Os bispos católicos da Nicarágua ensinam que socialismo participativo, economia mista, é um bom modelo de economia

Os Bispos da Nicarágua, na “Carta pastoral de 17 de novembro de 1979”, distinguiram várias formas de socialismo. Deixaram claro que há formas de socialismo conformes à doutrina da Igreja:

“Se, como alguns pensam, o socialismo se desvirtua usurpando aos homens e aos povos sua condição de protagonistas livres de sua história; se pretende submeter o povo cegamente às manipulações e imposições dos que detêm arbitrariamente o poder, não podemos aceitar esse socialismo espúrio e falso.

Muito menos poderíamos aceitar um socialismo exorbitante que pretendesse arrebatar ao homem o direito às motivações religiosas de sua vida, assim como o direito de expressar publicamente suas motivações e suas convicções, qualquer que seja sua fé religiosa.

Igualmente inaceitável seria negar aos pais o direito de educar seus filhos segundo sua convic­ção, bem como qualquer outro direito da pessoa humana.

Se, ao contrário, socialis­mo significa, como deve significar a preeminência dos interesses da maioria dos nicaragüenses e um modelo de economia planificada nacionalmente, solidária e progressivamente participativa, nada temos a objetar.

Um projeto social que garanta o des­tino comum dos bens e recursos do país e permita que, sobre esta base de satisfa­ção das necessidades fundamentais de todos, se assegure a qualidade humana da vida, parece-nos justo. Se socialismo implica numa redução das injustiças, das tradicionais desigualdades entre as cidades e o campo, entre a remuneração do trabalho intelectual e manual, se significa participação do trabalhador nos resultados de seu traba­lho, superando a alienação econômica, nada há no cristianismo que implique em contradição com tal processo”.

Somente há socialismo e democracia quando as pessoas são “protagonistas livres de sua história”, onde há libertação. Sem isso, trata-se de um “socialismo espúrio e falso”, tal como uma oligarquia disfarçada.

A síntese dos bispos da Nicarágua é correta: um modelo com “economia planificada nacionalmente, solidária e progressivamente participativa”, com economia mista, que assegure “o destino comum dos bens e recursos do país”, tendo como base fundamental a “satisfação das necessidades fundamentais de todos”, “parece-nos justo”.

Pelo trabalho e pelas relações fraternas e cooperativas, participamos como co-criadores, do processo da criação/renovação. Por isso, Maritain, em “Arte e Escolástica”, tal como Alceu, explicava que o artista, como todo trabalhador, é um continuador da obra de Deus; toda arte é fabricadora e criadora, melhorando o mundo, em cooperação com a ação divina. O artista, tal como todos os trabalhadores, é “um sócio de Deus”, que, usando a matéria criada, sobre ela torna a criar, por assim dizer, em segundo grau.

Conclusão: o protagonismo dos oprimidos, o controle consciente das pessoas sobre o processo produtivo e reprodutivo (tal como das estruturas sociais, políticas, estatais etc), é o ideal da teologia da libertação e da ética cristã e natural. Este ideal, dentro do processo histórico, assume a forma positiva de uma democracia popular, social, participativa, também chamada de “socialismo participativo”, como bem expôs Marciano Vidal.