A Igreja e Sêneca, amplas ligações

O apreço da Igreja por Sêneca (4 a.C-65 d.C.) também é conhecido e houve inclusive a alegação que Sêneca e São Paulo mantinham correspondência (há “Cartas” entre os dois, que devem ser montagem, mas são indícios de ligações). Afinal, São Paulo conheceu o irmão de Sêneca, Galião, em 52 d.C., em Corinto, cidade em que ficou por um ano (vide AT 18,12-17). Galião mandou libertar São Paulo da prisão. Sêneca foi morto por Nero em 65 d.C., em data bem próxima do assassinato de São Pedro e São Paulo, também em Roma.

Sêneca, São Paulo e São Pedro morreram praticamente na mesma data e os três em Roma, por ordens de Nero, o que também é extremamente sintomático e relevante. Sêneca, ao lado de pessoas corajosas como Epicharis (uma mulher), teria participado da conspiração de Pisão, contra Nero. Há historiadores que dizem que a esposa de Sêneca, pela qual ele cometeu suicídio, para poupar a esposa, era cristã. 

Lembro que Diderot morreu como discípulo de Sêneca, teísta, panteísta, tendo escrito duas obras sobre Sêneca, pouco antes de morrer. 

São Jerônimo, no livro “De viris illustribus” (“Dos varões ilustres”, XII), diz que “Lucius Annaeus Sêneca, de Córdoba [Espanha], …, levou uma vida totalmente continente”, merecendo ser posto “no catálogo dos santos”. No livro “Comentário sobre Isaías” (IV, 9 e 11), São Jerônimo ressalta que “os estóicos” “estão de acordo com nosso pensamento [nostro dogmati] sobre a maioria das coisas” (“stoici nostro dogmati in plerisque concordant”).

Tertuliano, bastante influenciado pelo estoicismo, também diz que Sêneca é “frequentemente nosso” (cf. “De anima”, 20,1). A adesão de Tertuliano às idéias éticas do estoicismo fica clara inclusive na adoção do traducianismo, a ideia estoica que a alma dos filhos vem da alma dos pais, como um ramo (“tradux”, em latim) da árvore mãe.