A Igreja condenou o quietismo e o jansenismo, pois é otimista sobre o ser humano

A Igreja condenou expressamente o quietismo (os erros de Miguel de Molinos), o jansenismo e outras formas de desprezo da razão (inclusive formas de oração que recomendam “esvaziar” a mente, procedimento perigoso até para a saúde mental).

Nas 68 proposições quietistas condenadas, em 28.08.1687 e 20.11.1687, ficam claras, pela inversão das proposições (regra lógica correta), as seguintes verdades: o ser humano não deve anular suas “faculdades”, deve “operar ativamente” no trabalho de união com Deus (de cooperação com o poder), não deve ser “um corpo exânime”.

A “atividade natural” não “é inimiga da graça”, não “impede as operações de Deus”, a “perfeição”, pois “Deus quer operar em nós”, com “nós”.

A alma não deve ser aniquilar, deve ficar cheia de “luz”, “amor”, deve “conhecer a Deus”. A alma deve se “lembrar” “de si”, com “reflexão”, buscando formas de “procedermos” “retamente”. Cada um deve cultivar “virtudes”, “santidade”, “perfeição”, com “preocupação”.

É correto “pedir a Deus coisas”, ter “escolha própria”, “render graças”. É um dever da pessoa “exercitar” “atividade”, melhorar a natureza, usar “formas exteriores”, “conceitos próprios”, usando “a razão”, argumentos, “o intelecto”, para tentar “compreender”. É correto usar “o raciocínio”, “pensamentos”, “atividades”, “leitura”, “meditação”, a via “purificativa”.

Em 07.12.1690, a Igreja condenou outras trinta e uma proposições com erros dos jansenistas, especialmente o erro do tuciorismo. Este documento é como que o portal do século XVIII, das luzes.

O documento referido deixa claro que Cristo (Deus) opera mesmo entre os “pagãos, judeus, hereges e outros congêneres”, que recebem “influxo” divino, recebem também a “graça suficiente”, podendo se salvar, usando a razão (cooperando com a graça).

Reconhece que a “ignorância invencível do direto natural” justifica o pecado, impede a punição, pois só há pecado quando a pessoa tem consciência do ilícito e infringe a regra natural na consciência, agindo contra a consciência.

O documento valoriza a “atrição”, ou seja, valoriza a consciência, o mundo, a natureza, a vida. Recomenda a comunhão mesmo quando “o amor” a “Deus” não é “livre” de “mistura”, de erros.

No breve “Cum alias ad apostolatus” (12.03.1699), outros erros quietistas foram condenados, os erros de Madame Guyon.

Na Constituição “Vineam domini Sabaoth” (16.07.1705), há novamente outra condenação, repetida na Constituição “Unigenitus Dei Filius” (08.09.1713), contra os erros de Antônio Arnauld e de Pasquier Quesnel.

Com essas e outras condenações ao quietismo e ao jansenismo, a Igreja preparou o caminho de Rousseau.

O próprio Rousseau, na carta ao Arcebispo de Paris, lembra que suas idéias coincidem com a do Arcebispo contra os erros do jansenismo. No Brasil e em Portugal, por dezenas e dezenas de anos, fomos contaminados com erros jansenistas, transmitidos por alguns tópicos do “Catecismo de Montpellier”