O evolucionismo ético católico

O padre católico Saint-George Mivart (n. em Paris, em 1818) foi, durante vários anos, amigo pessoal de Darwin. O padre Mivart escreveu obras evolucionistas, como “Gênese das espécies”, “Evolução contemporânea” e “Origem da espécie humana”. Mivart dizia que o Papa Leão XIII nunca o incomodou e que o catolicismo admitia o evolucionismo, com amparo nos textos de Agostinho, Aquino e de Suárez. Darwin teve problemas com a Igreja anglicana, em Londres. 

O padre Mivart rejeitava a tese praticamente “liberal” na evolução, ou seja, não admitia que o “acaso” (o mercado dos liberais) produzisse a evolução. Afinal, a evolução pressupõe uma Inteligência planejadora, que dirige o cosmos e o processo histórico, no sentido da melhoria gradual.

Mivart admitia um Plano Providencial, a ação planejada de Deus, que tudo move, move a história e move a natureza em geral. Os seres humanos, criados à imagem da Trindade, também devem se mover por bons planos racionais e sociais em adequação ao bem geral, gerados pelo diálogo. O movimento evolutivo exige formas amplas de planejamento público participativo, para que o bem comum seja mantido, protegido, ampliado e promovido.

O evolucionismo cristão é baseado na consciência, em planos, tanto divinos quanto humanos. Este era também o evolucionismo de um Santo Agostinho, que, em seus comentários ao “Genêsis”, descreve as “sementes” (“germes”, praticamente o DNA) presentes na matéria.

O evolucionismo foi ampliado por autores cristãos como Buffon, Lamarck, Curvier (suas descobertas), Herder, Hegel, Mendel e outros. Até mesmo o evolucionismo monista de Haeckel (1834-1919), autor apreciado por Lênin, tinha fundo panteísta, religioso (o mesmo ocorria com os textos de Camilo Flamarion, em “Deus e a natureza, ed. Feb, 1987). Haeckel escreveu obras demonstrando a compatibilidade entre a ciência e a religião. O velho Haeckel cometeu vários erros gravíssimos de panteísmo, mas tinha efetivamente religiosidade (no Brasil, Graça Aranha e outros eram próximos destas idéias panteístas).

Para deixar clara a ligação entre evolucionismo e religião, basta lembrar que a teoria principal do evolucionismo, a teoria do “Bing bang”, deve-se principalmente a um padre, o padre Georges Henri Lemaitre (n. 1894). Lemaitre foi um sacerdote belga, presidente da Academia Pontifícia de ciências desde 1960, o que mostra praticamente o endosso de João XXIII ao evolucionismo.

Outro grande padre ligado ao evolucionismo é o padre Gregor Johann Mendel (1822-1884), responsável pelas descobertas principais sobre o DNA, considerado o “Pai da Genética”. Mendel era sacerdote e monge agostiniano, dando continuidade às idéias de Santo Agostinho.

O Padre Lemaitre escreveu obras como “Discussão sobre a evolução do universo” (1933) e “A hipótese do átomo primitivo” (1946), onde esboçou a teoria do universo em expansão, teoria apoiada por Einstein. O próprio Einstein, quando ouviu, no Observatório de Monte Wilson, a exposição de Lemaitre, disse: “esta é a mais bela e a mais satisfatória teoria da criação que já ouvi”.