agrária capitalista, que todos os países do hemisfério norte fizeram entre a metade do século 19 e ao longo do século 20 até a Segunda Guerra Mundial. E eles fizeram as reformas agrárias clássicas capitalistas distribuindo a propriedade da terra para fortalecer o mercado interno e desenvolver a indústria nacional. Depois houve uma outra reforma agrária clássica, que aconteceu no bojo de revoluções socialistas, ou de revoluções populares, como no Vietnã, China, Rússia, Nicarágua e Cuba.

(…) 
O que nós propomos é uma reforma agrária que chamamos de popular, que se diferencia das duas. Nessa reforma não basta distribuir terra, como na reforma capitalista. É necessário também desenvolver agroindústrias na forma cooperativa, criar pequenas agroindústrias nos assentamentos. Assim, o agricultor sai mais rápido da pobreza, porque daí ele não vai só produzir matéria prima, mas também se apropriar do valor agregado dos produtos e gerar emprego no meio rural.
Fonte: UOL Notícias”.

Em outras palavras, distribuir bens, DISTRIBUTISMO, especialmente terras, desenvolver agroindústrias na forma cooperativa, criar pequenas agroindústrias para dar valor agregado às matérias primas, industrializar o interior, unindo o campo à cidade, difundindo a cidade, como queria o grande urbanista espanhol que bolou a ideia das cidades-lineares, ao longo de ferrovias (Projeto Arturo Soria y Mata).

Conclusão: o programa do MST é uma concretização do programa da doutrina social da Igreja, pois visa uma democracia popular, sendo o mesmo programa da Via Campesina. Este programa expressa as linhas gerais do ideal social histórico da Igreja, a meu ver.