O pensamento cristão de Silva Jardim – democracia popular, Estado social

Para ilustrar a proximidade da militância política entre positivistas e católicos (atestada por Ivan Lins e exemplificada especialmente por Teixeira Mendes), basta ver o caso de Silva Jardim (1860-1891, morrendo nas lavas do Vesúvio).

Jardim foi coroinha aos doze anos e queria ser sacerdote. Sobre suas idéias políticas, nada melhor que as próprias palavras de Jardim, colhido do livro de Maurício Vinhas de Queiroz, “Paixão e morte de Silva Jardim” (Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, 1967, p. 25):

“A República caracteriza-se pelo governo da opinião pública [das idéias da sociedade, correlatas às necessidades], à qual obedece o magistrado supremo da nação, (…), pela fraternidade como princípio dominante que aproxima pelo amor a política da moral, e que estabelece a ascendência desta, pelo respeito às leis artificiais, resultantes das leis naturais; pelo desenvolvimento da instrução popular, pelo regime do trabalho e da paz, pela elevação dos fracos, dos desprotegidos, dessa enorme massa do proletariado, até agora não domiciliada, acampada, sim, na sociedade moderna”.

Na p. 21 do livro de Vinhas de Queiroz, este escreveu: “No seu livro de memórias, [Silva Jardim] dá uma relação das obras que mais o influenciaram”, explicitando as fontes cristãs de suas idéias políticas: as de Comte, a quem denominava “mestre imortal”; a Bíblia; a “Imitação de Cristo”, de Thomas Kempis e algumas obras de Condorcet, de Leon Donat (“Política experimental”) e o livro “A República Federal”, de Assis Brasil (cristão, inclusive com capela em casa, como tinha o Barão do Rio Branco).

Da mesma forma, os textos de Clóvis Bevilacqua, filho de um padre casado, também adotam a tese cristã da ascendência da ética (da moral) sobre a política e o Estado. Em outras palavras, a política e o Estado devem ser racionais e pautadas pelo bem comum.